Prof. Dr. João
Eduardo Irion
ALGUMAS
PRIMEIRAS RADIOGRAFIAS MÉDICAS
A
descoberta de Roentgen foi rapidamente confirmada em muitos laboratórios que
dispunham de equipamentos necessários para repetir suas experiências e
verificar a descoberta dos raios X.
Campbel
Swinton fez a primeira radiografia no Reino Unido, em 7 de janeiro de 1896.
Logo depois, em 12 de janeiro, John Edwards, em Birmingham, usou uma
radiografia para retirar uma agulha da mão de um cliente, e, em fevereiro,
Ratcliffe, em Manchester, radiografou o pé de uma bailarina onde estava cravada
uma agulha e conservou essa radiografia em sua escrivaninha até morrer.
A
revista Lancet publicou em 23 de janeiro de 1896 a notícia da localização, por
meio de radiografias feitas pelo Dr. Rudolph Albert von Kölliker, de um pedaço
de faca nas costas de um marinheiro bêbado. Em abril, o Dr. Nelson, na
Inglaterra, localizou por meio de uma radiografia uma bala no crânio de um
paciente. A primeira radiografia médica nos Estados Unidos foi feita pelo Dr.Edwin
Brant Frost para diagnosticar uma fratura de Colles.
A
primeira radiografia odontológica foi obtida cerca de duas semanas após a
publicação da primeira comunicação de Roentgen pelo Dr. Otto Walkhoff na
Alemanha. Ele improvisou um filme e obteve a radiografia após uma exposição de
25 minutos. Em abril de 1896, C. Edmund Kells tornou-se o primeiro dentista a
fazer radiografia dentária nos Estados Unidos e o primeiro, naquele país, a ter
um aparelho de raios X no seu consultório.
A HISTÓRIA DA CHEGADA DOS RAIOS X NO BRASIL
No
Brasil, o reflexo da descoberta dos raios X apareceu em 5 de novembro de 1896.
Nessa data o Dr. Adolpho Carlos Lindenberg, natural do Estado do Rio de Janeiro,
apresentou o trabalho intitulado “Dos Raios X no ponto de vista
Médico-cirúrgico”. O trabalho teve o subtítulo: “These apresentada à
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, por para obter o grau de Doutor em
Medicina”. Na dissertação, o autor relata que a primeira radiografia feita
no Brasil foi de autoria do Dr. Francisco Pereira Neves, do Rio de Janeiro.
Álvaro Alvim foi o
primeiro a radiografar, em 1897, um caso de xipófagas, identificando os órgãos
de cada uma delas.
O
primeiro aparelho de raios X da América Latina chegou ao Brasil, na cidade de
Formiga no Estado de Minas Gerias em 1898, enviado por Roentgen para o médico
Dr. José Carlos Ferreira Pires. Com o aparelho, o Dr. José Carlos fez e
primeira radiografia da mão de um de seus clientes. Ele também elaborou vários
trabalhos sobre o uso de raios X em medicina.
Na
década de 50, o aparelho do Dr. José Carlos foi exposto no Departamento de
Radiologia da Associação Médica de Minas Gerais e depois disso o equipamento
foi enviado para os Estados Unidos porque as Autoridades Governamentais
Brasileiras não se interessaram por conservá-lo. Esse aparelho se encontra hoje
no International Museum of Surgical Sciences em Chicago.
HISTÓRIAS
DENTRO DA HISTÓRIA
Logo após a descoberta dos raios-X, embora fosse
evidente a utilidade dos novos raios em medicina, prevaleceu a ideia de que a
Radiologia limitava-se ao procedimento fotográfico, com campo de aplicação
restrito à detecção de fraturas. De um modo geral, o Médico Radiologista era
visto apenas como um médico com a capacidade técnica de produzir uma
radiografia de boa qualidade, para que o clínico ou o cirurgião pudesse
interpretá-la. Só lentamente é que se foi valorizando a importância da
experiência do radiologista na interpretação das radiografias.
No início, as radiografias
(ou isquiagrafias) visaram o exame do esqueleto graças ao contraste natural
entre ossos e partes moles. O baixo rendimento, a produção irregular dos raios
X (como veremos adiante) e o baixo poder de penetração da radiação gerada nos
tubos de Crookes exigiam tempo de exposição entre 30 e 40 minutos para radiografar,
ainda que de forma precária, estruturas com pouca espessura, tais como os pés
ou as mãos. Esses fatores pareciam limitar o uso dos raios X ao exame de traumatismo
ou na localização de corpos estranhos nos membros ou nessa região e dos corpos
de adultos onde houvesse pouca espessura, ou na localização de corpos estranhos
no tubo digestivo de crianças..
Naquela época, os céticos
consideravam o uso de raios X limitado à cirurgia de extremidades, porém, imediatamente,
outros médicos e físicos, animados com espírito de pesquisa, superaram
obstáculos tecnológicos e biológicos, criando histórias paralelas que se
seguiram à descoberta dos raios X. São essas histórias que contam como eles
melhoraram a qualidade dos tubos, dos écrans e dos filmes, como reduziram o
tempo de exposição na tomada de radiografias e como criaram dispositivos para
melhorar a qualidade das imagens. Foram eles que, sob o ponto de vista
biológico, ampliaram o uso médico dos raios X e expandiram o uso da radiologia
para as partes moles e para o estudo de órgãos com o uso de contrastes
artificiais. Foram eles que criaram métodos de proteção ao operador e do
paciente.
Além da descoberta dos
raios, as histórias de cada aperfeiçoamento, de cada técnica ou avanço compõem
as bases da história da radiologia como nova e especialidade médica e que, por
suas importâncias, são indispensáveis nesta e nas postagens seguintes deste
relato.
Depois das primeiras imagens de uso médico no
início de 1896, os médicos começaram a melhorar as precárias imagens produzidas
pelos tubos de raios X comparando aos que foram os usados por Roentgen. Como
eles avançaram na física, na química, na farmacologia, na ciência nuclear, na computação,
na telemetria e na ciência da informação é a história de um século da
radiologia médica.
HISTÓRIA DO USO DOS RAIOS X NA GUERRA
O uso dos raios X na guerra foi imediato. Na Guerra da
Itália com a Abissínia em 1896, os médicos do exército italiano foram os
primeiros a usar raios X para examinar feridos da batalha de Adwa que voltaram
à Itália.
As primeiras radiografias no exército Britânico foram feitas
no Royal Victoria Hospital em Netley perto de Southampton, em novembro de 1896,
e, no ano de 1898, equipamentos portáteis foram enviados para Aldershot,
Woolwich, Dublin e Gibraltar
O primeiro uso dos raios X em frente de combate
ocorreram durante a Guerra Grego-Turca em 1897, quando a Cruz Vermelha Britânica,
para ajudar os gregos, criou duas unidades hospitalares munidas de aparelhos de
raios X. O uso dos aparelhos era responsabilidade do cirurgião F C Abbott, do St.
Thomas’s Hospital de Londres e o operador dos aparelhos foi Robert Fox Symons
(mais tarde Sir Robert).
Em seis semanas eles atenderam 114 feridos e fizeram
entre cinquenta e sessenta radiografias, demonstrando ser possível obter boas imagens
em hospitais de frente de batalha, desde que
fossem superados problemas como o transporte em segurança do
equipamento. A maior dificuldade foi recarregar as baterias usadas para produzir
a energia e o problema foi solucionado com o uso dos geradores do navio de
guerra HMS Rodney.
Uma equipe rival da Cruz Vermelha Alemã usou com
sucesso aparelhos de raios x para auxiliar os turcos, mas teve que enfrentar
problemas idênticos com as baterias e dizem que as baterias eram recarregadas
com bicicletas movendo geradores elétricos.
O primeiro uso dos raios X por tropas britânicas de uma
guerra dos ingleses ocorreu em 1857, no campo de batalha. Esse fato aconteceu quando
um “aparelho” foi enviado para a fronteira Noroeste, entre a Índia e o Afeganistão,
onde o exército britânico combateu uma revolta das tribos locais. Nessa ocasião,
os tubos de raios x eram transportados encaixotados e conduzidos por
carregadores hindus para vencer o terreno acidentado. Além do transporte havia
duas outras dificuldades a vencer: uma era a recarga das baterias e outra era
enviar sem que as condições climáticas de temperatura e umidade derretessem a
camada de gelatina sensível dos papéis radiográficos que eram utilizados
durante essa campanha militar.
Nessa campanha, o General Wodehouse foi ferido durante
um intenso fogo dos rebeldes e uma radiografia demonstrou um fragmento de bala
na musculatura de sua coxa. Essa imagem demonstrou a importância do papel dos
raios x como ferramenta na cirurgia militar.
Os aparelhos de raios X
também foram usados na expedição do General (mais tarde Lord) Kitchener enviada
para reconquistar o Sudão e vingar a morte, em 1885, de Gordon em Cartum.
O destaque do uso dos
raios x na primeira guerra mundial cabe ao espírito humanístico de Marie Curie
e sua filha Irène que organizaram na linha de frente, duzentas unidades fixas
de raios X e montaram, em viaturas militares, vinte unidades móveis, que
passaram a ser conhecidas como “Petit Curie” para atender os feridos na linha
de frente. As duas cientistas estudaram a radiologia da época para elas mesmas
operarem os equipamentos e para treinarem enfermeiros para operar as demais
unidades.
Veremos, em postagens
futuras, que o uso de raios X na guerra para localizar projéteis e corpos
estranhos em feridos, foi um estimulo indireto à esteroradioscopia,
estereoradiografia e culminou com a
invenção da tomografia linear.
EVOLUÇÃO
DOS TUBOS DE RAIOS X
Roentgen usou um tubo de Crookes em forma de pera para fazer a
radiografia da mão de sua mulher Anna Bertha e a radiografia da mão de
Kölliker. Esses tubos não tinham um foco como origem da radiação Os raios eram
produzidos pelo vidro da ampola na área onde aparecia a fluorescência, isto é,
numa extensa área na extremidade oposta ao cátodo.
A extensão da área onde se originavam os raios tinha, como conseqüência,
uma imagem de baixa nitidez devido à grande penumbra que era produzida. Ainda
mais, a qualidade da imagem também era prejudicada pelo longo tempo de
exposição (uma radiografia da mão exigia mais de 20 minutos de exposição) que
exigia uma prolongada e incômoda imobilização do paciente. A primeira solução
para melhorar a nitidez foi blindar, no
tubo, a área de produção de raios com uma lâmina de chumbo e dotá-la de uma
pequena abertura para atuar como um pequeno foco, com a desvantagem de
prolongar ainda mais os tempos de exposição. Esses fatores técnicos limitavam o
uso de radiografias no exame de estruturas pouco espessas e tendiam a estimular
o uso da fluoroscopia,[1] em
detrimento da radiografia[2].
No ano de 1896, as pesquisas constataram que a forma dos tubos não importava
e os tubos em forma de pera foram substituídos por tubos esféricos. Nesse ano,
o Professor Herbert Jackson inventou os chamados “tubos focos”, utilizando a
ideia já usada por Crookes. Esses tubos têm o cátodo côncavo para dirigir os
raios catódios em um pequeno ponto focal em um alvo interposto à trajetória dos
elétrons, chamado anticátodo, e não mais no vidro da ampla. Com a redução do
tamanho do foco esses tubos produziam imagens mais nítidas, isto é, com menor
penumbra.
Crookes demonstrara o aquecimento nos locais de choque dos raios cátodos.
Hoje se sabe que 99% da energia cinética dos raios cátodos se converte em calor
e apenas 1% dessa energia se transforma em raios X, e a conseqüência é o
aquecimento no foco (o anticátodo), exigindo que ele seja construído com metais
com alto ponto de fusão para resistir ao calor.
Outro fator importante na construção do anticátodo é o peso atômico dos
metais usados, pois o rendimento do tubo, isto é, a conversão da energia
cinética dos raios catodios em raios X é diretamente proporcional ao peso
atômico do material no alvo.
Naquela época, o melhor metal então disponível para satisfazer essas duas
qualidades era a platina, porque o tungstênio, que é o metal de alto peso
atômico e entre os metais é o que tem o maior ponto de fusão (34100C),
não podia ser usado porque, na época, não exista a tecnologia da metalurgia
própria para ele. O tungstênio só foi usado depois de 1913 quando Coolidge
desenvolveu a metalurgia desse metal. Por essas razões, os anticátodos eram
construídos com uma placa delgada de platina sobre num suporte de níquel, como
medida de economia devido o alto custo da platina.
Para aumentar a resistência dos anticátodos ao calor apareceram várias
soluções, como, por exemplo, o anticátodo construído num bloco volumoso de
metal e ligado a uma haste que, fora do tubo, dispunha de irradiador para
dispersar o calor. Em outros tubos o anticátodo era refrigerado com água.O
primeiro tubo com ándo refrigerado à água foi patenteado pela Philips em 1899.
Para reduzir o tamanho do foco, mas sem diminuir o tamanho do anticátodo,
Carl Müller propôs a focagem linear, que usa anticátodo em forma de bisel, com
inclinação de 45% na área de choque dos elétrons. Nesse caso, a inclinação da
zona de impacto dos elétrons reduz o tamanho do foco emissor de raios X a um
quadrado igual à largura da faixa de elétrons incidente.
As ampolas do tipo Crookes são classificadas como “tubos iônicos”, “tubos
de gás” ou “tubos de cátodos frios” para distingui-las das “ampolas
termiônicas’ ou “ampolas de cátodos quentes” que são os tubos de raios X hoje
usados na radiologia”.
Até os anos 20 do século XX, o rendimento dos tubos iônicos era problema
sem solução. Nos tubos a gás, o complexo “raios cátodos / raios X” depende da
quantidade do gás residual (sem o gás residual a ampola não funciona). A
ionização produzida pela alta tensão entre os eletródios origina íons positivos
que são atraídos pelo cátodo onde se chocam e liberam os elétrons que passam a
compor o feixe de raios catodios.
O rendimento de um tubo é avaliado pela quantidade produzida de raios X,
enquanto a qualidade dos raios X é medida pelo poder de penetração da radiação.
No tubos a gás, o rendimento é proporcional à pressão do gás residual e o poder
de penetração é proporcional à tensão entre os eletródios. Em outras palavras,
quanto menor a quantidade de gás, menor o rendimento do tubo, e tanto maior é a
tensão exigida e, portanto, maior é o poder de penetração dos raios X obtidos.
O rendimento dos tubos a gás é errático porque, durante o funcionamento,
as moléculas de gás são progressivamente absorvidas pelo vidro do tubo e com
isso cresce o vácuo, consequentemente é exigida maior voltagem entre os
eletródios. Diz-se então que a ampola se torna “dura” e a sua operação fica
mais difícil.
Para manter a pressão do gás em valores constantes foram inventados
diversos dispositivos reguladores. Em 1896, Henry Lya Saÿen, nos Estados Unidos,
desenhou o primeiro tubo com regulação de vácuo e logo diversos tubos desse
tipo foram comercializados nesse país e na Europa. Esses tubos tinham uma
ampola acessória contendo clorato de potássio que vaporizava quando aquecido,
diminuindo o vácuo. Outros tubos usavam diferentes substâncias com o mesmo fim.
Em 1889, apareceu em Paris o tubo com regulador automático de vácuo,
chamado de regulador osmótico, criado pelo Professor Villard. Esse tubo usava a
propriedade do paládio o qual, quando aquecido até a incandescência, permite a
passagem de hidrogênio. O tubo de regulação osmótica tinha a ele adicionado uma
ampola de paládio. O tubo era “amaciado” pelo aquecimento do paládio com uma
chama de gás para permitir a entrada de hidrogênio no aparelho.
Outras ampolas com diferentes tipos de reguladores automáticos da pressão
tinham, acrescidos ao tubo principal, outra pequena ampola contendo substâncias
que absorvem gás, como o carbono e a mica e que o liberavam quando eram
aquecidas.
A busca de tubos com rendimento maior e estável pode ser avaliada pelo
fato de que, em 1901, a British Roentgen
Society promoveu um concurso para escolher o melhor tubo. Concorreram
vinte e oito tubos e o vencedor foi um tubo de origem alemã.
O fato mais importante no
desenvolvimento de ampolas de raios X foi a invenção em 1913, por Willian David
Coolidge, da ampola termoiônica. Coolidge era um inventor notável que
trabalhava com Thomaz Alva Edson. Nos seus 81 anos de vida obteve patente de 83
invenções suas.
Para desenvolver a nova ampola com
um ánodo resistente ao calor, ele pesquisou metais com alto ponto de fusão,
concluindo que o tungstênio era o metal ideal por sua dureza e resistência às
altas temperaturas. Ele então desenvolveu a tecnologia da metalurgia desse
metal para usá-lo na ampola que projetara.
A ampola de Coolidge, como passou
ser conhecida, é totalmente diferente da ampola de Crookes. Na primeira, o
vácuo é quase perfeito, e, como não existe gás residual a fonte de elétrons vem
de um cátodo formado por um filamento de tungstênio enrolado em espiral que é
aquecido por uma corrente elétrica controlável. Com esse filamento aquecido,
Coolidge obteve elétrons pelo “Efeito
Edson” como fonte de raios catódios. Dessa forma, a produção de elétrons e,
consequentemente, o rendimento do tubo passou a ser controlado pela variação da
intensidade da corrente elétrica que produz o aquecimento do filamento. Outra
diferença entre as duas ampolas é que não tubo termoiônico desapareceu o
anticátodo, cuja função passou a ser desempenhada pelo ánodo, também construído
com tungstênio. Foi assim que Coolidge criou um tubo de raios X de rendimento
controlável, estável e mensurável.
As primeiras ampolas de Coolidge
tinham um ánodo fixo e cortado em bisel num ângulo de 45º, depois com o ângulo
de corte passou para 19º. Inicialmente, as ampolas de maior rendimento eram
refrigeradas por um radiador externo e, mais tarde, quando as ampolas passaram
a ser fabricadas com ánodos giratórios, a refrigeração externa foi dispensada.
Por muitos anos, as ampolas de
uso médico foram fabricadas com dois focos (o foco fino e o foco grosso), e
hoje existem ampolas com três focos, com o acréscimo do foco extrafino para com
ele se adquirir radiografias ampliadas. Nos aparelhos odontológicos, são usadas
ampolas com foco único.
Em meados de 1920, a Philips lançou
o tubo “Metalix” criado por Albert Bouwers no qual a produção de raios-X
ocorria no interior de uma câmara metálica e. assim, a radiação proveniente do
tubo era blindada, permitindo somente a saída do feixe principal de raios-X por
uma janela de vidro.
Outro desenvolvimento que
aumentou o rendimento dessas ampolas aconteceu em 1946, quando a Philips lançou
o tubo “Rotalix” com um ânodo giratório por meio do qual a rotação do ánodo dissipa o calor e permite aumentar
a tensão aplicada nos tubos de uso em medicina para 125 KV.
A FLUOROSCOPIA
OU RADIOSCOPIA
O princípio da fluoroscopia
foi estabelecido por Roentgen na descoberta dos raios X e ele assim o definiu:
“se a mão for posta entre o tubo coberto
e o écran, as sombras escuras dos ossos são vistas dentro da sombra menos
escura da própria mão”.
A descoberta dos raios X
levou diretamente ao uso da fluoroscopia porque exigia apenas um écran
fluorescente num ambiente escuro, desde que o olho do operador se adaptasse à
escuridão. Foi Trendelemburg que sugeriu o uso de óculos vermelhos para essa
adaptação. A fluoroscopia evoluiu de uma simples tela sustentada nas mãos para
o criptoscópio de Salvioni, o fluoroscópio de Edson, o seriógrafo e, finalmente,
para o intensificador de imagens.
O primeiro dispositivo
para a fluoroscopia foi apresentado, algumas semanas depois da descoberta dos
raios X, pelo Professor Enrico Salvioni à Sociedade Médica e Cirúrgica de Perúgia
com o nome de criptoscópio. O dispositivo fundamentava-se nas propriedades
fluorescentes do platino cianeto de bário sob ação da radiação. A ele seguiram-se outras experiências
similares que eram, em geral, utilizadas apenas em demonstrações realizadas em
conferência com o fim de evidenciar a presença dos raios.
Atribui-se a Edson o
mérito de inventar um dispositivo realmente prático para a realização de
fluoroscopia em ambiente iluminado. Ele chamou sua invenção de fluoroscópio.
Assim que soube da
descoberta dos raios X, Edson iniciou, em seu laboratório em New Jersey, a
procura de cristais que produzissem fluorescência mais intensa que a fornecida
pelo platinocianento de bário utilizado por Roentgen na descoberta dos raios X.
Edson encarregou seus
auxiliares de investigar 8.500 substâncias das quais 1800 eram fluorescentes,
entre essas foram selecionadas as 72 melhores e a preferência recaiu sobre o
tungastato de cálcio.
Edson enviou um telegrama
por cabo para Lorde Kelvin informando que “precisamente
os cristais de tungstato de cálcio dão uma excelente fluorescência com os raios
X, superando o platinocianeto de bário, fazendo a fotografia dispensável”. O
final do telegrama contém um exagero que não se confirmou, pois a fluoroscopia
não substituiu a radiografia.
O fluoroscópio de Edson
era uma caixa de madeira em forma de tronco de pirâmide com base quadrangular. Na parte interna da base
existia um écran fluorescente. O ápice da pirâmide era truncado, tinha tamanho
suficiente para acomodar os olhos do observador. Essa abertura era revestida
com feltro para se ajustar à face do observador e impedir entrada de luz. Assim
a fluoroscopia podia ser realizada mesmo em ambiente iluminado.
O fluoroscópio de Edson[3]
foi comercializado até que, em 1904, o seu funcionário e assistente, o Sr. Dolly,
que era encarregado de experimentar cada fluoroscópio fabricado, morreu por ação
da radiação a qual se submetia durante sua tarefa.
O SERIÓGRAFO
A partir da década de 50,
os aparelhos de raios X passaram a ter uma mesa para acomodar o paciente na qual
estava acoplado o seriógrafo. Esse era um dispositivo dotado de um écran
fluorescente e estruturado para permitir a aquisição em sucessão de
radiografias (daí o nome). O seriógrafo era usado para aquisição em sequências
rápidas de radiografias, especialmente no exame do tubo digestivo.
OS
INTENSIFICADORES DE IMAGENS
O avanço principal da
fluoroscopia aconteceu com a criação do intensificado de imagem cuja patente
foi registrada, entre 1936 e 1937, por Irving Langmuir. Numa reunião da
Sociedade Norte-americana de Radiologia em 1941, o Dr. W. Edward Chamberlain da
Temple University propôs a substituição dos écrans de fluoroscopia por
dispositivos de intensificação de imagens como os que já eram usadas no
microscópio eletrônico e na televisão.
O intesificador de imagem é um dispositivo
eletrônico composto por um tubo de vidro com vácuo, contendo na face que fica
voltada para a fonte de raios X uma tela de cristais fluorescente de iodeto de
césio, que absorve cerca de 60% da energia dos raios-X incidentes e a
trasnforma em luz visível. Sobre essa tela existe outra de césio-antimônio que,
pelo efeito fotoelétrico, converte os fótons de luz em elétrons. Os elétrons
são acelerados em direção a uma tela de saída, feita de sulfêto de
zinco-cádmio, ativado com prata, que convertem o fluxo de elétrons novamente em
luz. O operador observa a tela de saída
ampliada por um cojnuto de lentes. A tela de entrada emite cerca de 400 fótons
de luz para cada fóton de raio-X incidente, e a aceleração dos elétrons faz a
tela de saída emitir aproximadamente 400 000 fótons de luz. O aparelho tem um
ganho é da ordem de 5000 a 10 000.
O equipamento permite a fluoroscopia em ambiente
iluminado, reduz a dose de exposição aos raios que recebem médicos e pacientes,
permite gravação de imagens em video e filmes e também, com o uso uma câmara as
televisão as transmite para um m monitor para ser interpretada por mais de um
obervador.
A Segunda Guerra Mundial
atrazou o lançamento dos intensificadores de imagens. Em 1951, a Philips
lançou, na Europa, o primeiro intensificador de imagens com tela de 5 polegadas
e, logo depois, no mesmo ano, a Westighousen fez o lançamento de seu aparelho
nos Estados Unidos. Mais tarde os intensificadores passaram a ter telas de
entrada de 22 polegadas e se tornou possível o exame de extensa pare do corpo
humano.
Com os intensificadores a
fluoroscopia no escuro se tornou coisa do passado.
A ABREUGRAFIA
Em todos trabalhos
sobre história da radiologia pesquisados na Internet, este autor não encontrou
menção sobre a abreugrafia (salvo na Weekpedia). A abreugrafia foi o processo
de fotografia do écran fluorescente inventado pelo médico brasileiro Manuel
Dias de Abreu e, portanto, como está relacionada com a fluoroscopia consta
deste capítulo.
A abreugraia foi
um procedimento de baixo custo que se tornoou decisivo no controle da
tuberculose, a conhecida peste branca, que no século XIX foi responsável por
25% dos óbitos na Europa e, na França em 1918, respondeu por uma em cada seis
mortes.
Manuel Dias de
Abreu nasceu no Estado de São Paulo em 4 de janeiro de 1894. Formou-se médico
na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1913. Em 1915, foi para a França
onde trabalhou no Nouvel Hôpital de la Pitié, no Laboratório Central de
Radiologia e no Hosital Laennerc e depois chefiou o serviço de raios X do
hospital Hôtel-Dieu. Ele escreveu livros sobre radiologia e sobre a
tuberculose. Ainda na França, Manuel de Abreu se interessou em criar um método
para fotografar o écran e conseguir um processo barato de registro da imagem
radiológica, para utilizá-lo na prospecção em massa da tuberculose.
Na França, em
1919, fez a primeira tentativa no sentido da fotografar o écran sem obter
sucesso por motivos tecnológicos da época, tais como o fraco brilho dos écrans
de platino cianeto de bário nas radioscopias, a qualidade dos filmes
fotográficos e a sensibilidade das máquinas fotográficas disponíveis na época.
Em 1924, de volta
ao Brasil, fez no Rio de Janeiro a segunda tentativa, também sem sucesso,
usando o mesmo tipo de écran. Em 1933, Manuel, também no Rio de Janeiro fez sua
terceira tentativa usando écran de sulfeto de cádmio e zinco, sem obter
sucesso.
Abreu não desistiu e com
isso o sucesso veio em 1937 quando, em suas experiências, usou écran de tungstafo de cálcio. A partir daí, com auxílio
da Casa Lohner, montou o primeiro aparelho de abreugrafia usando filme
fotográfico de 35 mm (mais tarde foram montados aparelhos com uso de filmes de
40 mm).
O primeiro
equipamento para uso em massa da população foi montado por Manuel de Abreu no
Centro de Saude n°3, na rua Rezende 128, na cidade do Rio de Janeiro. Nesse
local, no mesmo ano, foi inaugurado o primeiro Serviço de Cadastro Torácico.
Entre 8 e 21 de julho desse ano, foram examinados 759 indivíduos dos quais 44
apresentaram lesões pulmonares detectadas pela abreugrafia
Manuel chomou seu
método de “roentgenfotografia”. Em
1936, no I Congresso Nacional de Tuberculose, realizado no Rio de Janeiro, a
Sociedade de Medcina e Cirurgira aprovou por unanimidade o nome de “abreugrafia”
para o método. Esse nome não foi usado em outros países, assim o exame foi
chamado de “radiografia de massa”, ou
de “miniatura de radiografia toracica”
no Reino Unido e nos Estados Undidos, “roentegenfluorografia”
na Alemanha, “radiofotografia” na França,
“esquermografia” na Itália, “fotoradioscopia” na Espanha e “fotofluorografia” na Suécia.
A importância da
abreugrafia em especial no combate à tuberculose no Brasil se destaca pela
criação da Sociedade Brasileira de Abreugrafia em 1957 e pela publicação da Revisa
Brasileira de Abreugrafia.
A abreugrafia
deixou de ser usada no Brasil em 1999, depois que os programas de saúde e o uso
de antibiótico fizeram decrescer a incidência da tuberculose no país.
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HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNÓSTICO MÉDICO – ESPECTRO
ELETROMAGNÉTICO = RAIOS X
HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNÓSTICO MÉDICO – ESPECTRO
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MÉDICO - A HISTÓRIA DOS FILMES RADIOGRÁFICOS- A HISTÓRIAS DA REVELAÇÃO DOS
FILMES RADIOGRÁFICOS – A HISTÓRIA DOS ÉCRANS REFORÇADORES
Conteúdo muito rico, e me ajudou muito.
ResponderExcluirParabéns!