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sábado, 17 de agosto de 2013

HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNÓSTICO MÉDICO = ESPECTRO ELETROMAGNÉTICO - RAIOS X - PRIMEIRA PARTE - A DESCOBERTA

Prof. Dr. João Eduardo Irion
A DESCOBERTA DOS RAIOS X

PESQUISAS ANTECESSORAS

Para a produção de raios X é preciso existir condução de eletricidade em gases rarefeitos. Esse fato remete o início dessa história para o século XVII, a partir das primeiras experiências sobre pressão atmosférica realizadas, em 1643, pelo italiano Evangelista Torricelli e logo depois, em 1646, pelo francês Blaise Pascal.
A primeira bomba de vácuo foi concebida por Otto von Guericke por volta de 1650. Foi com o ar rarefeito que esse cientista obteve importantes resultados relacionados à propagação do som e realizou, ao ar livre, a conhecida “experiência dos hemisférios de Magdeburgo”, por ocasião do Congresso Imperial de Ratisbon na Alemanha, em 1654. Nessa ocasião, Guericke tornou evidente o valor da pressão atmosférica. Com a bomba, Guericke retirou o ar dos dois hemisférios mantendo-os encaixados e, então, duas parelhas compostas de oito cavalos não conseguiram separá-los devido ao peso da atmosfera, mas separavam-se facilmente quando o ar voltava ao seu interior.
Em 1657, o químico inglês Robert Boyle com a ajuda de seu conterrâneo, o físico Robert Hooke, aperfeiçoou uma bomba de vácuo, conseguindo pressão a 102 Pascais”[1].
Quase dois séculos se passaram até que Michale Faraday, em 1833, aperfeiçoasse a bomba de vácuo Boyle-Guericke e realizasse as primeiras observações sobre a condução de eletricidade nos gases, verificando que a rarefação favorecia a produção de faíscas elétricas.
Por mais dois séculos, as pesquisas permaneceram estacionadas porque enfrentavam dois obstáculos: um deles era a criação de uma bomba de vácuo mais eficiente e outro era a dificuldade de fundir vidro com metal, causada pelos diferentes coeficientes de dilatação de um e outro. A fusão vidro com metal era a condição indispensável para a construção de ampolas de vidro fechadas e dotadas de eletródios metálicos.
Em 1855, o físico alemão Johann Henrich Wilherm Geissler superou as dificuldades: ele dominava a técnica de sopro de cristais e conseguiu desenvolver a técnica de soldagem entre vidro e metais e, ainda mais, construiu uma bomba de vácuo sem partes móveis que produzia vácuo pelo movimento de uma coluna de mercúrio.
Com esses avanços, Geissler passou a fabricar ampolas contendo eletródios metálicos e com pressão da ordem de 40 mm de Hg (ou 10-4 atmosfera equivalente 10 Pascais). Com essa pressão a passagem da corrente elétrica em tubos produz luz, cujas cores dependem do gás usado no seu interior e da tensão elétrica aplicada entre os eletródios. Essas lâmpadas são conhecidas como tubos de Geissler e, popularmente, são chamadas lâmpadas de gás néon, usadas em anúncios luminosos.
Geissler observou que, independentemente do gás usado, o vidro da ampola na área do tubo situada na frente do catódio mostrava fluorescência sempre com a mesma cor, deduzindo que o catódio era a fonte de uma radiação cuja natureza não soube determinar.
Em 1859, o físico e matemático alemão Julius Plücker demonstrou que os raios produzidos em tubos de Geisller eram desviados por um campo magnético. A seguir Hertz mostrou que esses raios atravessavam lâminas delgadas de metal quando estavam colocadas no interior do tubo na frente do catódio. Mais tarde, em 1869, o químico e físico alemão Johann Wilherm Hitorff provou que esses raios tinham trajetória retilínea e os chamou de “raios de brilho”.
Em 1876, o físico alemão Eugen Goldstein denominou os raios observados nos tubos de Geissler de raios catódios (kathodenshtrahlen).
A seguir, em 1875, o físico inglês Sir William Crookes aperfeiçoou a bomba e conseguiu fabricar tubos de alto vácuo, que foram chamados “ovos elétricos” ou “tubos de Crookes”, nos quais a pressão era 75.000 vezes menor que o vácuo dos tubos de Geisller ou equivalente a 1 Pascal[2].
Em 1879, Crookes denominou os raios catódios de “matéria radiante” e, depois, Jean Perrin, físico francês, demonstrou a carga negativa desses raios.
Em 1982, Lenard criou um tubo com perfuração no vidro, na parte oposta ao catódio e vedou a abertura com delgada lâmina de alumínio. Com essa ampola, ele descobriu que os raios catódios ultrapassavam a lâmina e podiam ser detectados fora do tubo, percorrendo pequena distância no ar. Essa radiação foi chamada de “raios de Lenard”.
Em 1895, o físico alemão Eugen Goldstein usou tubos de Crookes com perfurações no catódio e descobriu que por elas passavam raios de carga positiva cuja trajetória era oposta à dos raios catódios e os chamou de “raios canais”, "Kanalstrahlen”. Em 1907, com hidrogênio em ampolas desse tipo, os raios canais levaram à descoberta do próton.
Sir Joseph John Thomson, em 1897, demonstrou que os raios catódios eram elétrons e determinou a relação entre a carga e a massa dessas partículas.
Foi com um tubo de Crookes que, em 1895, Wilherm Conrad[3] Roentgen, físico alemão, descobriu os raios X,
Em resumo: os tubos de Geissler originaram os tubos de Hitorff e de Crookes. Nesse último foram descobertos os raios catódios, os elétrons, os raios canais, o próton, os raios de Lenard e os raios X. Conclui-se que nesses três tipos de ampolas está o ponto de partida da Física Atômica e da Física Quântica.

ANTECEDENTES

Um ano antes de descobrir os raios X, Roentgen, num discurso que fez na Universidade de Würzburg, citou F. Z. Kishner que foi um professor de filosofia da mesma Universidade, no século XVII. Naquela época, esse filósofo disse profeticamente:
Muitas vezes a natureza revela milagres espantosos que nascem das observações simples, mas só são conhecidas por aqueles que possuem sagacidade e agudeza investigativa e consultam a experiência, mestra de todo conhecimento”.
A análise da citação mostra, no início, a definição do que hoje se conhece pela palavra serendipidade e deixa claro que não se deve ao acaso a descoberta dos raios X. O fim da frase serve para definir as qualidades de um cientista, tal qual foi Roentgen.
Quando Pasteur disse: “O acaso só favorece mentes privilegiadas,” afirmou que “acaso” não existe na ciência porque os fenômenos naturais se repetem e somente são entendidos se forem observados por cientistas na verdadeira acepção da palavra.
Veremos a seguir que, no fim do século XIX, a descoberta dos raios X estava, como se diz popularmente, “caindo de madura”. A descoberta só não aconteceu antes porque faltou sagacidade e o espírito investigativo para vários cientistas competentes e de renome que deixaram passar as oportunidades oferecidas pela natureza. Se não fosse Roentgen com suas qualidades de pesquisador, os raios X permaneceriam ocultos, não se pode imaginar por quanto tempo.
As oportunidades perdidas foram: em 1890, trabalhando com raios catódios Crookes notou que suas chapas fotográficas muitas vezes estavam veladas. Ele reclamou, e o fabricante, a Ilford Company, substituiu as chapas. Como o fenômeno e a reclamação se repetiram, o fabricante afirmou que o problema não era das chapas, sugerindo que a causa residia no laboratório. Crookes não seguiu a sugestão e não investigou.
Johnson, Goldstein, Hittrorf e Lenard observaram efeitos semelhantes nas chapas fotográficas e, além disso, constataram a fluorescência de sais próximos das ampolas nos momentos da descarga elétrica, sem que, no entanto, procurassem explicações para os dois fatos.
Em 22 de fevereiro de 1890, na Universidade da Pensilvânia, Arthur Willis Goodspeed e William Jennings deixaram acidentalmente duas moedas sobre chapas fotográficas durante experiências com raios catódios e depararam com uma misteriosa fotografia das moedas quando as chapas foram reveladas Eles não atinaram com a origem do fato e só entenderam o ocorrido depois que tomaram conhecimento da descoberta de Roentgen.
As três histórias retratam a ação dos raios X sobre chapas fotográficas e écrans produzida durante experiências com raios catódios. Depois da comunicação de Roentgen, fatos como esses levaram muitas pessoas, em vários países, a alegar serem os verdadeiros descobridores dos raios X, principalmente, Philipp Lenard que se considerava o legítimo descobridor da nova radiação.

A DESCOBERTA

Quem descobriu os raios X foi o físico alemão Wilhelm Conrad Roentgen, Diretor do Instituto de Física da Universidade de Würzburg. Não se conhece bem a história da descoberta porque, infelizmente, por determinação de Roentgen, a maior parte de seus manuscritos, anotações e correspondências, foram destruídos após sua morte. Entre as fontes de informações que restaram está a entrevista que Roentgen deu, em seu laboratório na Universidade, ao jornalista americano da revista McClure’s Magazine chamado Henry J. W. Dam e que fora enviado à Alemanha em fins de janeiro de 1896. A revista publicou em abril a reportagem com a manchete “A nova maravilha em fotografia”.
O teor de um trecho da entrevista permite a dedução de que Roentgen conhecia os  fatos relacionados com o velamento de chapas fotográficas e a fluorescência de materiais durante a descarga de raios catódios que aconteceram com Crookes e Lenard e outros porque ele disse a Dam:
Eu estava interessado há muito tempo no problema dos raios catódios em tubos de vácuo estudados por Hertz e Lenard. Eu havia seguido suas pesquisas e a de outros, (grifo deste autor), com grande interesse e decidira que logo que tivesse tempo faria algumas pesquisas próprias”.
A descoberta dos raios X começou nos meados de 1895, época em que Roentgen recebeu tubos de Crookes para realizar as experiências que planejara, mas iniciou-as de fato no final de outubro de 1895. Era costume dos cientistas da época, e também de Roentgen, iniciar novas pesquisas repetindo as experiências feitas por outros. É possível que Roentgen, meticuloso como era, tenha iniciado os trabalhos da forma convencional e assim não se sabe quantos dias decorreram entre o começo da investigação e a descoberta dos raios X. Sabe-se o dia da descoberta porque Roentgen declarou na entrevista que descobriu os raios X na noite de sexta-feira, dia 8 de novembro de 1895.
Sabe-se também, por declaração de Roentgen. que o fato aconteceu altas horas quando já não estavam no laboratório seus auxiliares. Na experiência, ele usava um tubo de Crookes coberto com papel preto e nas proximidades estava um cartão coberto com sais de platino-cianeto de bário. Quando Roentgen ligou a alta tensão no aparelho de descargas (assim era como ele se referia aos tubos de raios catódios), chamou-lhe a atenção a fluorescência de um écran coberto com platino-cianeto do bário que estava longe do tubo.
Na entrevista, Roentgen descreve assim a descoberta:
Eu estava trabalhando com um tubo de Crookes coberto com uma blindagem de papelão preto. Um pedaço de papel com platino-cianeto de bário estava lá na mesa. Eu tinha passado uma corrente pelo tubo e notei um linha preta peculiar no papel”. A seguir prossegue : “O feito era algo que só poderia ser produzido, em linguagem comum, pela passagem de luz. Nenhuma luz poderia provir do tubo, pois a blindagem que o cobria era opaca a qualquer luz conhecida, mesmo a do arco elétrico.”
Então o repórter perguntou:
E o que o senhor pensou?”
Roentgen respondeu:
Eu não pensei: eu investiguei. Concluí que estavam saindo raios do tubo que tinham um efeito luminescente sobre o papel pintado com o platino-cianeto de bário. Testei com sucesso a distâncias maiores até mesmo dois metros. Ele parecia, inicialmente, um novo tipo de luz invisível. Era claramente algo novo, não registrado”.
Depois do dia 8, Roentgen disse a seu amigo Bovery:
Descobri algo interessante, mas não sei se minha observação está ou não correta”.
Bem mais tarde, numa carta enviada a seu assistente Ludwig Zehnder ele disse:
Para minha esposa mencionei apenas que eu estava fazendo algo sobre o qual as pessoas, quando descobrissem, iriam dizer: Roentgen provavelmente enlouqueceu”.
Por sua vez, sua esposa Anna Bertha, em uma carta datada de 4 de março de 1896, escreveu:
Quando Willi me contou em novembro que estava trabalhando em um problema interessante, não tínhamos ideia sobre como a coisa seria recebida”.
Roentgen não contou a mais ninguém, nem mesmo a seus assistentes, o que acontecera e o que estava fazendo. Encerrou-se no laboratório onde comia e dormia e, por várias semanas, estudou a nova radiação para diferencia-la da luz visível, dos raios ultravioletas, dos raios de Lenard e dos raios catódios. Uma vez convencido que descobrira um novo tipo de raios, chamou-os de rais-X, X-strahlen por desconhecer sua natureza.
Durante semanas ele estudou as propriedades dos novos raios descobrindo, entre elas, que os raios se propagavam em linha reta, que os raios não eram refletidos e nem refratados ou desviados por lentes, que eles provocavam fluorescência em certas substâncias, que eles impressionavam chapas fotográficas e, prinicipalmente, que atravessavam materiais, inclusive a carne, e que a transparência das substâncias estava relacionada à espessura do material e a sua densidade e não ao estado químico.
Durante a pesquisa, Roentgen radiografou vários objetos entre eles uma bússola, uma caixa de madeira contendo pesos de metal e o cano de uma e espingarda no qual havia uma rachadura, evidenciando a utilidade da descoberta no controle de qualidade da indústria especialmene na metalurgia[4].
No dia 25 de novembro, mostrou a sua mulher Anna Bertha o que estava fazendo. Nessa ocasião, fez a primeira radiografia de um ser humano: a radiografia da mão esquerda da esposa. Assim mostrou o caminho para o uso dos raios X em medicina.
No Natal de 1895, Roentgen concluiu seu trabalho redigindo uma comunicação na qual descreveu as propriedades dos raios X com tal precisão que depois de apresentado à comunidade científica nada de novo foi descoberto sobre a natureza e as propriedades desses raios. O artigo original sobre a descoberta levou o título "Ueber Eine Neue Art von Strahlen” que traduzido significa “Sobre uma nova espécie de Raios".
Roentgen levou em mãos o original ao Presidente da Sociedade de Física e Medicina de Würzburg no dia 28 de dezembro e o convenceu da necessidade de publicação imediata na revista da Sociedade, mesmo sem aprovação prévia da Comissão Editorial e sem apresentá-lo em uma reunião da Sociedade como era normal. O trabalho foi publicado, sem ilustrações, na Alemanha, em 5 de janeiro 1896, e sua tradução para o inglês foi publicada em Londres, pela revista Nature, no mesmo dia da apresentação de Roentgen à Sociedade de Física e Medicina. Seguiram-se as publicações na França em 8 de fevereiro pela revista L’Eclairage Electrique e nos Estados Unidos pela revista Science em 14 de fevereiro [5]. Logo depois foram publicados artigos sobre a descoberta no “Frankfurter Zeitung” de Frankfurt, no “The Electrical Engineer” de Nova York, no “Wuerzburger Anzeiger” de Würzburg, no “The Electrician”, no “Lancet” and “British Medical Journal” de Londres, no “Le Matin”, de Paris no “Times” e no “Science” de Nova York e no “La Settimana” de Florença.
Antes  que revista fosse editada, Roentgen conseguiu a impressão de separatas e, assim, já no dia 1º de janeiro as estava enviando pelo correio para noventa e dois cientistas do mundo com os quais se correspondia e que eram ao mais importantes e influentes Físicos e Médicos Europeus e Americanos da época[6]. O dossiê a eles enviado constava de cópia de sua comunicação, acompanhada de cópias de radiografias. Ele entregou pessoalmente o dossiê para os colegas da região. Já em 8 de Janeiro, Roentgen estava recebendo telegramas de cientistas cumprimentando-o, pedindo informações e remessa de radiografias.
No sábado, 5 de Janeiro de 1896, antes mesmo da apresentação oral que Roengen faria no dia 23 à Sociedade de Física e Medicina de Würxburg, o jornal austríaco de Viena “Neue Freie Press” noticiou a descoberta dos raios X com a manchete “Descoberta sensacional”.
No dia 13 de janeiro, atendendo convite, Roentgen fez um exposição do seu trabalho para o Kaiser Wilherlm II e para a Kaiserina. Nessa ocasião, foi condecorado com a Prussian Order of the Crown, Second Class, mas nesse e em outros momentos recusou receber títulos de nobreza.
No dia 23 de janeiro de 1896, Roentgen fez a apresentação oral de sua comunicação à Sociedade de Física e Medicina de Würzburg e, sob o aplauso dos presentes, radiografou a mão do Presidente da Sociedade o físico Albert von Kölliker o qual, propôs que os novos raios fossem chamados de raios de Roentgen e sua proposta foi entusiasticamente aclamada pelos presentes.

AS PESQUISAS SEGUINTES À DESCOBERTA

Roentgen publicou dois outros trabalhos sobre raios X. Para continuar as pesquisas e realizá-las durante o dia, construiu e colocou dentro de uma das salas de seu laboratório uma espécie de cabine vedada à entrada da luz.[7] Era uma caixa feita de zinco, dotada de uma porta de entrada, também hermeticamente vedada à luz. A cabine tinha tamanho suficiente para conter instrumentos e para uma pessoa permanecer em seu interior. Por dentro e na face oposta à porta, a caixa era internamente blindada com chumbo. Na parede blindada havia uma abertura coberta com alumínio soldado ao zinco para impedir a entrada de luz e permitir a passagem de raios X. No exterior da caixa a 4 cm de distância ficava o tubo de Crookes voltado para abertura coberta de alumínio. O dispositivo permitia a realização de pesquisa no escuro com a entrada da radiação por uma só abertura e, assim, sem que Roentgen percebesse, a blindagem com chumbo o protegia dos efeitos da radiação.
O segundo documento Eine neue Art von Strahlen (II Mittheilung)”, foi apresentado por Roentgen à Sociedade de Física e Medicina de Würzbur em 9 de março de 1896. Esse trabalho mostra que o ar e qualquer outro gás conduz eletricidade quando está exposto aos raios X que é o fenômeno que mais tarde ficou conhecido como ionização do ar pela radiação. Com essa observação, Roentgen deduziu que os raios de Lenard não eram, de fato, raios catódios fora do tubo, mas, sim, representavam os efeitos dos raios X sobre o ar vizinho ao tubo. Nesse trabalho Roentgen sugere a inclusão do aparelho de Tesla nos ciruitos dos equipamentos de raios-X para melhorar seu rendimento.
O terceiro e último trabalho sobre raios X Weitere Beobachtungen über die Eigenschahten der X-Strahlen”, foi apresentado em 20 de março de 1897 e relata que qualquer substância submetida aos raios X emitem novos raios X que são diferentes da radiação secundária resultante da dispersão do feixe principal. Nesse trabalho, ele fez uma série de medidas sobre a opacidade de diferentes espessuras de várias substâncias.

DEPOIS DA DESCOBERTA

Após a descoberta dos raios X, Roentgen recebeu o título de Doutor Honoris Causa em Medicina, da Universidade de Würzburg e, atualmente, é considerado o pai da Radiologia de Diagnóstico. O dia 8 de novembro, dia da descoberta, é considerado o Dia do Radiologista.
Devido à sua descoberta, Roentgen foi laureado com o primeiro Nobel de Física Nobel de Física, em 1901, concedido:
 "Em reconhecimento aos extraordinários serviços que a descoberta dos notáveis raios que levam seu nome possibilitaram".
Roentgen doou a recompensa monetária à sua Universidade, convicto de que a ciência deve estar a serviço da humanidade e não a serviço do lucro, seguindo a escola científica alemã da época. Pelo mesmo motivo, ele não patenteou a descoberta porque acreditava que ela deveria ser patrimônio da humanidade.
Silvanus Thompson, presidente da Roentgen Society de Londres, em 5 de novembro de 1897, na fundação dessa Associação, disse em sua primeira manifestação no cargo:
“Nenhuma descoberta de nosso tempo, ou que de qualquer tempo foi seguida por uma explosão imediata e universal da atividade científica”.
Entre a comunicação da descoberta e o tempo que a notícia se difundiu pelo mundo inteiro não decorreram mais de 15 a 20 dias. Foi uma velocidade espantosa para uma época em que a comunicação entre continentes era feita por cabos submarinos ou navios e a comunicação terrestre dependia de telégrafo e de trens nos países mais avançados.
Já no primeiro semestre de 1896, Sidney Rowland, que ainda era estudante de medicina, criou a primeira revista especializada em radiologia denominada “The Archives of Clinical Skiagraphy” com sede em Londres cujo primeiro número foi editado em maio de 1896. Em abril de 1897, a revista retirou do seu nome a palavra “Clinical” e passou a se chamar “The Archives of Skiagraphy”. Em junho de 1897, mudou novamente o nome para “The Archives of the Roentgen Ray”. Seguiram-se a fundação de The American X-ray Journal (1897), Fortschritte auf dem Gebiete der Roentgenstrahlen (1897), o Transactions of the American Roentgen Ray Society (1902) e o Journal of the Röntgen Society (1904).
Além de revistas e jornais, segundo publicou Otto Glasser no seu livro “Wilhelm Conrad Röntgen and the Early History of Roentgen Rays”, no ano de 1896, foram publicados 49 livros e mais de 995 opúsculos versando sobre o tema (possivelmente esses números estão abaixo da realidade porque eram resultados de uma visão limitada a publicações na Europa e Estados Unidos).
Já foi dito nesta exposição que, em 23 de janeiro de 1896, Kölliker propôs denominar Raios Roentgen a radiação que seu descobridor chamara de raios X. A proposta foi universalmente aceita, mas a denominação raios X acabou predominando possivelmente pela facilidade de pronúncia.
Quatro dias depois da apresentação de Roentgen em Würzburg, a Academia de Ciências de Paris fez uma enquete para encontrar a forma de designar as imagens fornecidas pelos novos raios. Entre as sugestões apresentadas estavam as palavras “skiagrafia”, “skotografia”, “gravação de sombras”, “roentografia”, “nova fotografia”, “eletro-skiagrafia”, “ixografia”, “electrografia”, “catodografia”, “fluorografia”, “diagrafia’, “actinografia”, “picnoscopia”, “fotografia com raios X” e outras.
Esquiagrafia é termo composto por radicais gregos para significar “gravação de sombras”. Foi essa denominação inicialmente adotada para as imagens, mas foi gradativamente substituída pela palavra radiografia, e seu uso desapareceu definitivamente por volta de 1918.
No ano de 1896, as revistas mencionadas e muitas outras publicações de outras áreas do conhecimento como as dedicadas à eletricidade à fotografia e outras, bem como jornais e magazines populares, foram abarrotados pela remessa de esquiagrafias.
No meio científico, quem tinha acesso a um tubo de Crookes procurava abrir um novo caminho para deixar sua marca na história dos raios X. Os primeiros número de abril do The Archives of Clinical Skiagraphy mostrava imagens do esqueleto humano, de animais marinhos[8], de plantas e até do primeiro filme do movimento, feito com esquiagrafias da perna de uma rã obtido por John Macintyre de Glasgow[9]. O número de julho apresentava a primeira radiografia de corpo inteiro realizada com uma só exposição por Willikam Moiton de Nova Iorque.
No ano de 1897, houve uma corrida para a compra de tubos de Crookes e esgotaram-se os estoques (ainda não existiam fábricas para a venda de aparelhos completos de raios e os usuários deviam comprar em  separado cada item do equipamento). Nos Estados Unidos a g/enerral electric publicou um catálogo com as peças para montagem de um aparelho de raios X. Na Europa, apareceram anúncios de venda de “kits” para qualquer pessoa montar seu equipamento e começar a gerar esquiagrafias. Esses fatos levaram, até as primeiras décadas do século XX, ao aparecimento de estúdios fotográficos onde as radiografias eram realizadas indiscriminadamente. A pletora de imagens e experiências aconteceu porque grande parte dos laboratórios das Universidades dispunha dos equipamentos mínimos para repetir as experiências de Roentgen. Nos primeiros tempos, os médicos indicavam radiografias, e os pacientes eram encaminhados para físicos que as realizassem, mas logo alguns médicos aprenderam a técnica necessária e eles mesmos passaram a realizar os exames.
. Foi assim que, além de uso médico, os raios X se tornaram motivos de curiosidades. Houve estúdios fotográficos que faziam radiografias das mãos entrelaçadas de noivos para servir de suvenires, a fluoroscopia era atrativo em espetáculos, em feiras, em exposições comerciais, em festas beneficentes e por exemplo, numa festa para fins beneficente a arrecadação de fundos era feito com o pagamento do presentes, para apreciar o “espetáculo de Roentgen’, que consistia na fluoroscopia das mãos. Consta que um
O uso da radiografia foi proposto para muitos fins além do uso médico em diagnostico ou em pesquisas biológicas. Apareceram sugestões para o uso das radiografias no controle de contrabando, no exame de pacotes nos correios, na detecção de bombas explosivas, na distinção entre pedras preciosas e gemas falsificadas, no controle de soldas em metais e outras.

                            POSTAGENS ANTERIORES

HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNÓSTICO MÉDICO – ONDAS DE CHOQUE - RUÍDO E SOM - PERCUSSÃO E AUSCULTA.HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNOSTICO MÉDICO = ONDAS DE CHOQUE - PULSO E PRESSÃO ARTERIAL.HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNÓSTICO MÉDICO – ONDAS DE CHOQUE - RUÍDO E SOM - PERCUSSÃO E AUSCULTA.HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNOSTICO MÉDICO = ONDAS DE CHOQUE - PULSO E PRESSÃO ARTERIAL.HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNÓSTICO MÉDICO = ESPECTRO ELETROMAGNÉTICO – LUZ VISÍVEL – ENDOSCOPIA.Próxima Potagem:
HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNÓSTICO MÉDICO – ESPECTRO ELETROMAGNÉTICO = RAIOS X – SEGUNDA PARTE – REPERCUSSÃO – EVOLUÇÃO DOS TUBOS DE RAIOS X




[1] A pressão atmosférica ao nível do mar na temperatura de 250 é de 10+5 Pascais.
[2] As ampolas atuais de raios x têm vácuo quase perfeito equivalente a 10-5 Pascais.
[3] A grafia correta de Conrad é com “C” e não com “K”.
[4] As aplicações em indústria e outros setores da economia aconteceram já em fevereiro de 1896 como: o controlo de qualidade na produção de produtos metálicos, a detecção de documentos e pinturas fraudulentos, a inspeção do conteúdo de encomendas postais, o exame da integridade de canhões do exército durante a Primeira Guerra Mundial,a análise de pedras preciosas e de falsificações, o estudos das múmias,entre outras. A entrada de fato dos raio X na metalurgia aconteceu em 1924 com a criação do Laboratório do Instituto de Tecnologia de Massachussets
[5] A quinta edição da comunicação apresentava na capa a seguinte informação: “Esta monografia apareceu também em inglês, francês, italiano e russo”.
[6] Lord Kelvin, no dia 17 de Janeiro de 1896, enviou uma carta a Roentgen, na qual agradeceu a atenção pelo seu envio e o felicitou pela sua descoberta.
[7] Henry Dam descreve essa cabine em sua reportagem e conta  que esteve no seu interior quando viu a fluorescência produzida pela radiação.
[8] O “Archives of the Röentgen Ray”, em 1897, publicou um suplemento dedicado exclusivamente à Biologia Marinha, com trinta e seis radiografias de animais marinhos existentes na costa Inglesa
[9] Esse filme foi apresentado por Macintyre em uma reunião da Royal Society em junho de 1897.