Pesquisar este blog

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

A HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNÓSTICO MÉDICO - RAIOS X - SEGUNDA PARTE = AS PRIMEIRAS RADIOGRAFIAS, A CHEGADA DOS RAIOS X NO BRASIL - OS RAIOS X NAS GUERRAS - A HISTÓRIA DA EVOLUÇÃO DOS TUBOS DE RAIOS X - A HISTÓRIA DA FLUOROSCOPIA - A HISTÓRIA DA ABREUGRAFIA

Prof. Dr. João Eduardo Irion

ALGUMAS PRIMEIRAS RADIOGRAFIAS MÉDICAS

A descoberta de Roentgen foi rapidamente confirmada em muitos laboratórios que dispunham de equipamentos necessários para repetir suas experiências e verificar a descoberta dos raios X.
Campbel Swinton fez a primeira radiografia no Reino Unido, em 7 de janeiro de 1896. Logo depois, em 12 de janeiro, John Edwards, em Birmingham, usou uma radiografia para retirar uma agulha da mão de um cliente, e, em fevereiro, Ratcliffe, em Manchester, radiografou o pé de uma bailarina onde estava cravada uma agulha e conservou essa radiografia em sua escrivaninha até morrer.
A revista Lancet publicou em 23 de janeiro de 1896 a notícia da localização, por meio de radiografias feitas pelo Dr. Rudolph Albert von Kölliker, de um pedaço de faca nas costas de um marinheiro bêbado. Em abril, o Dr. Nelson, na Inglaterra, localizou por meio de uma radiografia uma bala no crânio de um paciente. A primeira radiografia médica nos Estados Unidos foi feita pelo Dr.Edwin Brant Frost para diagnosticar uma fratura de Colles.
A primeira radiografia odontológica foi obtida cerca de duas semanas após a publicação da primeira comunicação de Roentgen pelo Dr. Otto Walkhoff na Alemanha. Ele improvisou um filme e obteve a radiografia após uma exposição de 25 minutos. Em abril de 1896, C. Edmund Kells tornou-se o primeiro dentista a fazer radiografia dentária nos Estados Unidos e o primeiro, naquele país, a ter um aparelho de raios X no seu consultório.

A HISTÓRIA DA CHEGADA DOS RAIOS X NO BRASIL

No Brasil, o reflexo da descoberta dos raios X apareceu em 5 de novembro de 1896. Nessa data o Dr. Adolpho Carlos Lindenberg, natural do Estado do Rio de Janeiro, apresentou o trabalho intitulado “Dos Raios X no ponto de vista Médico-cirúrgico”. O trabalho teve o subtítulo: “These apresentada à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, por para obter o grau de Doutor em Medicina”. Na dissertação, o autor relata que a primeira radiografia feita no Brasil foi de autoria do Dr. Francisco Pereira Neves, do Rio de Janeiro.
Álvaro Alvim foi o primeiro a radiografar, em 1897, um caso de xipófagas, identificando os órgãos de cada uma delas.
O primeiro aparelho de raios X da América Latina chegou ao Brasil, na cidade de Formiga no Estado de Minas Gerias em 1898, enviado por Roentgen para o médico Dr. José Carlos Ferreira Pires. Com o aparelho, o Dr. José Carlos fez e primeira radiografia da mão de um de seus clientes. Ele também elaborou vários trabalhos sobre o uso de raios X em medicina.
Na década de 50, o aparelho do Dr. José Carlos foi exposto no Departamento de Radiologia da Associação Médica de Minas Gerais e depois disso o equipamento foi enviado para os Estados Unidos porque as Autoridades Governamentais Brasileiras não se interessaram por conservá-lo. Esse aparelho se encontra hoje no International Museum of Surgical Sciences em Chicago.

HISTÓRIAS DENTRO DA HISTÓRIA

Logo após a descoberta dos raios-X, embora fosse evidente a utilidade dos novos raios em medicina, prevaleceu a ideia de que a Radiologia limitava-se ao procedimento fotográfico, com campo de aplicação restrito à detecção de fraturas. De um modo geral, o Médico Radiologista era visto apenas como um médico com a capacidade técnica de produzir uma radiografia de boa qualidade, para que o clínico ou o cirurgião pudesse interpretá-la. Só lentamente é que se foi valorizando a importância da experiência do radiologista na interpretação das radiografias.
No início, as radiografias (ou isquiagrafias) visaram o exame do esqueleto graças ao contraste natural entre ossos e partes moles. O baixo rendimento, a produção irregular dos raios X (como veremos adiante) e o baixo poder de penetração da radiação gerada nos tubos de Crookes exigiam tempo de exposição entre 30 e 40 minutos para radiografar, ainda que de forma precária, estruturas com pouca espessura, tais como os pés ou as mãos. Esses fatores pareciam limitar o uso dos raios X ao exame de traumatismo ou na localização de corpos estranhos nos membros ou nessa região e dos corpos de adultos onde houvesse pouca espessura, ou na localização de corpos estranhos no tubo digestivo de crianças..
Naquela época, os céticos consideravam o uso de raios X limitado à cirurgia de extremidades, porém, imediatamente, outros médicos e físicos, animados com espírito de pesquisa, superaram obstáculos tecnológicos e biológicos, criando histórias paralelas que se seguiram à descoberta dos raios X. São essas histórias que contam como eles melhoraram a qualidade dos tubos, dos écrans e dos filmes, como reduziram o tempo de exposição na tomada de radiografias e como criaram dispositivos para melhorar a qualidade das imagens. Foram eles que, sob o ponto de vista biológico, ampliaram o uso médico dos raios X e expandiram o uso da radiologia para as partes moles e para o estudo de órgãos com o uso de contrastes artificiais. Foram eles que criaram métodos de proteção ao operador e do paciente.
Além da descoberta dos raios, as histórias de cada aperfeiçoamento, de cada técnica ou avanço compõem as bases da história da radiologia como nova e especialidade médica e que, por suas importâncias, são indispensáveis nesta e nas postagens seguintes deste relato.
Depois das primeiras imagens de uso médico no início de 1896, os médicos começaram a melhorar as precárias imagens produzidas pelos tubos de raios X comparando aos que foram os usados por Roentgen. Como eles avançaram na física, na química, na farmacologia, na ciência nuclear, na computação, na telemetria e na ciência da informação é a história de um século da radiologia médica.

HISTÓRIA DO USO DOS RAIOS X NA GUERRA

O uso dos raios X na guerra foi imediato. Na Guerra da Itália com a Abissínia em 1896, os médicos do exército italiano foram os primeiros a usar raios X para examinar feridos da batalha de Adwa que voltaram à Itália.
As primeiras radiografias no exército Britânico foram feitas no Royal Victoria Hospital em Netley perto de Southampton, em novembro de 1896, e, no ano de 1898, equipamentos portáteis foram enviados para Aldershot, Woolwich, Dublin e Gibraltar
O primeiro uso dos raios X em frente de combate ocorreram durante a Guerra Grego-Turca em 1897, quando a Cruz Vermelha Britânica, para ajudar os gregos, criou duas unidades hospitalares munidas de aparelhos de raios X. O uso dos aparelhos era responsabilidade do cirurgião F C Abbott, do St. Thomas’s Hospital de Londres e o operador dos aparelhos foi Robert Fox Symons (mais tarde Sir Robert).
Em seis semanas eles atenderam 114 feridos e fizeram entre cinquenta e sessenta radiografias, demonstrando ser possível obter boas imagens em hospitais de frente de batalha, desde que  fossem superados problemas como o transporte em segurança do equipamento. A maior dificuldade foi recarregar as baterias usadas para produzir a energia e o problema foi solucionado com o uso dos geradores do navio de guerra HMS Rodney.
Uma equipe rival da Cruz Vermelha Alemã usou com sucesso aparelhos de raios x para auxiliar os turcos, mas teve que enfrentar problemas idênticos com as baterias e dizem que as baterias eram recarregadas com bicicletas movendo geradores elétricos.
O primeiro uso dos raios X por tropas britânicas de uma guerra dos ingleses ocorreu em 1857, no campo de batalha. Esse fato aconteceu quando um “aparelho” foi enviado para a fronteira Noroeste, entre a Índia e o Afeganistão, onde o exército britânico combateu uma revolta das tribos locais. Nessa ocasião, os tubos de raios x eram transportados encaixotados e conduzidos por carregadores hindus para vencer o terreno acidentado. Além do transporte havia duas outras dificuldades a vencer: uma era a recarga das baterias e outra era enviar sem que as condições climáticas de temperatura e umidade derretessem a camada de gelatina sensível dos papéis radiográficos que eram utilizados durante essa campanha militar.
Nessa campanha, o General Wodehouse foi ferido durante um intenso fogo dos rebeldes e uma radiografia demonstrou um fragmento de bala na musculatura de sua coxa. Essa imagem demonstrou a importância do papel dos raios x como ferramenta na cirurgia militar.
Os aparelhos de raios X também foram usados na expedição do General (mais tarde Lord) Kitchener enviada para reconquistar o Sudão e vingar a morte, em 1885, de Gordon em Cartum.
O destaque do uso dos raios x na primeira guerra mundial cabe ao espírito humanístico de Marie Curie e sua filha Irène que organizaram na linha de frente, duzentas unidades fixas de raios X e montaram, em viaturas militares, vinte unidades móveis, que passaram a ser conhecidas como “Petit Curie” para atender os feridos na linha de frente. As duas cientistas estudaram a radiologia da época para elas mesmas operarem os equipamentos e para treinarem enfermeiros para operar as demais unidades.
Veremos, em postagens futuras, que o uso de raios X na guerra para localizar projéteis e corpos estranhos em feridos, foi um estimulo indireto à esteroradioscopia, estereoradiografia e  culminou com a invenção da tomografia linear.

EVOLUÇÃO DOS TUBOS DE RAIOS X

Roentgen usou um tubo de Crookes em forma de pera para fazer a radiografia da mão de sua mulher Anna Bertha e a radiografia da mão de Kölliker. Esses tubos não tinham um foco como origem da radiação Os raios eram produzidos pelo vidro da ampola na área onde aparecia a fluorescência, isto é, numa extensa área na extremidade oposta ao cátodo.
A extensão da área onde se originavam os raios tinha, como conseqüência, uma imagem de baixa nitidez devido à grande penumbra que era produzida. Ainda mais, a qualidade da imagem também era prejudicada pelo longo tempo de exposição (uma radiografia da mão exigia mais de 20 minutos de exposição) que exigia uma prolongada e incômoda imobilização do paciente. A primeira solução para melhorar a  nitidez foi blindar, no tubo, a área de produção de raios com uma lâmina de chumbo e dotá-la de uma pequena abertura para atuar como um pequeno foco, com a desvantagem de prolongar ainda mais os tempos de exposição. Esses fatores técnicos limitavam o uso de radiografias no exame de estruturas pouco espessas e tendiam a estimular o uso da fluoroscopia,[1] em detrimento da radiografia[2].
No ano de 1896, as pesquisas constataram que a forma dos tubos não importava e os tubos em forma de pera foram substituídos por tubos esféricos. Nesse ano, o Professor Herbert Jackson inventou os chamados “tubos focos”, utilizando a ideia já usada por Crookes. Esses tubos têm o cátodo côncavo para dirigir os raios catódios em um pequeno ponto focal em um alvo interposto à trajetória dos elétrons, chamado anticátodo, e não mais no vidro da ampla. Com a redução do tamanho do foco esses tubos produziam imagens mais nítidas, isto é, com menor penumbra.
Crookes demonstrara o aquecimento nos locais de choque dos raios cátodos. Hoje se sabe que 99% da energia cinética dos raios cátodos se converte em calor e apenas 1% dessa energia se transforma em raios X, e a conseqüência é o aquecimento no foco (o anticátodo), exigindo que ele seja construído com metais com alto ponto de fusão para resistir ao calor.
Outro fator importante na construção do anticátodo é o peso atômico dos metais usados, pois o rendimento do tubo, isto é, a conversão da energia cinética dos raios catodios em raios X é diretamente proporcional ao peso atômico do material no alvo.
Naquela época, o melhor metal então disponível para satisfazer essas duas qualidades era a platina, porque o tungstênio, que é o metal de alto peso atômico e entre os metais é o que tem o maior ponto de fusão (34100C), não podia ser usado porque, na época, não exista a tecnologia da metalurgia própria para ele. O tungstênio só foi usado depois de 1913 quando Coolidge desenvolveu a metalurgia desse metal. Por essas razões, os anticátodos eram construídos com uma placa delgada de platina sobre num suporte de níquel, como medida de economia devido o alto custo da platina.
Para aumentar a resistência dos anticátodos ao calor apareceram várias soluções, como, por exemplo, o anticátodo construído num bloco volumoso de metal e ligado a uma haste que, fora do tubo, dispunha de irradiador para dispersar o calor. Em outros tubos o anticátodo era refrigerado com água.O primeiro tubo com ándo refrigerado à água foi patenteado pela Philips em 1899.
Para reduzir o tamanho do foco, mas sem diminuir o tamanho do anticátodo, Carl Müller propôs a focagem linear, que usa anticátodo em forma de bisel, com inclinação de 45% na área de choque dos elétrons. Nesse caso, a inclinação da zona de impacto dos elétrons reduz o tamanho do foco emissor de raios X a um quadrado igual à largura da faixa de elétrons incidente.
As ampolas do tipo Crookes são classificadas como “tubos iônicos”, “tubos de gás” ou “tubos de cátodos frios” para distingui-las das “ampolas termiônicas’ ou “ampolas de cátodos quentes” que são os tubos de raios X hoje usados na radiologia”.
Até os anos 20 do século XX, o rendimento dos tubos iônicos era problema sem solução. Nos tubos a gás, o complexo “raios cátodos / raios X” depende da quantidade do gás residual (sem o gás residual a ampola não funciona). A ionização produzida pela alta tensão entre os eletródios origina íons positivos que são atraídos pelo cátodo onde se chocam e liberam os elétrons que passam a compor o feixe de raios catodios.
O rendimento de um tubo é avaliado pela quantidade produzida de raios X, enquanto a qualidade dos raios X é medida pelo poder de penetração da radiação. No tubos a gás, o rendimento é proporcional à pressão do gás residual e o poder de penetração é proporcional à tensão entre os eletródios. Em outras palavras, quanto menor a quantidade de gás, menor o rendimento do tubo, e tanto maior é a tensão exigida e, portanto, maior é o poder de penetração dos raios X obtidos.
O rendimento dos tubos a gás é errático porque, durante o funcionamento, as moléculas de gás são progressivamente absorvidas pelo vidro do tubo e com isso cresce o vácuo, consequentemente é exigida maior voltagem entre os eletródios. Diz-se então que a ampola se torna “dura” e a sua operação fica mais difícil.
Para manter a pressão do gás em valores constantes foram inventados diversos dispositivos reguladores. Em 1896, Henry Lya Saÿen, nos Estados Unidos, desenhou o primeiro tubo com regulação de vácuo e logo diversos tubos desse tipo foram comercializados nesse país e na Europa. Esses tubos tinham uma ampola acessória contendo clorato de potássio que vaporizava quando aquecido, diminuindo o vácuo. Outros tubos usavam diferentes substâncias com o mesmo fim.
Em 1889, apareceu em Paris o tubo com regulador automático de vácuo, chamado de regulador osmótico, criado pelo Professor Villard. Esse tubo usava a propriedade do paládio o qual, quando aquecido até a incandescência, permite a passagem de hidrogênio. O tubo de regulação osmótica tinha a ele adicionado uma ampola de paládio. O tubo era “amaciado” pelo aquecimento do paládio com uma chama de gás para permitir a entrada de hidrogênio no aparelho.
Outras ampolas com diferentes tipos de reguladores automáticos da pressão tinham, acrescidos ao tubo principal, outra pequena ampola contendo substâncias que absorvem gás, como o carbono e a mica e que o liberavam quando eram aquecidas.
A busca de tubos com rendimento maior e estável pode ser avaliada pelo fato de que, em 1901, a British Roentgen Society promoveu um concurso para escolher o melhor tubo. Concorreram vinte e oito tubos e o vencedor foi um tubo de origem alemã.
O fato mais importante no desenvolvimento de ampolas de raios X foi a invenção em 1913, por Willian David Coolidge, da ampola termoiônica. Coolidge era um inventor notável que trabalhava com Thomaz Alva Edson. Nos seus 81 anos de vida obteve patente de 83 invenções suas.
Para desenvolver a nova ampola com um ánodo resistente ao calor, ele pesquisou metais com alto ponto de fusão, concluindo que o tungstênio era o metal ideal por sua dureza e resistência às altas temperaturas. Ele então desenvolveu a tecnologia da metalurgia desse metal para usá-lo na ampola que projetara.
A ampola de Coolidge, como passou ser conhecida, é totalmente diferente da ampola de Crookes. Na primeira, o vácuo é quase perfeito, e, como não existe gás residual a fonte de elétrons vem de um cátodo formado por um filamento de tungstênio enrolado em espiral que é aquecido por uma corrente elétrica controlável. Com esse filamento aquecido, Coolidge obteve elétrons pelo “Efeito Edson” como fonte de raios catódios. Dessa forma, a produção de elétrons e, consequentemente, o rendimento do tubo passou a ser controlado pela variação da intensidade da corrente elétrica que produz o aquecimento do filamento. Outra diferença entre as duas ampolas é que não tubo termoiônico desapareceu o anticátodo, cuja função passou a ser desempenhada pelo ánodo, também construído com tungstênio. Foi assim que Coolidge criou um tubo de raios X de rendimento controlável, estável e mensurável.
As primeiras ampolas de Coolidge tinham um ánodo fixo e cortado em bisel num ângulo de 45º, depois com o ângulo de corte passou para 19º. Inicialmente, as ampolas de maior rendimento eram refrigeradas por um radiador externo e, mais tarde, quando as ampolas passaram a ser fabricadas com ánodos giratórios, a refrigeração externa foi dispensada.
Por muitos anos, as ampolas de uso médico foram fabricadas com dois focos (o foco fino e o foco grosso), e hoje existem ampolas com três focos, com o acréscimo do foco extrafino para com ele se adquirir radiografias ampliadas. Nos aparelhos odontológicos, são usadas ampolas com foco único.
Em meados de 1920, a Philips lançou o tubo Metalix criado por Albert Bouwers no qual a produção de raios-X ocorria no interior de uma câmara metálica e. assim, a radiação proveniente do tubo era blindada, permitindo somente a saída do feixe principal de raios-X por uma janela de vidro.
Outro desenvolvimento que aumentou o rendimento dessas ampolas aconteceu em 1946, quando a Philips lançou o tubo “Rotalix” com um ânodo giratório por meio do qual a rotação do ánodo dissipa o calor e permite aumentar a tensão aplicada nos tubos de uso em medicina para 125 KV.

A FLUOROSCOPIA OU RADIOSCOPIA

O princípio da fluoroscopia foi estabelecido por Roentgen na descoberta dos raios X e ele assim o definiu: “se a mão for posta entre o tubo coberto e o écran, as sombras escuras dos ossos são vistas dentro da sombra menos escura da própria mão”.
A descoberta dos raios X levou diretamente ao uso da fluoroscopia porque exigia apenas um écran fluorescente num ambiente escuro, desde que o olho do operador se adaptasse à escuridão. Foi Trendelemburg que sugeriu o uso de óculos vermelhos para essa adaptação. A fluoroscopia evoluiu de uma simples tela sustentada nas mãos para o criptoscópio de Salvioni, o fluoroscópio de Edson, o seriógrafo e, finalmente, para o intensificador de imagens.
O primeiro dispositivo para a fluoroscopia foi apresentado, algumas semanas depois da descoberta dos raios X, pelo Professor Enrico Salvioni à Sociedade Médica e Cirúrgica de Perúgia com o nome de criptoscópio. O dispositivo fundamentava-se nas propriedades fluorescentes do platino cianeto de bário sob ação da radiação. A ele seguiram-se outras experiências similares que eram, em geral, utilizadas apenas em demonstrações realizadas em conferência com o fim de evidenciar a presença dos raios.
Atribui-se a Edson o mérito de inventar um dispositivo realmente prático para a realização de fluoroscopia em ambiente iluminado. Ele chamou sua invenção de fluoroscópio.
Assim que soube da descoberta dos raios X, Edson iniciou, em seu laboratório em New Jersey, a procura de cristais que produzissem fluorescência mais intensa que a fornecida pelo platinocianento de bário utilizado por Roentgen na descoberta dos raios X.
Edson encarregou seus auxiliares de investigar 8.500 substâncias das quais 1800 eram fluorescentes, entre essas foram selecionadas as 72 melhores e a preferência recaiu sobre o tungastato de cálcio.
Edson enviou um telegrama por cabo para Lorde Kelvin informando que “precisamente os cristais de tungstato de cálcio dão uma excelente fluorescência com os raios X, superando o platinocianeto de bário, fazendo a fotografia dispensável”. O final do telegrama contém um exagero que não se confirmou, pois a fluoroscopia não substituiu a radiografia.
O fluoroscópio de Edson era uma caixa de madeira em forma de tronco de pirâmide com  base quadrangular. Na parte interna da base existia um écran fluorescente. O ápice da pirâmide era truncado, tinha tamanho suficiente para acomodar os olhos do observador. Essa abertura era revestida com feltro para se ajustar à face do observador e impedir entrada de luz. Assim a fluoroscopia podia ser realizada mesmo em ambiente iluminado.
O fluoroscópio de Edson[3] foi comercializado até que, em 1904, o seu funcionário e assistente, o Sr. Dolly, que era encarregado de experimentar cada fluoroscópio fabricado, morreu por ação da radiação a qual se submetia durante sua tarefa.

O SERIÓGRAFO

A partir da década de 50, os aparelhos de raios X passaram a ter uma mesa para acomodar o paciente na qual estava acoplado o seriógrafo. Esse era um dispositivo dotado de um écran fluorescente e estruturado para permitir a aquisição em sucessão de radiografias (daí o nome). O seriógrafo era usado para aquisição em sequências rápidas de radiografias, especialmente no exame do tubo digestivo.


OS INTENSIFICADORES DE IMAGENS

O avanço principal da fluoroscopia aconteceu com a criação do intensificado de imagem cuja patente foi registrada, entre 1936 e 1937, por Irving Langmuir. Numa reunião da Sociedade Norte-americana de Radiologia em 1941, o Dr. W. Edward Chamberlain da Temple University propôs a substituição dos écrans de fluoroscopia por dispositivos de intensificação de imagens como os que já eram usadas no microscópio eletrônico e na televisão.
O intesificador de imagem é um dispositivo eletrônico composto por um tubo de vidro com vácuo, contendo na face que fica voltada para a fonte de raios X uma tela de cristais fluorescente de iodeto de césio, que absorve cerca de 60% da energia dos raios-X incidentes e a trasnforma em luz visível. Sobre essa tela existe outra de césio-antimônio que, pelo efeito fotoelétrico, converte os fótons de luz em elétrons. Os elétrons são acelerados em direção a uma tela de saída, feita de sulfêto de zinco-cádmio, ativado com prata, que convertem o fluxo de elétrons novamente em luz. O operador observa a  tela de saída ampliada por um cojnuto de lentes. A tela de entrada emite cerca de 400 fótons de luz para cada fóton de raio-X incidente, e a aceleração dos elétrons faz a tela de saída emitir aproximadamente 400 000 fótons de luz. O aparelho tem um ganho é da ordem de 5000 a 10 000.
O equipamento permite a fluoroscopia em ambiente iluminado, reduz a dose de exposição aos raios que recebem médicos e pacientes, permite gravação de imagens em video e filmes e também, com o uso uma câmara as televisão as transmite para um m monitor para ser interpretada por mais de um obervador.
A Segunda Guerra Mundial atrazou o lançamento dos intensificadores de imagens. Em 1951, a Philips lançou, na Europa, o primeiro intensificador de imagens com tela de 5 polegadas e, logo depois, no mesmo ano, a Westighousen fez o lançamento de seu aparelho nos Estados Unidos. Mais tarde os intensificadores passaram a ter telas de entrada de 22 polegadas e se tornou possível o exame de extensa pare do corpo humano.
Com os intensificadores a fluoroscopia no escuro se tornou coisa do passado.

A ABREUGRAFIA

Em todos trabalhos sobre história da radiologia pesquisados na Internet, este autor não encontrou menção sobre a abreugrafia (salvo na Weekpedia). A abreugrafia foi o processo de fotografia do écran fluorescente inventado pelo médico brasileiro Manuel Dias de Abreu e, portanto, como está relacionada com a fluoroscopia consta deste capítulo.
A abreugraia foi um procedimento de baixo custo que se tornoou decisivo no controle da tuberculose, a conhecida peste branca, que no século XIX foi responsável por 25% dos óbitos na Europa e, na França em 1918, respondeu por uma em cada seis mortes.
Manuel Dias de Abreu nasceu no Estado de São Paulo em 4 de janeiro de 1894. Formou-se médico na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1913. Em 1915, foi para a França onde trabalhou no Nouvel Hôpital de la Pitié, no Laboratório Central de Radiologia e no Hosital Laennerc e depois chefiou o serviço de raios X do hospital Hôtel-Dieu. Ele escreveu livros sobre radiologia e sobre a tuberculose. Ainda na França, Manuel de Abreu se interessou em criar um método para fotografar o écran e conseguir um processo barato de registro da imagem radiológica, para utilizá-lo na prospecção em massa da tuberculose.
Na França, em 1919, fez a primeira tentativa no sentido da fotografar o écran sem obter sucesso por motivos tecnológicos da época, tais como o fraco brilho dos écrans de platino cianeto de bário nas radioscopias, a qualidade dos filmes fotográficos e a sensibilidade das máquinas fotográficas disponíveis na época.
Em 1924, de volta ao Brasil, fez no Rio de Janeiro a segunda tentativa, também sem sucesso, usando o mesmo tipo de écran. Em 1933, Manuel, também no Rio de Janeiro fez sua terceira tentativa usando écran de sulfeto de cádmio e zinco, sem obter sucesso.
Abreu não desistiu e com isso o sucesso veio em 1937 quando, em suas experiências, usou écran de  tungstafo de cálcio. A partir daí, com auxílio da Casa Lohner, montou o primeiro aparelho de abreugrafia usando filme fotográfico de 35 mm (mais tarde foram montados aparelhos com uso de filmes de 40 mm).
O primeiro equipamento para uso em massa da população foi montado por Manuel de Abreu no Centro de Saude n°3, na rua Rezende 128, na cidade do Rio de Janeiro. Nesse local, no mesmo ano, foi inaugurado o primeiro Serviço de Cadastro Torácico. Entre 8 e 21 de julho desse ano, foram examinados 759 indivíduos dos quais 44 apresentaram lesões pulmonares detectadas pela abreugrafia
Manuel chomou seu método de “roentgenfotografia”. Em 1936, no I Congresso Nacional de Tuberculose, realizado no Rio de Janeiro, a Sociedade de Medcina e Cirurgira aprovou por unanimidade o nome de “abreugrafia” para o método. Esse nome não foi usado em outros países, assim o exame foi chamado de “radiografia de massa”, ou de “miniatura de radiografia toracica” no Reino Unido e nos Estados Undidos, “roentegenfluorografia” na Alemanha, “radiofotografia” na França, “esquermografia” na Itália, “fotoradioscopia” na Espanha e “fotofluorografia” na Suécia.
A importância da abreugrafia em especial no combate à tuberculose no Brasil se destaca pela criação da Sociedade Brasileira de Abreugrafia em 1957 e pela publicação da Revisa Brasileira de Abreugrafia.
A abreugrafia deixou de ser usada no Brasil em 1999, depois que os programas de saúde e o uso de antibiótico fizeram decrescer a incidência da tuberculose no país.

Potagens anteriores:


HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNÓSTICO MÉDICO – ONDAS DE CHOQUE - RUÍDO E SOM - PERCUSSÃO E AUSCULTA.
HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNOSTICO MÉDICO = ONDAS DE CHOQUE - PULSO E PRESSÃO ARTERIAL.
HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNÓSTICO MÉDICO – ESPECTRO ELETROMAGNÉTICO = RAIOS X
HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNÓSTICO MÉDICO – ESPECTRO ELETROMAGNÉTICO


Próxima Potagem:

 

         HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNÓSTICO MÉDICO - A HISTÓRIA DOS FILMES RADIOGRÁFICOS- A HISTÓRIAS DA REVELAÇÃO DOS FILMES RADIOGRÁFICOS – A HISTÓRIA DOS ÉCRANS REFORÇADORES




[1] Termo proposto por Edson
[2] O termo radiologia foi proposto ou usado pela primeira vez por Arthur Willis Goodspeed.
[3] Esse autor o usou no início da vida profissional.