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segunda-feira, 22 de julho de 2013

HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNÓSTICO MÉDICO - ESPECTRO ELETROMAGNÉTICO - LUZ VISÍVEL = ENDOSCOPIA

Prof. Dr. João Eduardo Irion
INTRODUÇÃO

A visão retrospectiva da história do uso das radiações em diagnóstico mostra que a tecnologia começou a se incorporar na prática médica no início do século XIX com as tentativas de visualização dos órgãos internos que deram origem à endoscopia. Durante esse período, o progresso tecnológico que se incorporou num ritmo equivalente a passo a passo ao diagnóstico e, no fim do século, passou a avançar aos saltos a partir da descoberta dos raios X.
O uso do espectro visível no diagnóstico refere-se à endoscopia usada em várias especialidades médicas. Dizem que o termo endoscopia foi criado por Hipócrates, mas Antoine Jean Désormeaux foi quem usou pela primeira vez o termo endoscópio.
A endoscopia, no seu início, explorou cavidades naturais como a boca, o nariz, o ouvido, a uretra, a vagina, o ânus, dando origem à laringoscopia, oftalmoscopia, esofagoscopia, gastroscopia, colonoscopia, rinoscopia, broncoscopia, uretroscopia, cistoscopia e vaginoscopia. Posteriormente, a endoscopia estendeu seu campo de ação e passou a explorar cavidades fechadas mediante acessos cirúrgicos, como é o caso da laparoscopia, da toracoscopia, da artoscopia e da encefaloscopia.

ANTECEDENTES

A tentativa de ver o interior do corpo remonta à antiguidade. No Talmude Babilônico consta um aparelho fabricado com chumbo com ponta curva, o “siphopherot” (sifão), utilizado para exame do útero. Atribui-se a Hipócrates a criação de um espéculo anal. Nas ruínas de Pompeia foram encontrados espéculos para realização da endoscopia. Mais recentemente, em 1567, Tulio Caessare Aranzi descreveu em sua obra “Tumores Praeter Naturam” uma forma de iluminar cavidades.

OS PRECURSORES DA ENDOSCOPIA

A endoscopia venceu obstáculos para chegar ao estágio atual. O primeiro deles foi obter uma fonte luminosa adequada, outro foi desenvolver a tecnologia de lentes e o terceiro foi superar a rigidez dos endoscópios pioneiros.
A unanimidade dos historiadores da medicina atribui ao alemão Philipp Bozzini a primeira tentativa bem sucedida para a criação de um aparelho para exame da bexiga, faringe e reto. O aparelho criado por Bozzini (1773-1809) em Viena,. no ano de 1805, recebeu o nome de “Lichtleiter”, termo que significa “aparelho para guiar a luz”. Era uma cânula com duas vias: uma conduzia a luz de uma chama de vela e a outra servia para observar o interior do órgão examinado. Bozzini tornou público o invento em 1807, no artículo “Der Lichleiter”, formando a base das técnicas endoscópicas e por isso ele é considerado um dos pioneiros da endoscopia.
Bozzini não usou seu aparelho em seres humanos porque o decano da Faculdade de Medicina de Viena considerou seu uso uma temeridade e o proibiu.
Um segundo passo no uso da luz visível no diagnóstico foi dado por Herman Ludwig Helmholtz que inventou, em 1851, o oftalmoscópio para exame do fundo de olho.
Em 1877, Nitze produziu o primeiro cistoscópio munido de lentes e, em 1885, o francês Antoine Jean Désarmeaux construiu um cistoscópio com um sistema rudimentar de lentes e o batizou com o nome de endoscópio. Em 1854, Manoel Garcia, médico espanhol, inventou o primeiro laringoscópio. Em 1868, o professor alemão de Freiburg Adolph Kussmaul usou um cistoscópio de Désarmeaux para examinar o estômago de um faquir engolidor de espada e, para chegar ao estômago, usou um tubo metálico de 47 cm de comprimento e 1,3 cm de diâmetro e assim marcou o início da história da gastroscopia.
Vinte e quatro anos depois da invenção da lâmpada por Edson, Tuttle, em 1903, fabricou o primeiro cistoscópio munido com luz elétrica.

HISTÓRICO DA ENDOSCOPIA DIGESTIVA

O desenvolvimento da endoscopia digestiva serve de baliza para o acompanhamento das demais formas de endoscopia, porque a história dessa especialidade pode ser tomada como parâmetro para a avaliação da evolução das demais endoscopias.
Depois de Adolph Kussmaul, Max Nitze, no ano de 1879, em Viena, descreveu o primeiro endoscópio munido de um grupo de lentes. Em 1881, Johan von Mikulicz desenvolveu o primeiro gastroscópio rígido com iluminação distal após a invenção, em 1879, da lâmpada de luz incandescente por Edson.
Os gastrocópios enfrentavam a limitação de sua rigidez até 1932 quando Rudolph Schindler, de Munique, criou junto com Georg Wolf (um fabricante de instrumentos de Erlanger) o endoscópio semiflexível contendo mais de 50 lentes. Esse, depois de introduzido no estômago, era retificado para ajustar as lentes permitindo a realização do exame. Esse gastroscópio foi substituído ainda em 1955, pelo Gastroflex, criado pelo francês Charles Debray, com maior flexibilidade com diâmetro de 10 mm e com luz suficiente para a tomada de boas fotografias.
Muito antes, em 1878, Lange e Meltzing, na Alemanha, fizeram sem sucesso a primeira tentativa de criação de uma gastrocâmera. Somente em 1950 os pesquisadores da Olympus e os médicos da Universidade de Tóquio superaram os obstáculos e criaram a primeira gastrocâmera eficiente.
O avanço seguinte veio com o aparecimento da fibra ótica[1], cuja apresentação aconteceu em janeiro de 1954, na revista Nature. Em 1957, em Michigan, o Professor Basil Isaac Hirschowitz, um sul-africano naturalizado americano, usou o protótipo de gastroscópio com fibra ótica para examinar o próprio estômago. O aparelho foi lançado no mercado em 1960 e o primeiro trabalho sobre o uso do endoscópio de fibra ótica foi publicado na Revista Lancet, em agosto de 1963.
A endoscopia eletrônica (feita com videoendoscópios) começou a nascer nos Laboratórios da Bell da AT&T, em 1969, quando Boyle e Smith inventaram o CCD (charger-coupled semiconductor device). Dez anos depois, em 1979, os engenheiros da empresa Welch Allyn criaram o endoscópio eletrônico e o apresentaram no Congresso Asiático de Endoscopia do Pacífico, e logo após, a empresa Olympus também apresentou seu próprio modelo. O vídeoendoscópio permitiu melhor imagem, melhores fotos e vídeos, menor contaminação e a possibilidade de avaliação das imagens simultaneamente, por mais de um endoscopista.
A necessidade de explorar o intestino delgado, órgão com cerca de 5 metros de comprimento levou à fabricação do enteroscópio de duplo balão. O primeiro deles, fabricado pela empresa Fujino, tinha 2 metros de comprimento. Logo depois a Olympus apresentou um enteroscópio de um só balão.
O avanço final na endoscopia digestiva veio com o desenvolvimento das cápsulas endoscópicas.
O uso de cápsulas no diagnóstico remonta a 1950 quando foi criada uma cápsula para medir temperaturas e depois, em 1960, foi criada outra para medir pH.
A invenção da cápsula endoscópica se deve à associação, em 1997, do gatroenterologista inglês Paul Swain com o engenheiro eletrônico israelita Gabriel Iddan da empresa Given Imaging. Eles inventaram uma pequena cápsula para ser deglutida, montada com materiais especiais, equipada com miniaturas de bateria, emissores de luz, câmera para captura de imagens, transmissores de vídeo e circuitos eletrônicos com tecnologia de ponta para transmitir imagens a serem gravadas num receptor colocado na cintura do paciente. Durante o trajeto pelo tubo digestivo, do esôfago ao reto, a cápsula emite cerca de 60.000 imagens que ficam gravadas no receptor do qual são transferidas para visualização e analise num computador.
Em 1997, Iddan deglutiu a primeira cápsula. No ano 2000, cápsulas foram deglutidas por dez voluntários e nesse ano a revista Digest Disease Week publicou as primeiras imagens do intestino delgado. A cápsula deu origem a novo tipo de endoscopia, a capsuloendoscopia, que usa cápsulas especiais para avaliar o esôfago, o estômago, o intestino delgado e o cólon.

A ENDOSCOPIA DAS VIAS AÉREAS – DA LARINGOSCOPIA À BRONCOSCOPIA

Antes de Bozznin, em 1743, M. Levret usou um espelho feito de prata polida para refletir a luz do sol que usou para remover pólipos do nariz e da garganta.
Em 1854, Manoel Garcia, médico espanhol, inventou o primeiro laringoscópio. Seu pai era um barítono e suas irmãs eram sopranos e os três eram famosos na Europa. Manoel tentou sem êxito ser cantor e, como médico, procurou em sua garganta a causa de seu fracasso. Para isso montou um sistema de espelhos para examinar a própria garganta, criando em 1854 um laringoscópio. Para estudar a voz, Garcia dissecava laringes de cães. Garcia não ficou famoso como cantor, mas fez fama como fisiologista da voz. Em 1855, apresentou à Royal Society de Londres um trabalho sobre fisiologia da voz humana, descrevendo a ação da glote e dos mecanismos musculares capazes de modificar o timbre e a intensidade da voz.
O médico Gustav Killian é considerado o criador da broncoscopia. Em 30 de março de 1897, em Freiburg, na Alemanha, extraiu um osso de porco do brônquio de um agricultor. Para isso usou um laringoscópio de Kirstein junto com o esofagoscópio de Mikulicz– Rosenheim. Em 1898, no Congresso de Laringología, em Heilderberg, Alemanha, ele comunicou o fato, chamando sua técnica de “broncoscopia direta” que se difundiu por muitos países. Killian a seguir aperfeiçoou o laringoscópio, criou um traqueoscópio, já com uma lâmpada distal que passou a ser conhecido como traquescópio de Killian.
O desenvolvimento de fato da broncoscopia se deve ao médico laringologista americano Chevalier Jackson, cujo trabalho e grande contribuição bibliográfica foi a origem de uma escola sobre a técnica broncoscópica. Em 1907, Jackson publicou seu primeiro livro “Tracheobronchoscopy, esophagoscopy and bronchoscopy”, reeditado em 1914. Além de aperfeiçoar a técnica endoscópica. ele melhorou os equipamentos.É de sua criação o broncoscópio autônomo (assim chamado porque foi o primeiro a não necessitar de uso prévio de laringoscópio). Esse aparelho era equipado com um sistema de lentes e uma lâmpada distal. Chevalier Jakson não patenteou seus inventos para não limitar o desenvolvimento da broncoscopia. Em 1916, foi nomeado Professor de Laringología no Jefferson Medical College, onde implantou um programa de treinamento da técnica broncoscópica. Um dos aperfeiçoamentos do broncoscópio se deve a Edwin N. Broyles, discípulo de Chevalier Jackson, que criou aparelhos de visão lateral com iluminação distal.
O passo seguinte no aperfeiçoamento do broncoscópio se deve ao Japonês Shigeto Ikeda (1925-2001), o qual, junto a Haruhiko Machida, apresentou, em 1964, o primeiro fibrobroncoscópio, cujo sétimo modelo foi lançado no mercado em 1967.
Em 1983, Ono e Ikeda e a companhia Ashai Pentax desenvolveram o videobroncoscópio, equipado com uma câmera em sua extremidade e que permitia a gravação eletrônica das imagens.
Em seu início, a broncoscopia fazia parte da otorrinolaringologia e depois da fundação, em 1950, da Associação Internacional para Estudo dos Brônquios (AIEB), passou a ser atribuição da pneumologia.


             TORACOSCOPIA

A toracoscopia diagnóstica ou médica e a toracoscopia cirúrgica nasceram ao mesmo tempo. Isso aconteceu no início do século XX, no auge da luta contra a tuberculose quando, por acaso, foi descoberto que cavernas pulmonares cicatrizavam espontaneamente em pacientes portadores de pneumotórax. Em 1910, a observação desse fato levou a Hans Christiansen Jacobeus, um médico interno do Hospital Serafimerlasarettet de Estocolmo, a usar um cistoscópio para examinar, pela primeira vez, a cavidade pleural e seccionar aderências pleurais causada por sequelas de tuberculose. Ele descreveu o procedimento em um artigo publicado em 1911, intitulado “A Possibilidade de se Realizar Cistoscopia no Exame de Cavidades Serosas” . Em 1915, Jacobeus criou o primeiro toracoscópio.
Em 1924, John Singer publicou o primeiro trabalho científico sobre toracoscopia e, em 1928, Felix Cova publicou o “Atlas da Toracoscopia”.
O uso da toracoscopia arrefeceu a partir de 1945 com a introdução da estreptomicina no tratamento da tuberculose. Na década de noventa, com o avanço da instrumentação, com melhores lentes, com o uso da fibra ótica nos endoscópios e com o advento da vídeoendoscopia o método voltou a evoluir rapidamente. Hoje a toracoscopia operatória se chama cirurgia vídeoassistida e é realizada em blocos cirúrgicos, ficando o termo toracoscopia reservado para os procedimentos diagnósticos realizáveis em ambientes broncoscópios.

LAPAROSCOPIA

A laparoscopia diagnóstica precedeu a laparoscopia cirúrgica.
O início da laparoscopia se deve ao cirurgião alemão de Dresden Geog Kelling que, em 1901,realizou o que chamou de “celioscopia“, técnica de enchimento com ar do abdômen de um cão vivo para inspecionar suas vísceras com um cistoscópio de Nietze. No mesmo ano, Dimitri Ott, ginecologista russo, realizou a “ventroscopia", usando um espelho frontal como fonte de luz para examinar o interior do abdômen com um espéculo na parede abdominal. Em 1910, Hans Christian Jacobeus, do Hospital Serafimerlasarettet de Estocolmo, procedeu ao que chamou de “laparoscopia", estudando a cavidade abdominal de uma série de pacientes.
No ano seguinte, Bertran Bernhein fez a primeira laparoscopia diagnóstica n os Estados Unidos.
O desenvolvimento da laparoscopia dependeu do desenvolvimento de técnicas de pneumoperitôneo aperfeiçoadas por Raoul Palmer, de Paris, em 1947 e pelo Professor Kurt Semm, ginecologista e engenheiro, de Kiel, na Alemanha. Dependeu também da tecnologia como as lentes de visão oblíqua desenvolvidas por H, Kalk em 1929 e, principalmente, pela introdução da tecnologia de fibra ótica por Hopkins e Kapany na Inglaterra.
O primeiro caso de laparoscopia urológica diagnóstica foi descrito em 1976 por Cortese e colaboradores que localizaram testículos criptosquídicos abdominais bilaterais em um adulto. O desenvolvimento da laparoscopia foi em parte retardado pelo aparecimento da tomografia axial computadorizada e pela ecografia, porém o desenvolvimento da videolaparoscopia, permitindo a visão do procedimento simultaneamente, por mais de um operador, impulsionou o método tanto no diagnóstico como na terapêutica.

ARTROSCOPIA

A primeira artroscopia foi realizada em Tóquio pelo Professor K. Takagi. Ele, na sua primeira experiência, usou um cistoscópio para examinar um joelho e depois desenvolveu um aparelho que ele denominou de artroscópio específico para o procedimento. Takagi aperfeiçoou o aparelho e, em 1932, conseguiu fotografias de artroscopia e em 1936 obteve imagens cinematográficas e fotografias coloridas com o procedimento.
Eugen Bircher de Aarau na Suíça, em 1921, publicou o resultado de 20 artroscopias usando um toracoscópio de Jacobeus. As contribuições de Takagi e de Bircher propagaram a artoscopia em países de língua inglesa e, em 1925, Philip H. Kreuscher apresentou à Sociedade Médica de Illinois um relato sobre lesões de meniscos identificadas em artroscopias. A seguir, o Dr. Michael Burmann do Hospital de Doenças Articulares de Nova Iorque usou um instrumento criado por R. Wagner para artroscopias do tornozelo, cotovelo e ombro.
Em 1957, o Dr. Masake Watabe, sucessor de Takagi publicou o Atlas da Artroscopia e, em 1960, apresentou Artroscópio 21 que se tornou o aparelho de excelência usado no procedimento por décadas.
SITES CONSULTADOS EM JUNHO E JULHO DE 2013:

 

Postagens anteriores:


HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNÓSTICO MÉDICO – ONDAS DE CHOQUE - RUÍDO E SOM - PERCUSSÃO E AUSCULTA.
HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNOSTICO MÉDICO = ONDAS DE CHOQUE - PULSO E PRESSÃO ARTERIAL.

Próxima Postagem:

          HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNÓSTICO MÉDICO – ESPECTRO ELETROMAGNÉTICO = RAIOS X




[1] A fibra ótica foi patenteada por John Bairden em 1926.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNÓSTICO MÉDICO - ONDAS DE CHOQUE - RUIDO E SOM - PERCUSSÃO E AUSCULTA

Prof. Dr. João Eduardo Irion

INTRODUÇÃO

A história do som na medicina também se perde no tempo porque a ausculta dos órgãos internos era conhecida na antiguidade, e uma das primeiras referências do uso do som na medicina se deve a Hipócrates que, em sua obra “De Morbis”, (400 a.C.), refere-se à ausculta dizendo: “se você escutar colocando o ouvido no peito...”
Mais recentemente a história registra as palavras proféticas do cientista inglês Robert Hooke (1653-1703) quando antevê a importância da ausculta na medicina: "... eu fui capaz de ouvir claramente o batimento do coração humano... quem sabe, pelos sons que os movimentos dos órgãos internos fazem, possamos descobrir as tarefas efetuadas em vários escritórios e lojas do corpo humano, e daí reconhecer que instrumento ou máquina está com defeito.
A clínica médica moderna começou a se estruturar na França no século XIX, graças ao trabalho de três médicos que vou chamar “trio de ouro”, formado por Corvisart que fundamentou a clínica médica, Laënnec que modificou a ausculta criando o estetoscópio e Auenbrugger o criador da percussão no exame físico do paciente.
Jean Nicolas Corvisart (1755-1821) nasceu em Dricurt, França e era filho de uma família tradicional. Seu pai, procurador da coroa, queria que se dedicasse à advocacia e lhe cortou o sustento quando Jean começou estudar medicina. Corvisart trabalhou como bedel de anatomia e também como vendedor de livros para custear seus estudos. Titulou-se médico antes de completar 18 anos, em 14 de novembro de 1782. Ao procurar trabalho como médico no Hôpital de Paroisses (Hospital s Paróquias), fundado pela Sra. Necker, esposa do Ministro das Finanças de Louis XVI, não foi aceito porque se recusou a usar peruca durante o trabalho. Contentou-se, então, a trabalhar em Saint Sulpice. Com sua grade capacidade de trabalho e seu poder de observação, tornou-se professor e mais tarde ganhou a confiança de Napoleão Bonaparte, tornando-se seu médico. Napoleão dizia: “eu não acredito na medicina, mas acredito em Corvisart”.
Corvisart estruturou a clínica médica e publicou livros de sua autoria. Entre eles: Aphorismes sur la consaissance et le caractère des fievres”, 1797 “Éloge de Debois de Rochefort”, 1789, “Essai sur les maladies et les lésions organiques du couer et des gros vaisseaux”, editado em 1806 e traduzido para várias línguas.
Ele traduziu para o francês e publicou o livro de Leopold Auenbrugger sobre percussão, cujo original fora escrito em latim e introduziu a percussão no exame clínico do paciente. A tradução recebeu o título “Nouvelle méthode pour reconnâitre lês maladies internes de la poitrine par la percussion de cette cavité”, 1808.
Corvisart foi professor de médicos que se destacaram na história da Medicina, entre eles Laënec, Dupuitren e Bicha.

A PERCUSSÃO

A percussão foi um método médico usando o som para o exame físico criado pelo médico, músico e compositor Josef Leopold Auenbrugger von Auenbrugg (1.722-1.809), nascido em Graz, na Áustria.
Auenbrugger trabalhou, sem remuneração, como médico no Hospital Militar de Viena onde, lembrando que seu pai percutia os barris para ver o nível do vinho remanescente e usando seus conhecimentos musicais, desenvolveu a técnica de percussão. Em 1761, Auenbrugger publicou seu trabalho num opúsculo em latim com o título “Inventum novum ex percussione thoracis humani ut signo abstrusos interni pectoris morbos detegendi”. O livro, por estar escrito em latim, não teve muita divulgação, embora muitos médicos passassem a utilizar a percussão na prática clínica. Somente depois que Corvisart publicou o livro traduzido para o francês, a percussão entrou definitivamente na prática clínica.

A AUSCULTA E O ESTETOSCÓPIO

A ausculta direta, realizada encostando-se o ouvido no corpo do paciente já estava consagrada na prática clínica no século XIX, mas deu lugar à ausculta indireta nos meados do Século XIX depois da invenção do estetoscópio.
O inventor do estetoscópio foi o médico francês de origem céltica nascido na cidade de Quimper em 17 de fevereiro de 1781e falecido em 13 de agosto de 1826 que, no batismo, recebeu o nome de René, em homenagem ao pai, Téophile em homenagem ao avô, Hyacinthe em homenagem à tia-avó. René, de origem bretão, tinha o sobrenome de Laënnec, palavra que profeticamente significa “pessoa instruída”. Aos cinco anos, o menino René Théophile ficou órfão e foi morar com seu tio Guilhaume, o Reitor da Faculdade de Medicina da Universidade de Nantes, onde estudou medicina tendo Corvisart como um de seus mestres.
A ausculta direta tinha inconveniente – na classe alta era dificultada pelo pudor que impedia que as mulheres tirassem as roupas e na classe baixa era repugnante para o médico no hospital encostar o ouvido no tórax de pessoa que não tomava banho. Segundo Laënnec “... a ausculta direta de encostar o ouvido no tórax é desconfortável, tanto para o medico como para o paciente e provoca repugnância que torna impraticável no hospital. É inconveniente no exame de mulheres devido ao obstáculo físico que as mamas podem representar...”
A invenção do estetoscópio ocorreu quando Laënnec precisou atender uma senhora obesa em trabalho de parto. Ele narra assim o episódio:... “neste ano de 1816 eu fui procurado por uma jovem senhora em trabalho de parto com sintomas de cardiopatia. A possibilidade de percussão e ausculta cardíaca estava prejudicada pelo grau de obesidade. Tive uma ideia. Ocorreu-me que um som se amplifica quando transmitido através de um sólido. Lembrei-me que as crianças costumam arranhar com um alfinete uma das extremidades de um pedaço de madeira e ouvir o ruído nitidamente transmitido na outra. Imediatamente enrolei folhas de papel em forma de cilindro bem apertado, encostei uma ponta no tórax da gestante, me inclinei e apoiei o meu ouvido na outra. Pude perceber a ação do coração de uma maneira muito mais clara e distinta do que fora capaz até então pela ausculta direta.”
A partir da descoberta, Laënnec empenhou-se em aperfeiçoar o instrumento que batizou com o nome de “estetoscópio” palavra formada pelo ante-positivo grego “stethos” que significa peito e pelo pós-positivo grego “scopein” cujo significado é exame.
O primeiro estetoscópio criado por Laënnec era um cilindro de madeira com 33 cm de comprimento por 5 cm de diâmetro. No aparelho original, o cilindro estava dividido em duas partes para serem acopladas quando em uso a fim de “facilitar seu transporte” como ele mesmo declarou.
Laënec publicou sua experiência num livro com um título longo: “De L’Auscultation Médiate ou Traité du Diagnostic des Maladies des poumons et du coeur, fondé principalement sur ce nouveau moyen d’exploration”. Par R.T.H. Laënnec, D.M.P., Médecin de l’Hôspital Necker, Médecin honoraire des Dispensaires, Membre de la Société de la Faculté de Médecine de Paris et de plusieurs autres sociétés nationales. Pouvoir explorer est, à mon vis, une grande partie de l’art”.
No livro, havia um capítulo com instruções para a construção de um estetoscópio e vendia um estetoscópio com um acréscimo de 2.500 Francos.
O estetoscópio se tornou, além um instrumento médico, um símbolo que identifica os médicos.
A cronologia temporal da evolução do estetoscópio é a seguinte:

MODELO MONOAURICULAR:

1– O primeiro modelo criado por Laënnec compunha-se da anexação às extremidades uma peça torácica e outra auricular;
2- Em 1828, Pierre-Adolpho Piorry adelgaçou o tubo à espessura de um dedo e introduziu na extremidade torácica, uma peça em forma de tuba, e na auricular, uma oliva adaptável ao ouvido;
3- Em 1876, Pinard criou o modelo de metal monoauricular ainda em uso, para fins obstétricos.

MODELO BIAURICULAR

1 – A invenção do modelo bi-auricular é incerta
2 – Em 1885, George P. Cammann inovou ao construir o tubo com material flexível
3 – Em 1937 William J. Kerr criou o estetoscópio diferencial, o simbalofone. Nesse, a conexão em Y não existe e foi substituída por duas peças torácicas e dois tubos distais em paralelo para a detecção da audição estereofônica.
4- A campânula original foi substituída por uma membrana
O museu do Instituto de Patologia das Forças Armadas em Washington possui uma coleção da maioria dos modelos construídos de estetoscópios, incluindo a réplica, tanto do cilindro de papel quanto do protótipo de madeira de Laënnec.

BIBLIOGRAFIA:

Sites consultados na internet em julho de 2013:
http://www.historiadelamedicina.org/corvisart.html
            www.pacs.unica.it/biblio/lesson7

PRÓXIMA POSTAGEM – ESPECTRO ELETROMAGNÉTICO – LUZ VISÍVEL – ENDOSCOPIA.

domingo, 7 de julho de 2013

SOBRE CACEQUI

Texto de João Eduardo Irion
Fotografias de José Irion Neto

                                        
Pórtico de entrada da cidade em construção

Cacequi é uma cidade brasileira situada na Depressão Central do Estado do Rio Grande do Sul a 450 km a oeste de Porto Alegre, capital do Estado, na latitude 290 53’ 01’’-Sul e Longitude. 54 0 49’ 30’’ – Oeste. Sua população é da ordem de 14.000 habitantes.
A cidade está situada na planície conhecida como pampa gaúcho na micro-região que pode ser classificada como mesopotâmia, termo que significa “terra ou região entre rios” porque a cidade está cercada por três rios: ao sul da cidade está o rio Cacequi, (que lhe dá o nome) que é afluente do rio Santa Maria, situado a oeste o qual, por sua vez, é afluente do rio Ibicui que fica ao norte.


Mapa do Google modificado. Cacequi na mesopotâmia formada pelos rios Cacequi, ao sul, rio Santa Maria a oeste e rio Ibicui ao norte.

CACEQUI E A FERROVIA

Cacequi se desenvolveu graças a ferrovia. Os trilhos vindos de Santa Maria chegaram a Cacequi no ano de 1890. Em 1896 ficou completa a ligação ferroviária entre Cacequi e a cidade de São Gabriel. Em 1907 a estrada de ferro se estendeu de Cacequi até à cidade de Alegrete e em 1910 completou-se a ligação ferroviária de Cacequi com a cidade de Santana de Livramento. Desde então quatro trens de passageiros chegavam a Cacequi todos os dias da semana, exceto ao domingos e permaneciam na portentosa estação, inaugurada em 1,890 entre 11 e 13 horas. Cacequi era o ponto de baldeação e de almoço dos viajantes e para isso a estação tinha, na época, o maior restaurante do Estado. Nesse intervalo de tempo o movimento à Estação era intenso porque os quatro trens transportavam diariamente entre 400 e 600 pessoa. Infelizmente isso não acontece mais desde o dia 2 de fevereiro de 1996 quando cessaram de circular os trens de passageiros que se cruzavam em Cacequi. A estação é hoje um museu e um centro cultural.cultural.

 Estação Ferroviária de Cacequi. Fotografia panorâmica à esquerda e fotografia detalhada  direita.

O MACACO BRANCO

Cacequi, além da importância que mantém como entroncamento ferroviário, é chamada de Capital da Melancia porque as melancias cultivadas na região estão entre as mais deliciosas do país.
Nesse trabalho desejo destacar que Cacequi possui dois pontos inusitados de beleza, um foi criado pela natureza e outro pela mão do homem.
O “Macaco Branco” é obra da natureza. Trata-se de uma formação geológica peculiar do Rio Grande do Sul. Ele é uma grande escavação cujo local mais profundo tem cerca de 80 m. É uma escavação oriunda da ação da água da chuva e do vento sobre o arenito da região. Esse tipo de formação geológica não pode ser classificado como um cânion porque não tem a forma típica, não está numa região montanhosa e não tem no centro um rio que lhe dê origem. Também não pode ser considerada como um despenhadeiro porque está numa planície e não numa cadeia de montanhas. O povo gaúcho usa linguagem própria para designar fatos, atos e circunstâncias da vida no pampa e assim classifica escavações do tipo Macaco Branco como “voçorocas” palavra que vem do tupi – “mbos’soroca” que significa quebrado ou rompido.
O Macaco Branco é de uma beleza indescritível como atestam as excelentes fotografias de Jose Irion Neto que ilustram esta exposição.








 Fotografias do Macaco Branco - direita vistas panorâmicas. À esquerda fotografias localizadas.


A PONTE DO RIO SANTA MARIA
Outro ponto alto da paisagem cequiense é a ponte metálica da estrada de ferro sobre o rio Santa Maria, no ramal ferroviário entre Cacequi e Uruguaiana concluída em 15 de novembro de 1907. Essa é a maior ponte ferroviária em aço da América Latina com 1473 m de extensão.



Ilustração 7 – fotografias da ponte sobre o rio Santa Maria, com destaque para as areis brancas que caracterizam as praias dos rios da região.



ESCOLA MUNICIPAL EULÁLIA IRION

Eu, meus irmãos, nossos filhos, nossos netos e minha bisneta temos orgulho de existir em Cacequi uma escola com o nome de nossa mãe. Ela, a Professora Eulália Oliveira Irion lecionou em Cacequi na década de 30 até ao final da década de 40. Nosso orgulho vai além: na década de 50 a Professora Eulália, Dona Lalica para os íntimos e para os amigos, lecionou em Santa Maria e essa cidade a homenageou dando seu nome a uma de suas ruas.

Ilustração 9 – Escola Municipal Eulália Irion em Cacequi

quarta-feira, 3 de julho de 2013

HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNÓSTICO MÉDICO = ONDAS DE CHOQUE PULSO E PRESSÃO ARTERIAL

Prof. Dr. João Eduardo Irion

INTRODUÇÃO

Um dia, não me lembro qual, no ano 2005, eu decidi usar minhas anotações para escrever a história do uso das radiações no diagnóstico em medicina. Na minha visão endocentrista de radiologista e de médico nuclear, o objetivo era contar a história do uso dos raios X e dos raios gama no diagnóstico.
Quando me preparava para iniciar o trabalho, então lembrei que “radiação é o transporte de energia por meio de ondas ou partículas que partem de um ponto e se propagam em todas as direções independentemente de diferença de potencial”. A definição mudou o alvo do projeto, para nele incluir outras radiações usadas no diagnóstico, mas que foram ofuscadas pelo impacto da descoberta dos raios X.
Essa história não inclui as radiações corpusculares porque elas são usadas em diagnóstico e estão envolvidas somente no campo da terapia.
Existem duas classes de radiações usadas em medicina: as ondas de choque e as radiações eletromagnéticas. As ondas de choque compreendem o ruído, o som e o ultrassom. Todas elas têm aplicação no diagnóstico e farão parte do estudo.
Nem todas as radiações eletromagnéticas são usadas no diagnóstico médico e por isso o estudo está limitado às dos raios X e dos raios gama, do espectro visível, dos raios infravermelhos, da radiofrequência e dos raios-T. Ficam de fora os raios ultravioletas e as microondas as quais não têm aplicação no campo do diagnóstico.
Antes do histórico vou apresentar uma classificação genérica de como as radiações são utilizadas no diagnóstico, segundo meu ponto de vista. Há radiações usadas para fornecer informações que chamarei de não-imagem. É o caso das ondas de choque usada na cronometragem do pulso arterial e na medida da pressão arterial. É caso também do uso do som na ausculta e na percussão. Outras radiações fornecem imagens: é o caso dos raios X (na radiografia), dos raios gama, (na cintilografia) e do ultrassom (na ultrassonografia), embora também elas possam fornecer informações do tipo não-imagem tais como quantificações e gráficos.
O ruído, o som e a luz visível são perceptíveis por nossos sentidos, mas o mesmo não acontece com o ultrassom e as demais radiações eletromagnéticas, embora os raios X de alta energia, os raios gama e os raios cósmicos possam produzir o fenômeno chamado fosfene. O termo fosfene se refere à percepção de radiações de alta energia quando atuam de modo indireto na retina ou, então, quando fontes intensas de radiações, em condições de baixa umidade, são sentidas pondo os cabelos dos braços em pé ou criando a sensação de formigamento da pele.
A percepção das radiações eletromagnéticas (exceto a luz visível) e do ultrassom só é possível por meio de equipamentos especiais, genericamente classificados como transdutores, embora não se use essa palavra para designar os complexos aparelhos de radiologia, ultrassonografia, ressonância magnética e medicina nuclear.
Esta história pretende contar não só a descoberta de cada radiação, mas também a destacar os gênios que estudaram a natureza de cada uma delas e criaram aparelhos e técnicas para utilizá-las no diagnóstico.
O projeto é postar neste blog, de tempos em tempos, na medida em que conseguir elaborá-los os seguintes temas:
·        A história das ondas de choque e seu uso na medida do pulso de da pressão arterial;
·        A história do ruído e do som no seu uso na ausculta e na percussão;
·        A história do espectro visível e seu uso na endoscopia;
·        A história dos raios X e seu uso na radiologia;
·        A história da radioatividade e seu uso na Medicina Nuclear;
 ·        A história da radiofrequência na ressonância magnética;
·        A história do ultrassom e seu uso na radiologia;
·       A história dos raios infravermelhos e uso na termografia;
·        A história dos raios T e perspectiva de uso em diagnóstico.
·        A história do campo magnético na magnetografia.

ONDAS DE CHOQUE: PULSO ARTERIAL 

A preocupação dos médicos com o pulso se perde no passado. Os antigos egípcios já conheciam a origem da pulsação e da função de bombeamento do coração. O pulso foi mencionado no papiro de Edwin Smith que data de 1600 a.C. no papiro terapêutico de Thebes de 2552 a.C. e no papiro de Ebers de 1550 a.C. Nesse último papiro está dito que “colocando-se os dedos sobre várias partes do corpo verifica-se que o coração "fala" através dos vasos”.
No hieróglifo do papiro de Smith, o símbolo à direita representa um contador de tempo à base de sementes.
                              
Herphilus de Alexandria (335-280 a. C), que é considerado clínico e também o primeiro anatomista, influenciado por Hipócrates (460 a.C.), fundou a “doutrina do pulso”, descrevendo com exatidão as pulsações e as correlacionou com a sístole e a diástole cardíaca, afirmando que o pulso é um fenômeno que ocorre dentro dos vasos. Erasistratus (330 a.C.), o fundador da fisiologia, considerou que “o coração dá origem ao espírito vital que é levado pelas artérias a todas as partes do corpo”.
Foi Lucius Annaeus Sêneca (4 a.C. - 65 d.C.) quem disse "O médico não pode receitar por carta o momento de comer ou de banhar-se; ele deve tomar o pulso."

O PULSILOGIUM

Veremos a seguir que o pulso desempenhou importante papel na origem do primeiro aparelho usado em medicina e também no aperfeiçoamento do relógio.
Galileu Galilei (1564/1642) descobriu as propriedades do pêndulo quando observou na catedral de Pisa um sacristão puxar um candelabro para acender-lhe as velas e largá-lo oscilando. Galileu, nesse momento, usou sua própria pulsação para medir o tempo de oscilação do candelabro. Com essa observação Galileu deu início aos estudos dos pêndulos.
Em novas observações Galileu verificou que o tempo de oscilação de um pêndulo depende de seu comprimento e assim ele teve a ideia do procedimento inverso: variar o comprimento do pêndulo e comparar sua freqüência de oscilação com o a frequência do pulso. Foi assim que em 1602, surgiu o invento chamado “pulsilogium” aparelho simples que, se fosse batizado hoje, receberia o nome de “pulsímetro”.
O pulsilogium é um pêndulo no qual o operador pode mudar o comprimento para fazer o número de oscilações coincidirem com o número de pulsações de um paciente. O aparelho não mede tempo, apenas correlaciona frequências, criando um método objetivo para o médico acompanhar, pela variação de comprimento do pêndulo, a evolução da doença e a eficácia do tratamento.
                                       

O pulsilogium é considerado o primeiro aparelho usado em medicina e, como tal, foi o ponto de partida da instrumentação usada no diagnóstico. Não se sabe se a invenção do pulsilogium se deve a Galileu ou a seu amigo, médico de Pádua, chamado Santorio Santorio, Santorio Santorii ou Sanctorius de Pádua (1561 - 1636) ou então aos dois, mas certamente Santorio o introduziu na prática médica..
Galileu e seu filho Vicenzio construíram o primeiro relógio preciso, fundamentado nas propriedades do pêndulo. Em 1657, quinze anos depois da morte de Galileu, Chistian Huyugens publicou um livro descrevendo a construção de relógio de pêndulo, o que consagrou seu uso.
A construção de relógios a partir da invenção de Huygens permitiu a cronometragem das pulsações. A primeira referência à cronometragem das pulsações é atribuída ao médico inglês Robert Fludd.

ONDAS DE CHOQUE: A PRESSÃO ARTERIAL

O registro da primeira referência da diferença de pressão sanguínea é atribuída ao quadro da decapitação de São João do pintor Giovanni de Paola (1403-1493). Nesse quadro, há vasos jorrando e vasos gotejando.
Considera-se como primeira tentativa de medida da pressão arterial a experiência do reverendo inglês Stephen Hales, realizada em dezembro de 1733. Ele mediu a pressão arterial de uma égua, usando como manômetro um conjunto de tubos de cobre e vidro diretamente ligado a uma artéria do animal. Um século depois, em 1828, o médico e físico Jean Leonard Marie Poiseuille (1799-1869) melhorou o sistema de Hales criando um aparelho que chamou “hemodinamômemtro”.
Em 1856, o cirurgião J. Faivre fez, durante um ato cirúrgico, a primeira medida da pressão arterial num homem. A pesquisa para a medida não invasiva da pressão arterial apareceu e cresceu nos meados do século XIX. Em 1855, Karl Vierordt (1814-1884) estabeleceu o princípio de que para medir a pressão sistólica de forma indireta e não invasiva era necessário comprimir uma artéria até que a pulsação cessasse. Ele então inventou um sistema de pesos para bloquear a pulsação da artéria radial. Logo esse sistema foi aperfeiçoado por outros pesquisadores, porém nenhum sistema conseguiu gerar aparelhos, resultados e aplicações práticas.
Em 1896, Scipione Riva Rocci, Professor Assistente de Clínica Médica em Turim, resolveu definitivamente o problema da medida da pressão sistólica por meio de um equipamento prático e portátil. Ele deu a seu aparelho o nome de “angioparatlibometro”, nome que foi substituído por “esfiogmomanômeto”. O sistema proposto era formado por um tinteiro e um tubo de vidro ambos cheios de mercúrio ligados a uma pera que enchia um pneu de bicicleta. O principal aperfeiçoamento do esfigmomanômetro ocorreu em 1.901 quando pneu foi substituído por um manguito com 12 cm de largura por H. Von Recklinghausen.
Além do aparelho, Riva Rocci mudou a artéria a comprimir e escolheu a artéria umeral “por estar mais próxima da aorta, por não ter circulação colateral e porque pode ser comprimida em todas as direções".
Pelo sistema de Riva Rocci, a pressão sistólica era medida mediante a  compressão da artéria e simultaneamente tomando-se o pulso radial até desaparecer a pulsação. A segui a artéria era descomprimida lentamente e considerava-se como pressão sistólica o valor registrado no tubo de mercúrio no instante que o pulso radial reaparecia.
A medida da pressão diastólica permaneceu como um problema até que o médico militar russo Nicolai Segeivich Korotkoff (1874-1920) apresentou em 1904 à Imperial Academia Médica Militar de São Petersburgo uma tese com cento e setenta e oito palavras em russo sobre a técnica de medir a pressão arterial sistólica e diastólica, usando um estetoscópio.

BIBLIOGRAFIA:

Sites consultados na internet em junho de 2013:
http://historiadafisicauc.blogspot.com.br/2011/06/galileo-e-o-pendulo.html
http://www.fisiologiaufs.xpg.com.br/apostilas/historia_medida_pa.pdf
http://www.sitequente.com/frases/medico.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Robert_Fludd
http://publicacoes.cardiol.br/abc/1996/6705/67050001.pdf
PRÓXIMA POSTAGEM – ONDAS DE CHOQUE – PERCUSSÃO E AUSCULTA