OS MEIOS DE CONTRASTE NA RADIOLOGIA
Prof. DR. João Eduardo Irion
A PRIMEIRA ANGIOGRAFIA
A radiografia da mão da
Sra. Anna Bertha mostrou a diferença de absorção dos raios X entre os ossos e
tecidos moles e não se sabe quem cunhou o termo “contraste” para expressar o fato. Logo após as primeiras
radiografias do esqueleto, os pesquisadores procuraram alargar o campo de ação
da nova radiação em medicina com a criação de contrastes artificiais para
estudar os órgãos e os tecidos moles. A primeira tentativa nesse sentido
ocorreu em Viena em janeiro de 1896, onde Eduard Haschek e Otto Lindenthal
realizaram a primeira angiografia, injetando na mão de um cadáver, uma mistura
de cal, mercúrio e petróleo.
O CONTRASTE NO TUBO DIGESTIVO
A seguir começaram as
tentativas de opacificar, por meio de injeção de substâncias contrastadas, as
cavidades do tubo digestivo e também da bexiga. Já em 1896, Walter Cannnon na
Harvard Medical School, usou cápsulas de bismuto para estudar a fisiologia da
deglutição em gansos por meio de radiografias.
Em 1904, Reider em Viena
usou uma mistura radiopaca para exame do estômago e duodeno. Inicialmente foi
empregado bismuto que, a partir de 1910, foi sucedido pelo sulfato de bário,
cuja tendência para a precipitação foi resolvida pela indústria farmacêutica em
1920, com a suspensão coloidal estável desse sal.
A primeira tentativa de examinar
o intestino grosso ocorreu por meio de um enema aplicado com uma mistura de
óleo e bismuto. Depois veio o enema com bário. O enema baritado com duplo
contraste foi criado por Laurel em Uppsala, na Suécia, em 1921.
Entre as décadas de 30 e 60, um outro tipo de contraste foi
utilizado: o dióxido de tório coloidal, o qual produzia imagens nítidas e
consistentes e reduzia a chance de constipação
intestinal. Esse produto também foi empregado como contraste vascular, mas seu
uso foi suspenso porque o tório é um elemento radioativo emissor de radiação α e seu acúmulo no fígado e na medula óssea causou cânceres em pessoas
entre 20 e 30 anos depois que realizaram o exame radiológico..
A
PNEUMOVENTRICULOGRAFIA
Em novembro de 1912, Lachett
Estenvard descobriu ar nos ventrículos em um paciente com fratura de crânio.
Cabe a Valter Dandy,
cirurgião de Baltimore, a realização da primeira pneumoventriculografia. Ele
começou suas pesquisas fazendo experiências em cães injetando-lhes substâncias
radiopacas nos ventrículos (tório, potássio, sais de bismuto), mas os animais
morriam. Decidiu então usar gás e depois de novas experiências bem sucedidas em
animais, Dandy realizou a primeira pneumoventriculografia numa criança
hidrocefálica em 1918. Em 1920 Dandy publicou o trabalho "Localization or
elimination of cerebral tumor by ventrieulography".
A PRIMEIRA
RADIOGRAFIA CONTRASTADA DO SISTEMA CIRCULATÓRIO “IN VIVO”
A primeira radiografia
feita com o uso de contraste, administrado por via vascular “in vivo” foi realizada, em 1919, pelo
Dr. Carlos Heuser, radiologista argentino. Ele fez com sucesso uma flebografia,
injetando na mão de um paciente uma solução de iodeto de potássio. O “mundo científico da época” não tomou
conhecimento dessa experiência porque ela foi escrita em espanhol e publicada
numa revista que circulou somente na Argentina. [1]
A ANGIOGRAFIA CEREBRAL
A angiografia cerebral foi
criada pelo médico português Egaz Moniz que por seu trabalho recebeu o Prêmio
Nobel de Medicina e Fisiologia em 1949. A primeira angiografia cerebral foi
feita por Muniz em um paciente, com injeção de iodeto de sódio na carótida.
A MIELOGRAFIA
Em 1921, o Dr. J.
Forestier e o Dr. J Sicard criaram o Lipiodol um óleo iodado que permitiu a
opacificação do espaço epidural e a realização da mielografia. Aprimeira mielografia
foi realizada por J. Licord em m1931, injetando contraste no espaço subaracnoideo.
O CATETERISMO CARDÍACO
O pioneiro do cateterismo
cardíaco foi o alemão Werner Frosmann, Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia em
1929, ano em que introduziu um cateter na própria veia, levando-o até a
aurícula direita e confirmou sua posição por meio de radiografias.
A UROGRAFIA EXCRETORA
O exame contrastado do
sistema urinário passou por duas fases: na primeira fase, houve o uso de
contrastes iodados inorgânicos para a realização de cistografia retrograda; na
segunda fase, passou-se a usar contrastes iodados orgânicos para realização da
urografia excretora.
A urografia excretora foi
desenvolvida pelo Dr. Moses Swick, urologista do Mount Sinai Hospital, depois
de tentativas sem sucesso de outros pesquisadores. Em 1929, o Dr. Moses
apresentou seu trabalho sobre o uso do Uroselectan (ou Iopax) na realização da
urografia excretora.
A COLECISTOGRAFIA
A colecistografia (depois
chamada de colecistograma) foi desenvolvida a partir das pesquisas em coelhos e
cães que Warren Henri Cole, então estudante de medicina, realizou usando
compostos iodados opacos aos raios X que eram eliminados pela bile. Em 1923,
ele obteve a primeira imagem da vesícula de um cão depois da aplicação
endovenosa de tetrabromofenolftaleína.
Em 1924, o método foi
empregado pela primeira vez no ser humano. Inicialmente, as colecistografias
eram feitas depois da injeção intravenosa de tetrabromofenolftaleína de cálcio,
e depois com a administração intravenosa de tetraiodofenolftaleína de sódio que
produzia menos efeitos colaterais.
Quando Cole verificou que
o contraste eliminado na bile era reabsorvido no intestino e reexcretado,
mantendo a opacidade da vesícula por mais de um dia, mudou a via de
administração de venosa pela via oral.
O colecistograma passou a
ser o exame rotineiro de vesícula a partir de 1925, e, como tal, se manteve até
o advento do uso do ultrassom no diagnóstico médico. A partir década de 70, a
colecistografia foi gradativamente substituída pela ultrassonografia.
BIBLIOGRAFIA
COLE, W.H.
- Historical features of cholecystography. Radiology 76: 354-375, 1961.
GOODMAN, P.C. - Historia. In MAARGULIS, A.R., BURHENNE, H.J.(org.) - Radiologia del aparato digestivo (trad.), 4.. ed., Buenos Aires, Ed. Medica Panamericana, 1991.
GOODMAN, P.C. - Historia. In MAARGULIS, A.R., BURHENNE, H.J.(org.) - Radiologia del aparato digestivo (trad.), 4.. ed., Buenos Aires, Ed. Medica Panamericana, 1991.
http://en.wikipedia.org/wiki/Werner_Forssmann
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