Prof. Dr. João Eduardo Irion
A DESCOBERTA DOS RAIOS X
PESQUISAS ANTECESSORAS
Para a produção de raios X é
preciso existir condução de eletricidade em gases rarefeitos. Esse fato remete
o início dessa história para o século XVII, a partir das primeiras experiências
sobre pressão atmosférica realizadas, em 1643, pelo italiano Evangelista
Torricelli e logo depois, em 1646, pelo francês Blaise Pascal.
A primeira bomba de vácuo foi
concebida por Otto von Guericke por volta de 1650. Foi com o ar
rarefeito que esse cientista obteve importantes resultados relacionados à
propagação do som e realizou, ao ar livre, a conhecida “experiência dos
hemisférios de Magdeburgo”, por ocasião do Congresso Imperial de Ratisbon na
Alemanha, em 1654. Nessa ocasião, Guericke tornou evidente o valor da pressão
atmosférica. Com a bomba, Guericke retirou o ar dos dois hemisférios
mantendo-os encaixados e, então, duas parelhas compostas de oito cavalos não
conseguiram separá-los devido ao peso da atmosfera, mas separavam-se facilmente
quando o ar voltava ao seu interior.
Em 1657, o químico inglês Robert Boyle com a ajuda de seu conterrâneo, o
físico Robert Hooke, aperfeiçoou uma bomba de vácuo, conseguindo pressão a 102
Pascais”[1].
Quase dois séculos se passaram
até que Michale Faraday, em 1833, aperfeiçoasse a bomba de vácuo Boyle-Guericke
e realizasse as primeiras observações sobre a condução de eletricidade nos
gases, verificando que a rarefação favorecia a produção de faíscas elétricas.
Por mais dois séculos, as pesquisas permaneceram estacionadas porque
enfrentavam dois obstáculos: um deles era a criação de uma bomba de vácuo mais
eficiente e outro era a dificuldade de fundir vidro com metal, causada pelos
diferentes coeficientes de dilatação de um e outro. A fusão vidro com metal era
a condição indispensável para a construção de ampolas de vidro fechadas e
dotadas de eletródios metálicos.
Em 1855, o físico alemão Johann Henrich Wilherm Geissler superou as
dificuldades: ele dominava a técnica de sopro de cristais e conseguiu
desenvolver a técnica de soldagem entre vidro e metais e, ainda mais, construiu
uma bomba de vácuo sem partes móveis que produzia vácuo pelo movimento de uma
coluna de mercúrio.
Com esses avanços, Geissler passou a fabricar ampolas contendo eletródios
metálicos e com pressão da ordem de 40 mm de Hg (ou 10-4 atmosfera
equivalente 10 Pascais). Com essa pressão a passagem da corrente elétrica em
tubos produz luz, cujas cores dependem do gás usado no seu interior e da tensão
elétrica aplicada entre os eletródios. Essas lâmpadas são conhecidas como tubos
de Geissler e, popularmente, são chamadas lâmpadas de gás néon, usadas em
anúncios luminosos.
Geissler observou que, independentemente do gás usado, o vidro da ampola na
área do tubo situada na frente do catódio mostrava fluorescência sempre com a
mesma cor, deduzindo que o catódio era a fonte de uma radiação cuja natureza
não soube determinar.
Em 1859, o físico e matemático alemão Julius Plücker demonstrou que os
raios produzidos em tubos de Geisller eram desviados por um campo magnético. A
seguir Hertz mostrou que esses raios atravessavam lâminas delgadas de metal
quando estavam colocadas no interior do tubo na frente do catódio. Mais tarde,
em 1869, o químico e físico alemão Johann Wilherm Hitorff provou que esses
raios tinham trajetória retilínea e os chamou de “raios de brilho”.
Em 1876, o físico alemão Eugen Goldstein denominou os raios observados
nos tubos de Geissler de raios catódios (kathodenshtrahlen).
A seguir, em 1875, o físico inglês Sir William Crookes aperfeiçoou a
bomba e conseguiu fabricar tubos de alto vácuo, que foram chamados “ovos elétricos” ou “tubos de Crookes”, nos quais a pressão era 75.000 vezes menor que o
vácuo dos tubos de Geisller ou equivalente a 1 Pascal[2].
Em 1879, Crookes denominou os raios catódios de “matéria radiante” e, depois, Jean Perrin, físico francês,
demonstrou a carga negativa desses raios.
Em 1982, Lenard criou um tubo com perfuração no vidro, na parte oposta ao
catódio e vedou a abertura com delgada lâmina de alumínio. Com essa ampola, ele
descobriu que os raios catódios ultrapassavam a lâmina e podiam ser detectados
fora do tubo, percorrendo pequena distância no ar. Essa radiação foi chamada de
“raios de Lenard”.
Em 1895, o físico alemão Eugen Goldstein usou tubos de Crookes com
perfurações no catódio e descobriu que por elas passavam raios de carga
positiva cuja trajetória era oposta à dos raios catódios e os chamou de “raios canais”, "Kanalstrahlen”.
Em 1907, com
hidrogênio em ampolas desse tipo, os raios canais levaram à descoberta do
próton.
Sir Joseph John Thomson, em 1897, demonstrou que os raios catódios eram
elétrons e determinou a relação entre a carga e a massa dessas partículas.
Foi com um tubo de Crookes que, em 1895, Wilherm Conrad[3]
Roentgen, físico alemão, descobriu os raios X,
Em resumo: os tubos de Geissler originaram os tubos de Hitorff e de
Crookes. Nesse último foram descobertos os raios catódios, os elétrons, os
raios canais, o próton, os raios de Lenard e os raios X. Conclui-se que nesses
três tipos de ampolas está o ponto de partida da Física Atômica e da Física
Quântica.
ANTECEDENTES
Um ano antes de descobrir os raios X, Roentgen, num discurso que fez na
Universidade de Würzburg, citou F. Z. Kishner que foi um professor de filosofia
da mesma Universidade, no século XVII. Naquela época, esse filósofo disse
profeticamente:
“Muitas vezes a natureza revela
milagres espantosos que nascem das observações simples, mas só são conhecidas
por aqueles que possuem sagacidade e agudeza investigativa e consultam a
experiência, mestra de todo conhecimento”.
A análise da citação mostra, no início, a definição do que hoje se
conhece pela palavra serendipidade e
deixa claro que não se deve ao acaso a descoberta dos raios X. O fim da frase serve
para definir as qualidades de um cientista, tal qual foi Roentgen.
Quando Pasteur disse: “O acaso só
favorece mentes privilegiadas,” afirmou que “acaso” não existe na ciência porque os fenômenos naturais se
repetem e somente são entendidos se forem observados por cientistas na
verdadeira acepção da palavra.
Veremos a seguir que, no fim do século XIX, a descoberta dos raios X
estava, como se diz popularmente, “caindo de madura”. A descoberta só não
aconteceu antes porque faltou sagacidade e o espírito investigativo para vários
cientistas competentes e de renome que deixaram passar as oportunidades
oferecidas pela natureza. Se não fosse Roentgen com suas qualidades de
pesquisador, os raios X permaneceriam ocultos, não se pode imaginar por quanto
tempo.
As oportunidades perdidas foram: em 1890, trabalhando com raios catódios
Crookes notou que suas chapas fotográficas muitas vezes estavam veladas. Ele
reclamou, e o fabricante, a Ilford Company, substituiu as chapas. Como o
fenômeno e a reclamação se repetiram, o fabricante afirmou que o problema não
era das chapas, sugerindo que a causa residia no laboratório. Crookes não
seguiu a sugestão e não investigou.
Johnson, Goldstein, Hittrorf e Lenard observaram efeitos semelhantes nas
chapas fotográficas e, além disso, constataram a fluorescência de sais próximos
das ampolas nos momentos da descarga elétrica, sem que, no entanto, procurassem
explicações para os dois fatos.
Em 22 de fevereiro de 1890, na Universidade da Pensilvânia, Arthur Willis
Goodspeed e William Jennings deixaram acidentalmente duas moedas sobre chapas
fotográficas durante experiências com raios catódios e depararam com uma
misteriosa fotografia das moedas quando as chapas foram reveladas Eles não
atinaram com a origem do fato e só entenderam o ocorrido depois que tomaram
conhecimento da descoberta de Roentgen.
As três histórias retratam a ação dos raios X sobre chapas fotográficas e
écrans produzida durante experiências com raios catódios. Depois da comunicação
de Roentgen, fatos como esses levaram muitas pessoas, em vários países, a
alegar serem os verdadeiros descobridores dos raios X, principalmente, Philipp
Lenard que se considerava o legítimo descobridor da nova radiação.
A DESCOBERTA
Quem descobriu os raios X foi o físico alemão Wilhelm Conrad Roentgen,
Diretor do Instituto de Física da Universidade de Würzburg. Não se conhece bem
a história da descoberta porque, infelizmente, por determinação de Roentgen, a
maior parte de seus manuscritos, anotações e correspondências, foram destruídos
após sua morte. Entre as fontes de informações que restaram está a entrevista
que Roentgen deu, em seu laboratório na Universidade, ao jornalista americano
da revista McClure’s Magazine chamado Henry J. W. Dam e que fora enviado à
Alemanha em fins de janeiro de 1896. A revista publicou em abril a reportagem
com a manchete “A nova maravilha em
fotografia”.
O teor de um trecho da entrevista permite a dedução de que Roentgen
conhecia os fatos relacionados com o
velamento de chapas fotográficas e a fluorescência de materiais durante a
descarga de raios catódios que aconteceram com Crookes e Lenard e outros porque
ele disse a Dam:
“Eu estava interessado há muito
tempo no problema dos raios catódios em tubos de vácuo estudados por Hertz e
Lenard. Eu havia seguido suas pesquisas e a de outros, (grifo deste autor), com grande interesse e decidira que
logo que tivesse tempo faria algumas pesquisas próprias”.
A descoberta dos raios X começou nos meados de 1895, época em que
Roentgen recebeu tubos de Crookes para realizar as experiências que planejara,
mas iniciou-as de fato no final de outubro de 1895. Era costume dos cientistas
da época, e também de Roentgen, iniciar novas pesquisas repetindo as
experiências feitas por outros. É possível que Roentgen, meticuloso como era,
tenha iniciado os trabalhos da forma convencional e assim não se sabe quantos
dias decorreram entre o começo da investigação e a descoberta dos raios X.
Sabe-se o dia da descoberta porque Roentgen declarou na entrevista que descobriu
os raios X na noite de sexta-feira, dia 8 de novembro de 1895.
Sabe-se também, por declaração de Roentgen. que o fato aconteceu altas
horas quando já não estavam no laboratório seus auxiliares. Na experiência, ele
usava um tubo de Crookes coberto com papel preto e nas proximidades estava um
cartão coberto com sais de platino-cianeto de bário. Quando Roentgen ligou a
alta tensão no aparelho de descargas (assim era como ele se referia aos tubos
de raios catódios), chamou-lhe a atenção a fluorescência de um écran coberto
com platino-cianeto do bário que estava longe do tubo.
Na entrevista, Roentgen descreve assim a descoberta:
“Eu estava trabalhando com um tubo
de Crookes coberto com uma blindagem de papelão preto. Um pedaço de papel com
platino-cianeto de bário estava lá na mesa. Eu tinha passado uma corrente pelo
tubo e notei um linha preta peculiar no papel”. A seguir prossegue : “O feito era algo que só poderia ser
produzido, em linguagem comum, pela passagem de luz. Nenhuma luz poderia provir
do tubo, pois a blindagem que o cobria era opaca a qualquer luz conhecida, mesmo
a do arco elétrico.”
Então o repórter perguntou:
“E o que o senhor pensou?”
Roentgen respondeu:
“Eu não pensei: eu investiguei. Concluí que estavam saindo raios do tubo
que tinham um efeito luminescente sobre o papel pintado com o platino-cianeto
de bário. Testei com sucesso a distâncias maiores até mesmo dois metros. Ele
parecia, inicialmente, um novo tipo de luz invisível. Era claramente algo novo,
não registrado”.
Depois do dia 8, Roentgen disse a seu amigo Bovery:
“Descobri algo interessante, mas
não sei se minha observação está ou não correta”.
Bem mais tarde, numa carta
enviada a seu assistente Ludwig Zehnder ele disse:
“Para minha esposa mencionei apenas que eu estava fazendo algo sobre o
qual as pessoas, quando descobrissem, iriam dizer: Roentgen provavelmente
enlouqueceu”.
Por sua vez, sua esposa Anna
Bertha, em uma carta datada de 4 de março de 1896, escreveu:
“Quando Willi me contou em novembro que estava trabalhando em um
problema interessante, não tínhamos ideia sobre como a coisa seria recebida”.
Roentgen não contou a mais
ninguém, nem mesmo a seus assistentes, o que acontecera e o que estava fazendo.
Encerrou-se no laboratório onde comia e dormia e, por várias semanas, estudou a
nova radiação para diferencia-la da luz visível, dos raios ultravioletas, dos
raios de Lenard e dos raios catódios. Uma vez convencido que descobrira um novo
tipo de raios, chamou-os de rais-X, X-strahlen por desconhecer sua natureza.
Durante semanas ele estudou as
propriedades dos novos raios descobrindo, entre elas, que os raios se
propagavam em linha reta, que os raios não eram refletidos e nem refratados ou
desviados por lentes, que eles provocavam fluorescência em certas substâncias,
que eles impressionavam chapas fotográficas e, prinicipalmente, que atravessavam
materiais, inclusive a carne, e que a transparência das substâncias estava
relacionada à espessura do material e a sua densidade e não ao estado químico.
Durante a pesquisa, Roentgen radiografou vários objetos entre eles uma
bússola, uma caixa de madeira contendo pesos de metal e o cano de uma e
espingarda no qual havia uma rachadura, evidenciando a utilidade da descoberta no controle de
qualidade da indústria especialmene na metalurgia[4].
No dia 25 de novembro, mostrou
a sua mulher Anna Bertha o que estava fazendo. Nessa ocasião, fez a primeira
radiografia de um ser humano: a radiografia da mão esquerda da esposa. Assim
mostrou o caminho para o uso dos raios X em medicina.
No Natal de 1895, Roentgen
concluiu seu trabalho redigindo uma comunicação na qual descreveu as
propriedades dos raios X com tal precisão que depois de apresentado à
comunidade científica nada de novo foi descoberto sobre a natureza e as
propriedades desses raios. O artigo
original sobre a descoberta levou o título "Ueber Eine Neue Art von Strahlen” que traduzido significa “Sobre uma nova espécie de Raios".
Roentgen levou em mãos o
original ao Presidente da Sociedade de Física e Medicina de Würzburg no dia 28
de dezembro e o convenceu da necessidade de publicação imediata na revista da
Sociedade, mesmo sem aprovação prévia da Comissão Editorial e sem apresentá-lo
em uma reunião da Sociedade como era normal. O trabalho foi publicado, sem
ilustrações, na Alemanha, em 5 de janeiro 1896, e sua tradução para o inglês
foi publicada em Londres, pela revista Nature, no mesmo dia da apresentação de
Roentgen à Sociedade de Física e Medicina. Seguiram-se as publicações na França
em 8 de fevereiro pela revista L’Eclairage Electrique e nos Estados Unidos pela
revista Science em 14 de fevereiro [5]. Logo depois foram publicados artigos sobre a descoberta no
“Frankfurter Zeitung” de Frankfurt, no “The Electrical Engineer” de Nova York,
no “Wuerzburger Anzeiger” de Würzburg, no “The Electrician”, no “Lancet” and
“British Medical Journal” de Londres, no “Le Matin”, de Paris no “Times” e no
“Science” de Nova York e no “La Settimana” de Florença.
Antes que revista fosse editada, Roentgen conseguiu
a impressão de separatas e, assim, já no dia 1º de janeiro as estava enviando
pelo correio para noventa e dois cientistas do mundo com os quais se
correspondia e que eram ao
mais importantes e influentes Físicos e Médicos Europeus e Americanos da época[6]. O dossiê a eles enviado constava de
cópia de sua comunicação, acompanhada de cópias de radiografias. Ele entregou
pessoalmente o dossiê para os colegas da região. Já em 8 de Janeiro, Roentgen
estava recebendo telegramas de cientistas cumprimentando-o, pedindo informações
e remessa de radiografias.
No sábado, 5 de Janeiro de
1896, antes mesmo da apresentação oral que Roengen faria no dia 23 à Sociedade
de Física e Medicina de Würxburg, o jornal austríaco de Viena “Neue Freie Press” noticiou a descoberta
dos raios X com a manchete “Descoberta
sensacional”.
No dia 13 de janeiro,
atendendo convite, Roentgen fez um exposição do seu trabalho para o Kaiser
Wilherlm II e para a Kaiserina. Nessa ocasião, foi condecorado com a Prussian
Order of the Crown, Second Class,
mas nesse e em outros momentos recusou receber títulos de nobreza.
No dia 23 de janeiro de 1896,
Roentgen fez a apresentação oral de sua comunicação à Sociedade de Física e
Medicina de Würzburg e, sob o aplauso dos presentes, radiografou a mão do
Presidente da Sociedade o físico Albert von Kölliker o qual, propôs que os
novos raios fossem chamados de raios de Roentgen e sua proposta foi
entusiasticamente aclamada pelos presentes.
AS PESQUISAS SEGUINTES À
DESCOBERTA
Roentgen publicou dois outros
trabalhos sobre raios X. Para continuar as pesquisas e realizá-las durante o
dia, construiu e colocou dentro de uma das salas de seu laboratório uma espécie
de cabine vedada à entrada da luz.[7]
Era uma caixa feita de zinco, dotada de uma porta de entrada, também
hermeticamente vedada à luz. A cabine tinha tamanho suficiente para conter instrumentos
e para uma pessoa permanecer em seu interior. Por dentro e na face oposta à
porta, a caixa era internamente blindada com chumbo. Na parede blindada havia
uma abertura coberta com alumínio soldado ao zinco para impedir a entrada de
luz e permitir a passagem de raios X. No exterior da caixa a 4 cm de distância
ficava o tubo de Crookes voltado para abertura coberta de alumínio. O
dispositivo permitia a realização de pesquisa no escuro com a entrada da
radiação por uma só abertura e, assim, sem que Roentgen percebesse, a blindagem
com chumbo o protegia dos efeitos da radiação.
O segundo documento “Eine neue Art von Strahlen (II
Mittheilung)”, foi
apresentado por Roentgen à Sociedade de Física e Medicina de Würzbur em 9 de março
de 1896. Esse trabalho mostra que o ar e qualquer outro gás conduz eletricidade
quando está exposto aos raios X que é o fenômeno que mais tarde ficou conhecido
como ionização do ar pela radiação. Com essa observação, Roentgen deduziu que
os raios de Lenard não eram, de fato, raios catódios fora do tubo, mas, sim,
representavam os efeitos dos raios X sobre o ar vizinho ao tubo. Nesse trabalho
Roentgen sugere a inclusão do aparelho de Tesla nos ciruitos dos equipamentos
de raios-X para melhorar seu rendimento.
O terceiro e último trabalho
sobre raios X “Weitere
Beobachtungen über die Eigenschahten der X-Strahlen”, foi apresentado em 20 de março de 1897 e relata que
qualquer substância submetida aos raios X emitem novos raios X que são
diferentes da radiação secundária resultante da dispersão do feixe principal. Nesse trabalho, ele fez uma série
de medidas sobre a opacidade de diferentes espessuras de várias substâncias.
DEPOIS DA DESCOBERTA
Após a descoberta dos raios X,
Roentgen recebeu o título de Doutor Honoris Causa em Medicina, da Universidade
de Würzburg e, atualmente, é considerado o pai da Radiologia de Diagnóstico. O
dia 8 de novembro, dia da descoberta, é considerado o Dia do Radiologista.
Devido à sua descoberta, Roentgen
foi laureado com o primeiro Nobel de Física Nobel de
Física, em 1901, concedido:
"Em
reconhecimento aos extraordinários serviços que a descoberta dos notáveis raios
que levam seu nome possibilitaram".
Roentgen doou a recompensa
monetária à sua Universidade, convicto de que a ciência deve estar a serviço da
humanidade e não a serviço do lucro, seguindo a escola científica alemã da
época. Pelo mesmo motivo, ele não patenteou a descoberta porque acreditava que
ela deveria ser patrimônio da humanidade.
Silvanus Thompson, presidente
da Roentgen Society de Londres, em 5 de novembro de 1897, na fundação dessa
Associação, disse em sua primeira manifestação no cargo:
“Nenhuma descoberta de nosso tempo, ou que de qualquer tempo foi seguida
por uma explosão imediata e universal da atividade científica”.
Entre a comunicação da
descoberta e o tempo que a notícia se difundiu pelo mundo inteiro não
decorreram mais de 15 a 20 dias. Foi uma velocidade espantosa para uma época em
que a comunicação entre continentes era feita por cabos submarinos ou navios e
a comunicação terrestre dependia de telégrafo e de trens nos países mais
avançados.
Já no primeiro semestre de
1896, Sidney Rowland, que ainda era estudante de medicina, criou a primeira revista especializada em
radiologia denominada “The Archives of Clinical Skiagraphy” com sede em Londres
cujo primeiro número foi editado em maio de 1896. Em abril de 1897, a revista
retirou do seu nome a palavra “Clinical” e passou a se chamar “The Archives of Skiagraphy”.
Em junho de 1897, mudou novamente o nome para “The Archives
of the Roentgen Ray”. Seguiram-se a fundação de The American
X-ray Journal (1897), Fortschritte auf dem Gebiete der Roentgenstrahlen (1897),
o Transactions of the American Roentgen Ray Society (1902) e o Journal
of the Röntgen Society (1904).
Além de revistas e jornais, segundo
publicou Otto Glasser no seu livro “Wilhelm Conrad Röntgen and the Early
History of Roentgen Rays”, no ano de 1896, foram publicados 49 livros e mais de
995 opúsculos versando sobre o tema (possivelmente
esses números estão abaixo da realidade porque eram resultados de uma visão
limitada a publicações na Europa e Estados Unidos).
Já foi dito nesta exposição
que, em 23 de janeiro de 1896, Kölliker propôs denominar Raios Roentgen a
radiação que seu descobridor chamara de raios X. A proposta foi universalmente
aceita, mas a denominação raios X acabou predominando possivelmente pela
facilidade de pronúncia.
Quatro dias depois da
apresentação de Roentgen em Würzburg, a Academia de Ciências de Paris fez uma
enquete para encontrar a forma de designar as imagens fornecidas pelos novos
raios. Entre as sugestões apresentadas estavam as palavras “skiagrafia”,
“skotografia”, “gravação de sombras”, “roentografia”, “nova fotografia”,
“eletro-skiagrafia”, “ixografia”, “electrografia”, “catodografia”,
“fluorografia”, “diagrafia’, “actinografia”, “picnoscopia”, “fotografia com
raios X” e outras.
Esquiagrafia é termo composto por radicais
gregos para significar “gravação de
sombras”. Foi essa denominação inicialmente adotada para as imagens, mas
foi gradativamente substituída pela palavra radiografia, e seu uso desapareceu
definitivamente por volta de 1918.
No ano de 1896, as revistas mencionadas e
muitas outras publicações de outras áreas do conhecimento como as dedicadas à
eletricidade à fotografia e outras, bem como jornais e magazines populares,
foram abarrotados pela remessa de esquiagrafias.
No meio científico, quem tinha acesso a um tubo de Crookes procurava
abrir um novo caminho para deixar sua marca na história dos raios X. Os
primeiros número de abril do The Archives of Clinical Skiagraphy mostrava
imagens do esqueleto humano, de animais marinhos[8],
de plantas e até do primeiro filme do movimento, feito com esquiagrafias da perna
de uma rã obtido por John Macintyre de Glasgow[9]. O
número de julho apresentava a primeira radiografia de corpo inteiro realizada
com uma só exposição por Willikam Moiton de Nova Iorque.
No ano de 1897, houve uma corrida para a compra de tubos de Crookes e
esgotaram-se os estoques (ainda não existiam fábricas para a venda de aparelhos
completos de raios e os usuários deviam comprar em separado cada item do equipamento). Nos
Estados Unidos a g/enerral electric publicou um catálogo com as peças para
montagem de um aparelho de raios X. Na Europa, apareceram anúncios de venda de
“kits” para qualquer pessoa montar seu equipamento e começar a gerar
esquiagrafias. Esses fatos levaram, até as primeiras décadas do século XX, ao
aparecimento de estúdios fotográficos onde as radiografias eram realizadas
indiscriminadamente. A pletora de imagens e experiências aconteceu porque grande
parte dos laboratórios das Universidades dispunha dos equipamentos mínimos para
repetir as experiências de Roentgen. Nos primeiros tempos, os médicos indicavam
radiografias, e os pacientes eram encaminhados para físicos que as realizassem,
mas logo alguns médicos aprenderam a técnica necessária e eles mesmos passaram
a realizar os exames.
. Foi assim que, além de uso médico, os raios X se tornaram motivos de
curiosidades. Houve estúdios fotográficos que faziam radiografias das mãos
entrelaçadas de noivos para servir de suvenires, a fluoroscopia era atrativo em
espetáculos, em feiras, em exposições comerciais, em festas beneficentes e por
exemplo, numa festa para fins beneficente a arrecadação de fundos era feito com
o pagamento do presentes, para apreciar o “espetáculo de Roentgen’, que
consistia na fluoroscopia das mãos. Consta que um
O uso da radiografia foi proposto para muitos fins além do uso médico em
diagnostico ou em pesquisas biológicas. Apareceram sugestões para o uso das
radiografias no controle de contrabando, no exame de pacotes nos correios, na
detecção de bombas explosivas, na distinção entre pedras preciosas e gemas
falsificadas, no controle de soldas em metais e outras.
POSTAGENS ANTERIORES
HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNÓSTICO MÉDICO – ONDAS DE CHOQUE - RUÍDO E SOM - PERCUSSÃO E AUSCULTA.HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNOSTICO MÉDICO = ONDAS DE CHOQUE - PULSO E PRESSÃO ARTERIAL.HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNÓSTICO MÉDICO – ONDAS DE CHOQUE - RUÍDO E SOM - PERCUSSÃO E AUSCULTA.HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNOSTICO MÉDICO = ONDAS DE CHOQUE - PULSO E PRESSÃO ARTERIAL.HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNÓSTICO MÉDICO = ESPECTRO ELETROMAGNÉTICO – LUZ VISÍVEL – ENDOSCOPIA.Próxima Potagem:
HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNÓSTICO MÉDICO – ESPECTRO
ELETROMAGNÉTICO = RAIOS X – SEGUNDA PARTE – REPERCUSSÃO – EVOLUÇÃO DOS TUBOS DE
RAIOS X
[1] A pressão atmosférica ao nível do mar na temperatura
de 250 é de 10+5 Pascais.
[2] As
ampolas atuais de raios x têm vácuo quase perfeito equivalente a 10-5
Pascais.
[3] A grafia
correta de Conrad é com “C” e não com “K”.
[4]
As aplicações em indústria e
outros setores da economia aconteceram já em fevereiro de 1896 como: o controlo
de qualidade na produção de produtos metálicos, a detecção de documentos e
pinturas fraudulentos, a inspeção do conteúdo de encomendas postais, o exame da
integridade de canhões do exército durante a Primeira Guerra Mundial,a análise
de pedras preciosas e de falsificações, o estudos das múmias,entre outras. A
entrada de fato dos raio X na metalurgia aconteceu em 1924 com a criação do
Laboratório do Instituto de Tecnologia de Massachussets
[5] A quinta edição da comunicação apresentava na capa a
seguinte informação: “Esta monografia
apareceu também em inglês, francês, italiano e russo”.
[6] Lord Kelvin, no dia 17 de Janeiro de 1896, enviou uma
carta a Roentgen, na qual agradeceu a atenção pelo seu envio e o felicitou pela
sua descoberta.
[7] Henry Dam descreve essa cabine em sua reportagem e
conta que esteve no seu interior quando
viu a fluorescência produzida pela radiação.
[8] O “Archives of the Röentgen Ray”, em 1897, publicou
um suplemento dedicado exclusivamente à Biologia Marinha, com trinta e seis radiografias
de animais marinhos existentes na costa Inglesa
[9] Esse filme
foi apresentado por Macintyre em uma reunião da Royal Society em junho de 1897.
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