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quarta-feira, 3 de julho de 2013

HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNÓSTICO MÉDICO = ONDAS DE CHOQUE PULSO E PRESSÃO ARTERIAL

Prof. Dr. João Eduardo Irion

INTRODUÇÃO

Um dia, não me lembro qual, no ano 2005, eu decidi usar minhas anotações para escrever a história do uso das radiações no diagnóstico em medicina. Na minha visão endocentrista de radiologista e de médico nuclear, o objetivo era contar a história do uso dos raios X e dos raios gama no diagnóstico.
Quando me preparava para iniciar o trabalho, então lembrei que “radiação é o transporte de energia por meio de ondas ou partículas que partem de um ponto e se propagam em todas as direções independentemente de diferença de potencial”. A definição mudou o alvo do projeto, para nele incluir outras radiações usadas no diagnóstico, mas que foram ofuscadas pelo impacto da descoberta dos raios X.
Essa história não inclui as radiações corpusculares porque elas são usadas em diagnóstico e estão envolvidas somente no campo da terapia.
Existem duas classes de radiações usadas em medicina: as ondas de choque e as radiações eletromagnéticas. As ondas de choque compreendem o ruído, o som e o ultrassom. Todas elas têm aplicação no diagnóstico e farão parte do estudo.
Nem todas as radiações eletromagnéticas são usadas no diagnóstico médico e por isso o estudo está limitado às dos raios X e dos raios gama, do espectro visível, dos raios infravermelhos, da radiofrequência e dos raios-T. Ficam de fora os raios ultravioletas e as microondas as quais não têm aplicação no campo do diagnóstico.
Antes do histórico vou apresentar uma classificação genérica de como as radiações são utilizadas no diagnóstico, segundo meu ponto de vista. Há radiações usadas para fornecer informações que chamarei de não-imagem. É o caso das ondas de choque usada na cronometragem do pulso arterial e na medida da pressão arterial. É caso também do uso do som na ausculta e na percussão. Outras radiações fornecem imagens: é o caso dos raios X (na radiografia), dos raios gama, (na cintilografia) e do ultrassom (na ultrassonografia), embora também elas possam fornecer informações do tipo não-imagem tais como quantificações e gráficos.
O ruído, o som e a luz visível são perceptíveis por nossos sentidos, mas o mesmo não acontece com o ultrassom e as demais radiações eletromagnéticas, embora os raios X de alta energia, os raios gama e os raios cósmicos possam produzir o fenômeno chamado fosfene. O termo fosfene se refere à percepção de radiações de alta energia quando atuam de modo indireto na retina ou, então, quando fontes intensas de radiações, em condições de baixa umidade, são sentidas pondo os cabelos dos braços em pé ou criando a sensação de formigamento da pele.
A percepção das radiações eletromagnéticas (exceto a luz visível) e do ultrassom só é possível por meio de equipamentos especiais, genericamente classificados como transdutores, embora não se use essa palavra para designar os complexos aparelhos de radiologia, ultrassonografia, ressonância magnética e medicina nuclear.
Esta história pretende contar não só a descoberta de cada radiação, mas também a destacar os gênios que estudaram a natureza de cada uma delas e criaram aparelhos e técnicas para utilizá-las no diagnóstico.
O projeto é postar neste blog, de tempos em tempos, na medida em que conseguir elaborá-los os seguintes temas:
·        A história das ondas de choque e seu uso na medida do pulso de da pressão arterial;
·        A história do ruído e do som no seu uso na ausculta e na percussão;
·        A história do espectro visível e seu uso na endoscopia;
·        A história dos raios X e seu uso na radiologia;
·        A história da radioatividade e seu uso na Medicina Nuclear;
 ·        A história da radiofrequência na ressonância magnética;
·        A história do ultrassom e seu uso na radiologia;
·       A história dos raios infravermelhos e uso na termografia;
·        A história dos raios T e perspectiva de uso em diagnóstico.
·        A história do campo magnético na magnetografia.

ONDAS DE CHOQUE: PULSO ARTERIAL 

A preocupação dos médicos com o pulso se perde no passado. Os antigos egípcios já conheciam a origem da pulsação e da função de bombeamento do coração. O pulso foi mencionado no papiro de Edwin Smith que data de 1600 a.C. no papiro terapêutico de Thebes de 2552 a.C. e no papiro de Ebers de 1550 a.C. Nesse último papiro está dito que “colocando-se os dedos sobre várias partes do corpo verifica-se que o coração "fala" através dos vasos”.
No hieróglifo do papiro de Smith, o símbolo à direita representa um contador de tempo à base de sementes.
                              
Herphilus de Alexandria (335-280 a. C), que é considerado clínico e também o primeiro anatomista, influenciado por Hipócrates (460 a.C.), fundou a “doutrina do pulso”, descrevendo com exatidão as pulsações e as correlacionou com a sístole e a diástole cardíaca, afirmando que o pulso é um fenômeno que ocorre dentro dos vasos. Erasistratus (330 a.C.), o fundador da fisiologia, considerou que “o coração dá origem ao espírito vital que é levado pelas artérias a todas as partes do corpo”.
Foi Lucius Annaeus Sêneca (4 a.C. - 65 d.C.) quem disse "O médico não pode receitar por carta o momento de comer ou de banhar-se; ele deve tomar o pulso."

O PULSILOGIUM

Veremos a seguir que o pulso desempenhou importante papel na origem do primeiro aparelho usado em medicina e também no aperfeiçoamento do relógio.
Galileu Galilei (1564/1642) descobriu as propriedades do pêndulo quando observou na catedral de Pisa um sacristão puxar um candelabro para acender-lhe as velas e largá-lo oscilando. Galileu, nesse momento, usou sua própria pulsação para medir o tempo de oscilação do candelabro. Com essa observação Galileu deu início aos estudos dos pêndulos.
Em novas observações Galileu verificou que o tempo de oscilação de um pêndulo depende de seu comprimento e assim ele teve a ideia do procedimento inverso: variar o comprimento do pêndulo e comparar sua freqüência de oscilação com o a frequência do pulso. Foi assim que em 1602, surgiu o invento chamado “pulsilogium” aparelho simples que, se fosse batizado hoje, receberia o nome de “pulsímetro”.
O pulsilogium é um pêndulo no qual o operador pode mudar o comprimento para fazer o número de oscilações coincidirem com o número de pulsações de um paciente. O aparelho não mede tempo, apenas correlaciona frequências, criando um método objetivo para o médico acompanhar, pela variação de comprimento do pêndulo, a evolução da doença e a eficácia do tratamento.
                                       

O pulsilogium é considerado o primeiro aparelho usado em medicina e, como tal, foi o ponto de partida da instrumentação usada no diagnóstico. Não se sabe se a invenção do pulsilogium se deve a Galileu ou a seu amigo, médico de Pádua, chamado Santorio Santorio, Santorio Santorii ou Sanctorius de Pádua (1561 - 1636) ou então aos dois, mas certamente Santorio o introduziu na prática médica..
Galileu e seu filho Vicenzio construíram o primeiro relógio preciso, fundamentado nas propriedades do pêndulo. Em 1657, quinze anos depois da morte de Galileu, Chistian Huyugens publicou um livro descrevendo a construção de relógio de pêndulo, o que consagrou seu uso.
A construção de relógios a partir da invenção de Huygens permitiu a cronometragem das pulsações. A primeira referência à cronometragem das pulsações é atribuída ao médico inglês Robert Fludd.

ONDAS DE CHOQUE: A PRESSÃO ARTERIAL

O registro da primeira referência da diferença de pressão sanguínea é atribuída ao quadro da decapitação de São João do pintor Giovanni de Paola (1403-1493). Nesse quadro, há vasos jorrando e vasos gotejando.
Considera-se como primeira tentativa de medida da pressão arterial a experiência do reverendo inglês Stephen Hales, realizada em dezembro de 1733. Ele mediu a pressão arterial de uma égua, usando como manômetro um conjunto de tubos de cobre e vidro diretamente ligado a uma artéria do animal. Um século depois, em 1828, o médico e físico Jean Leonard Marie Poiseuille (1799-1869) melhorou o sistema de Hales criando um aparelho que chamou “hemodinamômemtro”.
Em 1856, o cirurgião J. Faivre fez, durante um ato cirúrgico, a primeira medida da pressão arterial num homem. A pesquisa para a medida não invasiva da pressão arterial apareceu e cresceu nos meados do século XIX. Em 1855, Karl Vierordt (1814-1884) estabeleceu o princípio de que para medir a pressão sistólica de forma indireta e não invasiva era necessário comprimir uma artéria até que a pulsação cessasse. Ele então inventou um sistema de pesos para bloquear a pulsação da artéria radial. Logo esse sistema foi aperfeiçoado por outros pesquisadores, porém nenhum sistema conseguiu gerar aparelhos, resultados e aplicações práticas.
Em 1896, Scipione Riva Rocci, Professor Assistente de Clínica Médica em Turim, resolveu definitivamente o problema da medida da pressão sistólica por meio de um equipamento prático e portátil. Ele deu a seu aparelho o nome de “angioparatlibometro”, nome que foi substituído por “esfiogmomanômeto”. O sistema proposto era formado por um tinteiro e um tubo de vidro ambos cheios de mercúrio ligados a uma pera que enchia um pneu de bicicleta. O principal aperfeiçoamento do esfigmomanômetro ocorreu em 1.901 quando pneu foi substituído por um manguito com 12 cm de largura por H. Von Recklinghausen.
Além do aparelho, Riva Rocci mudou a artéria a comprimir e escolheu a artéria umeral “por estar mais próxima da aorta, por não ter circulação colateral e porque pode ser comprimida em todas as direções".
Pelo sistema de Riva Rocci, a pressão sistólica era medida mediante a  compressão da artéria e simultaneamente tomando-se o pulso radial até desaparecer a pulsação. A segui a artéria era descomprimida lentamente e considerava-se como pressão sistólica o valor registrado no tubo de mercúrio no instante que o pulso radial reaparecia.
A medida da pressão diastólica permaneceu como um problema até que o médico militar russo Nicolai Segeivich Korotkoff (1874-1920) apresentou em 1904 à Imperial Academia Médica Militar de São Petersburgo uma tese com cento e setenta e oito palavras em russo sobre a técnica de medir a pressão arterial sistólica e diastólica, usando um estetoscópio.

BIBLIOGRAFIA:

Sites consultados na internet em junho de 2013:
http://historiadafisicauc.blogspot.com.br/2011/06/galileo-e-o-pendulo.html
http://www.fisiologiaufs.xpg.com.br/apostilas/historia_medida_pa.pdf
http://www.sitequente.com/frases/medico.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Robert_Fludd
http://publicacoes.cardiol.br/abc/1996/6705/67050001.pdf
PRÓXIMA POSTAGEM – ONDAS DE CHOQUE – PERCUSSÃO E AUSCULTA


4 comentários:

  1. Maria Cecília Gabbi5 de julho de 2013 às 07:46

    Muito interessante, Dr Irion! Já estou ansiosa pelos próximos capítulos!!

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  2. Obrigado. Aguarde, ms antes vem Cacequi.

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  3. o pulsilogium funciona da mesma forma que um metrônomo e também tem a mesma função para os mûsicos. Não é atoa que nos chamamos essa sincronia de "pulso"

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    1. É interessante tua observação. O o pulsilogium já não serve para nada em medicina, mas continua útil para a arte!

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