Pesquisar este blog

segunda-feira, 22 de julho de 2013

HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNÓSTICO MÉDICO - ESPECTRO ELETROMAGNÉTICO - LUZ VISÍVEL = ENDOSCOPIA

Prof. Dr. João Eduardo Irion
INTRODUÇÃO

A visão retrospectiva da história do uso das radiações em diagnóstico mostra que a tecnologia começou a se incorporar na prática médica no início do século XIX com as tentativas de visualização dos órgãos internos que deram origem à endoscopia. Durante esse período, o progresso tecnológico que se incorporou num ritmo equivalente a passo a passo ao diagnóstico e, no fim do século, passou a avançar aos saltos a partir da descoberta dos raios X.
O uso do espectro visível no diagnóstico refere-se à endoscopia usada em várias especialidades médicas. Dizem que o termo endoscopia foi criado por Hipócrates, mas Antoine Jean Désormeaux foi quem usou pela primeira vez o termo endoscópio.
A endoscopia, no seu início, explorou cavidades naturais como a boca, o nariz, o ouvido, a uretra, a vagina, o ânus, dando origem à laringoscopia, oftalmoscopia, esofagoscopia, gastroscopia, colonoscopia, rinoscopia, broncoscopia, uretroscopia, cistoscopia e vaginoscopia. Posteriormente, a endoscopia estendeu seu campo de ação e passou a explorar cavidades fechadas mediante acessos cirúrgicos, como é o caso da laparoscopia, da toracoscopia, da artoscopia e da encefaloscopia.

ANTECEDENTES

A tentativa de ver o interior do corpo remonta à antiguidade. No Talmude Babilônico consta um aparelho fabricado com chumbo com ponta curva, o “siphopherot” (sifão), utilizado para exame do útero. Atribui-se a Hipócrates a criação de um espéculo anal. Nas ruínas de Pompeia foram encontrados espéculos para realização da endoscopia. Mais recentemente, em 1567, Tulio Caessare Aranzi descreveu em sua obra “Tumores Praeter Naturam” uma forma de iluminar cavidades.

OS PRECURSORES DA ENDOSCOPIA

A endoscopia venceu obstáculos para chegar ao estágio atual. O primeiro deles foi obter uma fonte luminosa adequada, outro foi desenvolver a tecnologia de lentes e o terceiro foi superar a rigidez dos endoscópios pioneiros.
A unanimidade dos historiadores da medicina atribui ao alemão Philipp Bozzini a primeira tentativa bem sucedida para a criação de um aparelho para exame da bexiga, faringe e reto. O aparelho criado por Bozzini (1773-1809) em Viena,. no ano de 1805, recebeu o nome de “Lichtleiter”, termo que significa “aparelho para guiar a luz”. Era uma cânula com duas vias: uma conduzia a luz de uma chama de vela e a outra servia para observar o interior do órgão examinado. Bozzini tornou público o invento em 1807, no artículo “Der Lichleiter”, formando a base das técnicas endoscópicas e por isso ele é considerado um dos pioneiros da endoscopia.
Bozzini não usou seu aparelho em seres humanos porque o decano da Faculdade de Medicina de Viena considerou seu uso uma temeridade e o proibiu.
Um segundo passo no uso da luz visível no diagnóstico foi dado por Herman Ludwig Helmholtz que inventou, em 1851, o oftalmoscópio para exame do fundo de olho.
Em 1877, Nitze produziu o primeiro cistoscópio munido de lentes e, em 1885, o francês Antoine Jean Désarmeaux construiu um cistoscópio com um sistema rudimentar de lentes e o batizou com o nome de endoscópio. Em 1854, Manoel Garcia, médico espanhol, inventou o primeiro laringoscópio. Em 1868, o professor alemão de Freiburg Adolph Kussmaul usou um cistoscópio de Désarmeaux para examinar o estômago de um faquir engolidor de espada e, para chegar ao estômago, usou um tubo metálico de 47 cm de comprimento e 1,3 cm de diâmetro e assim marcou o início da história da gastroscopia.
Vinte e quatro anos depois da invenção da lâmpada por Edson, Tuttle, em 1903, fabricou o primeiro cistoscópio munido com luz elétrica.

HISTÓRICO DA ENDOSCOPIA DIGESTIVA

O desenvolvimento da endoscopia digestiva serve de baliza para o acompanhamento das demais formas de endoscopia, porque a história dessa especialidade pode ser tomada como parâmetro para a avaliação da evolução das demais endoscopias.
Depois de Adolph Kussmaul, Max Nitze, no ano de 1879, em Viena, descreveu o primeiro endoscópio munido de um grupo de lentes. Em 1881, Johan von Mikulicz desenvolveu o primeiro gastroscópio rígido com iluminação distal após a invenção, em 1879, da lâmpada de luz incandescente por Edson.
Os gastrocópios enfrentavam a limitação de sua rigidez até 1932 quando Rudolph Schindler, de Munique, criou junto com Georg Wolf (um fabricante de instrumentos de Erlanger) o endoscópio semiflexível contendo mais de 50 lentes. Esse, depois de introduzido no estômago, era retificado para ajustar as lentes permitindo a realização do exame. Esse gastroscópio foi substituído ainda em 1955, pelo Gastroflex, criado pelo francês Charles Debray, com maior flexibilidade com diâmetro de 10 mm e com luz suficiente para a tomada de boas fotografias.
Muito antes, em 1878, Lange e Meltzing, na Alemanha, fizeram sem sucesso a primeira tentativa de criação de uma gastrocâmera. Somente em 1950 os pesquisadores da Olympus e os médicos da Universidade de Tóquio superaram os obstáculos e criaram a primeira gastrocâmera eficiente.
O avanço seguinte veio com o aparecimento da fibra ótica[1], cuja apresentação aconteceu em janeiro de 1954, na revista Nature. Em 1957, em Michigan, o Professor Basil Isaac Hirschowitz, um sul-africano naturalizado americano, usou o protótipo de gastroscópio com fibra ótica para examinar o próprio estômago. O aparelho foi lançado no mercado em 1960 e o primeiro trabalho sobre o uso do endoscópio de fibra ótica foi publicado na Revista Lancet, em agosto de 1963.
A endoscopia eletrônica (feita com videoendoscópios) começou a nascer nos Laboratórios da Bell da AT&T, em 1969, quando Boyle e Smith inventaram o CCD (charger-coupled semiconductor device). Dez anos depois, em 1979, os engenheiros da empresa Welch Allyn criaram o endoscópio eletrônico e o apresentaram no Congresso Asiático de Endoscopia do Pacífico, e logo após, a empresa Olympus também apresentou seu próprio modelo. O vídeoendoscópio permitiu melhor imagem, melhores fotos e vídeos, menor contaminação e a possibilidade de avaliação das imagens simultaneamente, por mais de um endoscopista.
A necessidade de explorar o intestino delgado, órgão com cerca de 5 metros de comprimento levou à fabricação do enteroscópio de duplo balão. O primeiro deles, fabricado pela empresa Fujino, tinha 2 metros de comprimento. Logo depois a Olympus apresentou um enteroscópio de um só balão.
O avanço final na endoscopia digestiva veio com o desenvolvimento das cápsulas endoscópicas.
O uso de cápsulas no diagnóstico remonta a 1950 quando foi criada uma cápsula para medir temperaturas e depois, em 1960, foi criada outra para medir pH.
A invenção da cápsula endoscópica se deve à associação, em 1997, do gatroenterologista inglês Paul Swain com o engenheiro eletrônico israelita Gabriel Iddan da empresa Given Imaging. Eles inventaram uma pequena cápsula para ser deglutida, montada com materiais especiais, equipada com miniaturas de bateria, emissores de luz, câmera para captura de imagens, transmissores de vídeo e circuitos eletrônicos com tecnologia de ponta para transmitir imagens a serem gravadas num receptor colocado na cintura do paciente. Durante o trajeto pelo tubo digestivo, do esôfago ao reto, a cápsula emite cerca de 60.000 imagens que ficam gravadas no receptor do qual são transferidas para visualização e analise num computador.
Em 1997, Iddan deglutiu a primeira cápsula. No ano 2000, cápsulas foram deglutidas por dez voluntários e nesse ano a revista Digest Disease Week publicou as primeiras imagens do intestino delgado. A cápsula deu origem a novo tipo de endoscopia, a capsuloendoscopia, que usa cápsulas especiais para avaliar o esôfago, o estômago, o intestino delgado e o cólon.

A ENDOSCOPIA DAS VIAS AÉREAS – DA LARINGOSCOPIA À BRONCOSCOPIA

Antes de Bozznin, em 1743, M. Levret usou um espelho feito de prata polida para refletir a luz do sol que usou para remover pólipos do nariz e da garganta.
Em 1854, Manoel Garcia, médico espanhol, inventou o primeiro laringoscópio. Seu pai era um barítono e suas irmãs eram sopranos e os três eram famosos na Europa. Manoel tentou sem êxito ser cantor e, como médico, procurou em sua garganta a causa de seu fracasso. Para isso montou um sistema de espelhos para examinar a própria garganta, criando em 1854 um laringoscópio. Para estudar a voz, Garcia dissecava laringes de cães. Garcia não ficou famoso como cantor, mas fez fama como fisiologista da voz. Em 1855, apresentou à Royal Society de Londres um trabalho sobre fisiologia da voz humana, descrevendo a ação da glote e dos mecanismos musculares capazes de modificar o timbre e a intensidade da voz.
O médico Gustav Killian é considerado o criador da broncoscopia. Em 30 de março de 1897, em Freiburg, na Alemanha, extraiu um osso de porco do brônquio de um agricultor. Para isso usou um laringoscópio de Kirstein junto com o esofagoscópio de Mikulicz– Rosenheim. Em 1898, no Congresso de Laringología, em Heilderberg, Alemanha, ele comunicou o fato, chamando sua técnica de “broncoscopia direta” que se difundiu por muitos países. Killian a seguir aperfeiçoou o laringoscópio, criou um traqueoscópio, já com uma lâmpada distal que passou a ser conhecido como traquescópio de Killian.
O desenvolvimento de fato da broncoscopia se deve ao médico laringologista americano Chevalier Jackson, cujo trabalho e grande contribuição bibliográfica foi a origem de uma escola sobre a técnica broncoscópica. Em 1907, Jackson publicou seu primeiro livro “Tracheobronchoscopy, esophagoscopy and bronchoscopy”, reeditado em 1914. Além de aperfeiçoar a técnica endoscópica. ele melhorou os equipamentos.É de sua criação o broncoscópio autônomo (assim chamado porque foi o primeiro a não necessitar de uso prévio de laringoscópio). Esse aparelho era equipado com um sistema de lentes e uma lâmpada distal. Chevalier Jakson não patenteou seus inventos para não limitar o desenvolvimento da broncoscopia. Em 1916, foi nomeado Professor de Laringología no Jefferson Medical College, onde implantou um programa de treinamento da técnica broncoscópica. Um dos aperfeiçoamentos do broncoscópio se deve a Edwin N. Broyles, discípulo de Chevalier Jackson, que criou aparelhos de visão lateral com iluminação distal.
O passo seguinte no aperfeiçoamento do broncoscópio se deve ao Japonês Shigeto Ikeda (1925-2001), o qual, junto a Haruhiko Machida, apresentou, em 1964, o primeiro fibrobroncoscópio, cujo sétimo modelo foi lançado no mercado em 1967.
Em 1983, Ono e Ikeda e a companhia Ashai Pentax desenvolveram o videobroncoscópio, equipado com uma câmera em sua extremidade e que permitia a gravação eletrônica das imagens.
Em seu início, a broncoscopia fazia parte da otorrinolaringologia e depois da fundação, em 1950, da Associação Internacional para Estudo dos Brônquios (AIEB), passou a ser atribuição da pneumologia.


             TORACOSCOPIA

A toracoscopia diagnóstica ou médica e a toracoscopia cirúrgica nasceram ao mesmo tempo. Isso aconteceu no início do século XX, no auge da luta contra a tuberculose quando, por acaso, foi descoberto que cavernas pulmonares cicatrizavam espontaneamente em pacientes portadores de pneumotórax. Em 1910, a observação desse fato levou a Hans Christiansen Jacobeus, um médico interno do Hospital Serafimerlasarettet de Estocolmo, a usar um cistoscópio para examinar, pela primeira vez, a cavidade pleural e seccionar aderências pleurais causada por sequelas de tuberculose. Ele descreveu o procedimento em um artigo publicado em 1911, intitulado “A Possibilidade de se Realizar Cistoscopia no Exame de Cavidades Serosas” . Em 1915, Jacobeus criou o primeiro toracoscópio.
Em 1924, John Singer publicou o primeiro trabalho científico sobre toracoscopia e, em 1928, Felix Cova publicou o “Atlas da Toracoscopia”.
O uso da toracoscopia arrefeceu a partir de 1945 com a introdução da estreptomicina no tratamento da tuberculose. Na década de noventa, com o avanço da instrumentação, com melhores lentes, com o uso da fibra ótica nos endoscópios e com o advento da vídeoendoscopia o método voltou a evoluir rapidamente. Hoje a toracoscopia operatória se chama cirurgia vídeoassistida e é realizada em blocos cirúrgicos, ficando o termo toracoscopia reservado para os procedimentos diagnósticos realizáveis em ambientes broncoscópios.

LAPAROSCOPIA

A laparoscopia diagnóstica precedeu a laparoscopia cirúrgica.
O início da laparoscopia se deve ao cirurgião alemão de Dresden Geog Kelling que, em 1901,realizou o que chamou de “celioscopia“, técnica de enchimento com ar do abdômen de um cão vivo para inspecionar suas vísceras com um cistoscópio de Nietze. No mesmo ano, Dimitri Ott, ginecologista russo, realizou a “ventroscopia", usando um espelho frontal como fonte de luz para examinar o interior do abdômen com um espéculo na parede abdominal. Em 1910, Hans Christian Jacobeus, do Hospital Serafimerlasarettet de Estocolmo, procedeu ao que chamou de “laparoscopia", estudando a cavidade abdominal de uma série de pacientes.
No ano seguinte, Bertran Bernhein fez a primeira laparoscopia diagnóstica n os Estados Unidos.
O desenvolvimento da laparoscopia dependeu do desenvolvimento de técnicas de pneumoperitôneo aperfeiçoadas por Raoul Palmer, de Paris, em 1947 e pelo Professor Kurt Semm, ginecologista e engenheiro, de Kiel, na Alemanha. Dependeu também da tecnologia como as lentes de visão oblíqua desenvolvidas por H, Kalk em 1929 e, principalmente, pela introdução da tecnologia de fibra ótica por Hopkins e Kapany na Inglaterra.
O primeiro caso de laparoscopia urológica diagnóstica foi descrito em 1976 por Cortese e colaboradores que localizaram testículos criptosquídicos abdominais bilaterais em um adulto. O desenvolvimento da laparoscopia foi em parte retardado pelo aparecimento da tomografia axial computadorizada e pela ecografia, porém o desenvolvimento da videolaparoscopia, permitindo a visão do procedimento simultaneamente, por mais de um operador, impulsionou o método tanto no diagnóstico como na terapêutica.

ARTROSCOPIA

A primeira artroscopia foi realizada em Tóquio pelo Professor K. Takagi. Ele, na sua primeira experiência, usou um cistoscópio para examinar um joelho e depois desenvolveu um aparelho que ele denominou de artroscópio específico para o procedimento. Takagi aperfeiçoou o aparelho e, em 1932, conseguiu fotografias de artroscopia e em 1936 obteve imagens cinematográficas e fotografias coloridas com o procedimento.
Eugen Bircher de Aarau na Suíça, em 1921, publicou o resultado de 20 artroscopias usando um toracoscópio de Jacobeus. As contribuições de Takagi e de Bircher propagaram a artoscopia em países de língua inglesa e, em 1925, Philip H. Kreuscher apresentou à Sociedade Médica de Illinois um relato sobre lesões de meniscos identificadas em artroscopias. A seguir, o Dr. Michael Burmann do Hospital de Doenças Articulares de Nova Iorque usou um instrumento criado por R. Wagner para artroscopias do tornozelo, cotovelo e ombro.
Em 1957, o Dr. Masake Watabe, sucessor de Takagi publicou o Atlas da Artroscopia e, em 1960, apresentou Artroscópio 21 que se tornou o aparelho de excelência usado no procedimento por décadas.
SITES CONSULTADOS EM JUNHO E JULHO DE 2013:

 

Postagens anteriores:


HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNÓSTICO MÉDICO – ONDAS DE CHOQUE - RUÍDO E SOM - PERCUSSÃO E AUSCULTA.
HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNOSTICO MÉDICO = ONDAS DE CHOQUE - PULSO E PRESSÃO ARTERIAL.

Próxima Postagem:

          HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNÓSTICO MÉDICO – ESPECTRO ELETROMAGNÉTICO = RAIOS X




[1] A fibra ótica foi patenteada por John Bairden em 1926.

Nenhum comentário:

Postar um comentário