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quarta-feira, 10 de julho de 2013

HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES NO DIAGNÓSTICO MÉDICO - ONDAS DE CHOQUE - RUIDO E SOM - PERCUSSÃO E AUSCULTA

Prof. Dr. João Eduardo Irion

INTRODUÇÃO

A história do som na medicina também se perde no tempo porque a ausculta dos órgãos internos era conhecida na antiguidade, e uma das primeiras referências do uso do som na medicina se deve a Hipócrates que, em sua obra “De Morbis”, (400 a.C.), refere-se à ausculta dizendo: “se você escutar colocando o ouvido no peito...”
Mais recentemente a história registra as palavras proféticas do cientista inglês Robert Hooke (1653-1703) quando antevê a importância da ausculta na medicina: "... eu fui capaz de ouvir claramente o batimento do coração humano... quem sabe, pelos sons que os movimentos dos órgãos internos fazem, possamos descobrir as tarefas efetuadas em vários escritórios e lojas do corpo humano, e daí reconhecer que instrumento ou máquina está com defeito.
A clínica médica moderna começou a se estruturar na França no século XIX, graças ao trabalho de três médicos que vou chamar “trio de ouro”, formado por Corvisart que fundamentou a clínica médica, Laënnec que modificou a ausculta criando o estetoscópio e Auenbrugger o criador da percussão no exame físico do paciente.
Jean Nicolas Corvisart (1755-1821) nasceu em Dricurt, França e era filho de uma família tradicional. Seu pai, procurador da coroa, queria que se dedicasse à advocacia e lhe cortou o sustento quando Jean começou estudar medicina. Corvisart trabalhou como bedel de anatomia e também como vendedor de livros para custear seus estudos. Titulou-se médico antes de completar 18 anos, em 14 de novembro de 1782. Ao procurar trabalho como médico no Hôpital de Paroisses (Hospital s Paróquias), fundado pela Sra. Necker, esposa do Ministro das Finanças de Louis XVI, não foi aceito porque se recusou a usar peruca durante o trabalho. Contentou-se, então, a trabalhar em Saint Sulpice. Com sua grade capacidade de trabalho e seu poder de observação, tornou-se professor e mais tarde ganhou a confiança de Napoleão Bonaparte, tornando-se seu médico. Napoleão dizia: “eu não acredito na medicina, mas acredito em Corvisart”.
Corvisart estruturou a clínica médica e publicou livros de sua autoria. Entre eles: Aphorismes sur la consaissance et le caractère des fievres”, 1797 “Éloge de Debois de Rochefort”, 1789, “Essai sur les maladies et les lésions organiques du couer et des gros vaisseaux”, editado em 1806 e traduzido para várias línguas.
Ele traduziu para o francês e publicou o livro de Leopold Auenbrugger sobre percussão, cujo original fora escrito em latim e introduziu a percussão no exame clínico do paciente. A tradução recebeu o título “Nouvelle méthode pour reconnâitre lês maladies internes de la poitrine par la percussion de cette cavité”, 1808.
Corvisart foi professor de médicos que se destacaram na história da Medicina, entre eles Laënec, Dupuitren e Bicha.

A PERCUSSÃO

A percussão foi um método médico usando o som para o exame físico criado pelo médico, músico e compositor Josef Leopold Auenbrugger von Auenbrugg (1.722-1.809), nascido em Graz, na Áustria.
Auenbrugger trabalhou, sem remuneração, como médico no Hospital Militar de Viena onde, lembrando que seu pai percutia os barris para ver o nível do vinho remanescente e usando seus conhecimentos musicais, desenvolveu a técnica de percussão. Em 1761, Auenbrugger publicou seu trabalho num opúsculo em latim com o título “Inventum novum ex percussione thoracis humani ut signo abstrusos interni pectoris morbos detegendi”. O livro, por estar escrito em latim, não teve muita divulgação, embora muitos médicos passassem a utilizar a percussão na prática clínica. Somente depois que Corvisart publicou o livro traduzido para o francês, a percussão entrou definitivamente na prática clínica.

A AUSCULTA E O ESTETOSCÓPIO

A ausculta direta, realizada encostando-se o ouvido no corpo do paciente já estava consagrada na prática clínica no século XIX, mas deu lugar à ausculta indireta nos meados do Século XIX depois da invenção do estetoscópio.
O inventor do estetoscópio foi o médico francês de origem céltica nascido na cidade de Quimper em 17 de fevereiro de 1781e falecido em 13 de agosto de 1826 que, no batismo, recebeu o nome de René, em homenagem ao pai, Téophile em homenagem ao avô, Hyacinthe em homenagem à tia-avó. René, de origem bretão, tinha o sobrenome de Laënnec, palavra que profeticamente significa “pessoa instruída”. Aos cinco anos, o menino René Théophile ficou órfão e foi morar com seu tio Guilhaume, o Reitor da Faculdade de Medicina da Universidade de Nantes, onde estudou medicina tendo Corvisart como um de seus mestres.
A ausculta direta tinha inconveniente – na classe alta era dificultada pelo pudor que impedia que as mulheres tirassem as roupas e na classe baixa era repugnante para o médico no hospital encostar o ouvido no tórax de pessoa que não tomava banho. Segundo Laënnec “... a ausculta direta de encostar o ouvido no tórax é desconfortável, tanto para o medico como para o paciente e provoca repugnância que torna impraticável no hospital. É inconveniente no exame de mulheres devido ao obstáculo físico que as mamas podem representar...”
A invenção do estetoscópio ocorreu quando Laënnec precisou atender uma senhora obesa em trabalho de parto. Ele narra assim o episódio:... “neste ano de 1816 eu fui procurado por uma jovem senhora em trabalho de parto com sintomas de cardiopatia. A possibilidade de percussão e ausculta cardíaca estava prejudicada pelo grau de obesidade. Tive uma ideia. Ocorreu-me que um som se amplifica quando transmitido através de um sólido. Lembrei-me que as crianças costumam arranhar com um alfinete uma das extremidades de um pedaço de madeira e ouvir o ruído nitidamente transmitido na outra. Imediatamente enrolei folhas de papel em forma de cilindro bem apertado, encostei uma ponta no tórax da gestante, me inclinei e apoiei o meu ouvido na outra. Pude perceber a ação do coração de uma maneira muito mais clara e distinta do que fora capaz até então pela ausculta direta.”
A partir da descoberta, Laënnec empenhou-se em aperfeiçoar o instrumento que batizou com o nome de “estetoscópio” palavra formada pelo ante-positivo grego “stethos” que significa peito e pelo pós-positivo grego “scopein” cujo significado é exame.
O primeiro estetoscópio criado por Laënnec era um cilindro de madeira com 33 cm de comprimento por 5 cm de diâmetro. No aparelho original, o cilindro estava dividido em duas partes para serem acopladas quando em uso a fim de “facilitar seu transporte” como ele mesmo declarou.
Laënec publicou sua experiência num livro com um título longo: “De L’Auscultation Médiate ou Traité du Diagnostic des Maladies des poumons et du coeur, fondé principalement sur ce nouveau moyen d’exploration”. Par R.T.H. Laënnec, D.M.P., Médecin de l’Hôspital Necker, Médecin honoraire des Dispensaires, Membre de la Société de la Faculté de Médecine de Paris et de plusieurs autres sociétés nationales. Pouvoir explorer est, à mon vis, une grande partie de l’art”.
No livro, havia um capítulo com instruções para a construção de um estetoscópio e vendia um estetoscópio com um acréscimo de 2.500 Francos.
O estetoscópio se tornou, além um instrumento médico, um símbolo que identifica os médicos.
A cronologia temporal da evolução do estetoscópio é a seguinte:

MODELO MONOAURICULAR:

1– O primeiro modelo criado por Laënnec compunha-se da anexação às extremidades uma peça torácica e outra auricular;
2- Em 1828, Pierre-Adolpho Piorry adelgaçou o tubo à espessura de um dedo e introduziu na extremidade torácica, uma peça em forma de tuba, e na auricular, uma oliva adaptável ao ouvido;
3- Em 1876, Pinard criou o modelo de metal monoauricular ainda em uso, para fins obstétricos.

MODELO BIAURICULAR

1 – A invenção do modelo bi-auricular é incerta
2 – Em 1885, George P. Cammann inovou ao construir o tubo com material flexível
3 – Em 1937 William J. Kerr criou o estetoscópio diferencial, o simbalofone. Nesse, a conexão em Y não existe e foi substituída por duas peças torácicas e dois tubos distais em paralelo para a detecção da audição estereofônica.
4- A campânula original foi substituída por uma membrana
O museu do Instituto de Patologia das Forças Armadas em Washington possui uma coleção da maioria dos modelos construídos de estetoscópios, incluindo a réplica, tanto do cilindro de papel quanto do protótipo de madeira de Laënnec.

BIBLIOGRAFIA:

Sites consultados na internet em julho de 2013:
http://www.historiadelamedicina.org/corvisart.html
            www.pacs.unica.it/biblio/lesson7

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