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segunda-feira, 10 de março de 2014

HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES = RESSONÂNCIA NUCLEAR MAGNÉTICA

RESSONÂNCIA NUCLEAR MAGNÉTICA
Prof. Dr. João Eduardo Irion
Faculdade de Medicina
Universidade Federal de Santa Maria – RS – BR
Médico Nuclear
Serviço de Medicina Nuclear de Santa Maria
jirion @terra.com.br
joaoeduirion.blogspot.com.br

A RESSONÂNCIA NUCLEAR MAGNÉTICA

Em 1.924, Wolfgang Pauli, com base na experiência de Stern-Gerlach (1920), comparou os núcleos atômicos a pequenos imãs com momentos nucleares.
                                                 Isador Rabi

A ressonância nuclear magnética foi descoberta em 1939 por Isidor Isaac Rabi, Professor da Columbia University, ao submeter um feixe molecular de hidrogênio H2 em alto vácuo a campo magnético oscilante, verificando que os dipolos nucleares que estavam dispostos em todas as direções se alinhavam seguindo a polarização do campo magnético. Quando, além do campo magnético, o hidrogênio era submetido a ondas de rádio, (na frequência VHF), os núcleos absorviam energia proporcional à intensidade do campo magnético, entrando em ressonância. Ao ser suspenso o campo magnético, os núcleos voltavam ao estado normal (fato chamado relaxamento), devolvendo energia sob a forma de ondas de rádio, numa frequência própria de cada tipo de átomo (chamada frequência de Larmor).
                                             Edward Mills Purcell

Nos anos de 1945 e 1946, trabalhando isoladamente, Felix Bloch e seus colaboradores na Universidade de Stanford e Edward Mills Purcell e colaboradores na Universidade de Harvard, ao procurar aprimorar as técnicas de medida de momentos magnéticos nucleares, observaram sinais de absorção de radiofrequência dos núcleos de H na água e na parafina, re-emitindo essa energia quando voltavam ao estado original em radiofrequência proporcional ao campo magnético (frequência de Larmor).
                                                  Felix Bloch
Bloch e Purcell foram agraciados com o prêmio Nobel de Física em 1952 “pelo desenvolvimento de novos caminhos e métodos para medidas de precisão da ressonância nuclear magnética”. Essa e outras experiências são os fundamentos da espectroscopia com ressonância nuclear magnética que se tornou uma eficiente ferramenta de análise química. Os primeiros espectrômetros de RNM com grande resolução e sensibilidade apareceram n o mercado em 1953.
No ano de 1986 foi desenvolvido o microscópio de RNM com resolução de 10 mm numa amostra de um cm. A espectroscopia com a ressonância nuclear magnética é um método não invasivo e não destrutivo usado para estudar a estrutura química das substâncias, inclusive substâncias orgânicas como, por exemplo, os componentes em produtos alimentares, fluidos biológicos e metabólicos em tecidos e órgãos de seres vivos intactos.
Até a década de 70, a ressonância magnética era usada somente na espectroscopia, como técnica importante para a investigação molecular, principalmente, no campo da análise qualitativa e quantitativa, permitindo obter informação estrutural e dinâmica para qualquer estado da matéria.
                                                           Raymond Damadian
Em 1.971, Raymond Damadian, médico e Professor da Universidade Estadual de Nova York, publicou um artigo na revista Science, relatando que os tecidos cancerosos de cobaias sacrificadas, tinham um tempo de relaxamento na ressonância nuclear magnética diferente dos tecidos normais e que esse fato podia ser usado no diagnóstico de câncer in vivo. A descoberta motivou Damadian e seus colaboradores a construir uma máquina de ressonância magnética para diagnóstico do câncer in vivo mediante o mapeamento do corpo ponto por ponto (técnica do campo focado).
O conceito de mapeamento de corpo inteiro com ressonância nuclear magnética foi patenteado por Damadian. A máquina foi concluída em 1977, depois de sete anos de trabalho e por isso Damadian deu-lhe o nome de “Indomável” pelas dificuldades de sua construção. A máquina está hoje no Smithsonian Institutton.
A primeira RNM realizada em um ser humano foi feita com a Indomável em 3 de junho de 1977. A máquina forneceu, sem interferências, depois de cerca de cinco horas de exposição, a imagem clara do coração pulmão e paredes torácicas do paciente. Como Damadian era grande e não cabia na máquina, seu assistente Larry Minkoff, que era o suficiente magro serviu como cobaia para a realização da primeira imagem torácica.
                                    Imagem deRNM do tórax de Minkoff

RNM do tórax de Minkoff' ao nível de D VII-DVIII REALIZADA ÁS 4.45 da manhã de julho de, 1977
Em 1978, Damadian formou a companhia FONAR e produziu a primeira máquina comercial de ressonância em 1.980.
A tecnologia de campo focado se mostrou menos eficiente que os métodos desenvolvidos por Lauterbur e Mansfield descritos a seguir e por isso, a FONAR os adotou.
                                                                            
                                                            Paulo c. Lauterbur
Tendo conhecido as experiências de Damadian Paul C. Lauterbur, Professor de Química da Universidade Estadual de Nova Iorque, iniciou estudos de RNM por outro caminho, no caso o campo magnético não uniforme – um gradiente tridimensional, isso é a técnica ecoplana usada hoje. Ele considerou ser possível obter imagens com radiação eletromagnética a partir de vários pontos ao redor do mesmo plano de uma amostra estimulada radiomagneticamente.
Para testar sua ideia, colocou água normal (H2 O) num capilar de vidro de 1 mm de diâmetro e encheu outro capilar idêntico com água pesada (D2 O). Os dois capilares foram mergulhados em um recipiente com 5 mm de diâmetro cheio de água comum. Um artigo inicial sobre RNM foi recusado, mas, em 1973, Lauterbur publicou a imagem de um molusco e a imagem da cavidade torácica de um rato. Lauterbur deu às imagens o nome de zeugmatografia (do prefixo grego que significa conjugação). Seu trabalho sobre a experiência foi publicado pela revista Nature em 16 de março de 1973 com o título “Imagen formation by induced focal interaction, examples empolyng magnetic resonance. A réplica da máquina original de Lauterbur está no edifício de Química da Universidade Estadual de Nova York.
                                                                         
                                                                                                       
                                                     Peter Mansfield
O físico inglês Peter Mansfield conheceu as pesquisas de Damadian quando trabalhou nos Estados Unidos. Ao voltar para a Nottinghan University, na Inglaterra, assim como fez Lauterbur, teve a ideia de usar gradientes no campo magnético para obter imagens e demonstrou que as informações fornecidas pela RNM poderiam ser processadas matematicamente com auxílio de computação. Em 1976, antes de Damadian ele obteve a primeira imagem de RNM do dedo de uma pessoa.
Paul C. Lauterbur e Petter Mansfield receberam o Prêmio Nobel de Medicina e Fisilogia de 2003. Raymond Damadian “por suas descobertas relacionadas com a imagem na Ressonância Nuclear Magnética” recebeu diversos prêmios em 2001, o Lemelson-MIT Prize. The Franklin Institute de Philadélfia deu-lhe o Bower Award. Ele foi escolhido homem do ano em 2003 pelos Knights of Vartan. Recebeu a Medalha de Tecnologia em 1988. Em 1989 foi incluído no National Inventors Hall of Fame in 1989, mas não recebeu o prêmio Nobel e então Damadian (acompanhado por muitos cientistas e jornalistas) publicou seu inconformismo mediante matéria paga publicada em página inteira no New York Times, no The Washington Post e no The Los Angeles Time.
Em 1975, Richad Ernst propôs a produção de imagens com ressonância nuclear magnética utilizando fase e frequência codificadas pela transformada de Fourier, criando a base da técnica de RNM atual. Em 1977, Eldestein e colaboradores demonstraram a imagem adquirida em 5 minutos do corpo inteiro usando a técnica de Ernst. Em 1986, o tempo de imagem foi reduzido para cinco segundos.
Em 1987, a técnica ecoplana foi usada para obter imagens em tempo real do movimento cardíaco e Charles Dumoulin realizou a primeira angiografia com ressonância magnética que permite imagens do fluxo sanguíneo sem contraste. Em 1991, Richard Ernst recebeu o prêmio Nobel de Química pelo uso da transformada de Fourier em RNM.
O Professor escocês John Mallard e sua equipe construiu o primeiro aparelho para RNM de corpo inteiro, usando essa máquina na University de Aberdeen. No dia 28 agosto de 1980, ele usou a máquina no primeiro uso clínico em um paciente para diagnosticar um tumor primário no tórax com metástases no esqueleto. O equipamento foi mantido no St Bartholomew’s Hospital, em Londres entre 1983 até 1993. Mallard e sua equipe contribuíram para o avanço tecnológico da RNM e sua difusão como instrumento clínico.
Em 1993, começou a ser criada a ressonância magnética funcional. Em 1994, pesquisadores da State University of New York e da Princeton University demonstraram a imagem da respiração com 129 Xe hiperpolarizado. Já em 1.980 existia o conceito de hemodinâmica cerebral estando a atividade cerebral relacionada com o fluxo sanguíneo e a oxigenação do cérebro, mas não havia técnica não-invasiva para demonstrá-lo.
Em 1986, Marcus E. Reichie e Peter T. Fox, usando a Medicina Nuclear, mostraram a hemodinâmica cerebral por um meio não-invasivo com a tomografia por emissão de pósitrons (PET). Eles demonstraram a relação direta entre ativação neuronal e aumento do fluxo cerebral e do metabolismo em cérebros humanos.
Em 1990 Seiji Ogawa (laboratório Bell) e John W. Belliveau (Massachussetts General Hospital), estudando cobaias, demonstraram que o nível de oxigenação do sangue funciona como contraste que pode ser usado na imagem de RNM porque a hemoglobina tem propriedades magnéticas diferentes se está oxigenada ou não. A hemoglobina pode fornecer imagens do fluxo sanguíneo cerebral porque o conteúdo de deoxihemoglobina é inversamente proporcional ao fluxo (o fluxo aumenta para compensar a redução do oxigênio transportado pelo sangue). Ogawa obteve imagens do fluxo cerebral após administração de anestésico, da hipoglicemia induzida por insulina e por inalações de gases. Com isso surgiu o conceito de BOLD (Blood Oxigenation Level Dependent). Em 1992, Ogawa e Belliveau provaram que a ressonância magnética funcional é capaz de demonstrar a localização precisa do córtex visual em seis pacientes com estímulo visual uni e bilateral ou a realizar tarefas motoras.
SITES CONSULTADOS

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